Cardeal Gianfranco Ravasi*
O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
apresenta, em pré-publicação, um excerto da obra "O que é o Homem?
Sentimentos e laços humanos na Bíblia", do cardeal Gianfranco Ravasi,
presidente do Conselho Pontifício da Cultura.
O volume assinado pelo biblista italiano vai ser
lançado pelas Paulinas a 2 de maio, antecedendo a sua visita a Portugal,
no âmbito da peregrinação internacional ao Santuário de Fátima, a que
preside nos dias 12 e 13.
O livro, que integra a coleção "Poéticas do Viver
Crente", dirigida pelo padre José Tolentino Mendonça, é prefaciado pelo
cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.
Os rostos do amor
Propomos, antes de tudo, uma série de rostos ou
perfis do amor ao próximo, segundo os seus diversos traços. Ao comentar
a primeira carta de João, Santo Agostinho interrogava-se: «Que rosto
tem o amor? Que forma, que estatura, que pés, que mãos? [...] O amor
tem pés que o conduzem à Igreja, tem as mãos que dão aos pobres, tem os
olhos com que se descobre quem está em necessidade.» Portanto, há um
perfil muito variegado que corresponde à gama das dimensões da
caridade. Gostaríamos de elencar uma série de tipologias com as
respetivas figuras, confiando-nos a um só procedimento «impressionista»,
evocativo e intuitivo. A nossa lista recorrerá a um septenário, como a
um modelo simbólico de plenitude que, na realidade, compreende outras
possibilidades.
O amor eclesial
A Jerusalém dos Atos dos Apóstolos é a sua prefiguração ideal, com a escolha de pôr em comum os bens (2,42-45). O episódio de Ananias e Safira é a sua representação no negativo, com a relativa morte-excomunhão. Infelizmente, a vivíssima pequena cena pintada por Tiago, na sua carta, é uma amarga acusação, que nunca perde o seu valor provocatório de denúncia: «Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?» (2,15-16). «Suponhamos que entra na vossa assembleia um homem com anéis de ouro e bem trajado, e entra também um pobre muito mal vestido, e, dirigindo-vos ao que está magnificamente vestido, lhe dizeis: “Senta-te tu aqui, num bom lugar”, e dizeis ao pobre: “Tu, fica aí de pé”; ou “Sen ta-te no chão, abaixo do meu estrado.” Não é verdade que, então, fazeis distinções entre vós mesmos e julgais com critérios perversos?» (2,2-4).
Para dar outro exemplo de género diferente, pensamos no vínculo profundo entre pastor e fiel, que Paulo descreve frequentemente nas suas cartas. Eis as palavras que o apóstolo dirige aos cristãos de Tessalónica: «Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afetuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco, não só o Evangelho de Deus, mas a própria vida, tão queridos (agapetói) nos éreis» (1Ts 2,7-8).
A Jerusalém dos Atos dos Apóstolos é a sua prefiguração ideal, com a escolha de pôr em comum os bens (2,42-45). O episódio de Ananias e Safira é a sua representação no negativo, com a relativa morte-excomunhão. Infelizmente, a vivíssima pequena cena pintada por Tiago, na sua carta, é uma amarga acusação, que nunca perde o seu valor provocatório de denúncia: «Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?» (2,15-16). «Suponhamos que entra na vossa assembleia um homem com anéis de ouro e bem trajado, e entra também um pobre muito mal vestido, e, dirigindo-vos ao que está magnificamente vestido, lhe dizeis: “Senta-te tu aqui, num bom lugar”, e dizeis ao pobre: “Tu, fica aí de pé”; ou “Sen ta-te no chão, abaixo do meu estrado.” Não é verdade que, então, fazeis distinções entre vós mesmos e julgais com critérios perversos?» (2,2-4).
Para dar outro exemplo de género diferente, pensamos no vínculo profundo entre pastor e fiel, que Paulo descreve frequentemente nas suas cartas. Eis as palavras que o apóstolo dirige aos cristãos de Tessalónica: «Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afetuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco, não só o Evangelho de Deus, mas a própria vida, tão queridos (agapetói) nos éreis» (1Ts 2,7-8).
O amor social
A voz dos profetas é incansável a apontar o indicador contra as injustiças que «esmagam sobre o pó da terra a cabeça do pobre, desviam os pequenos do caminho certo» (Am 2,7). A esperança messiânica concentra-se num rei que «proteja os humildes do povo, ajude os necessitados e esmague os opressores!» (Sl 72[71],4). É preciso juntar a figura parabólica do Samaritano e, por contraste, a do rico epulão, em relação ao mendigo Lázaro, a única personagem das parábolas que tem nome próprio, figura que se torna objeto do amor escatológico de Deus (Lc 16,19-31). Entre tantos exemplos bíblicos de caridade, quereríamos fazer emergir o de Tabitá-Dórcada, mulher generosa e solidária com todos os que se encontravam em necessidade. Quando Pedro vai visitar os seus restos mortais, é acolhido por «todas as viúvas, que choravam e lhe mostravam as túnicas e mantos feitos por Dórcada, enquanto ela estava na sua companhia» (At 9,39). Nesta linha, pensamos na inversão que Paulo sugere ao amigo Filémon, relativamente ao escravo Onésimo: «Foi afastado por breve tempo: para que o recebas para sempre, não já como escravo, mas muito mais do que um escravo: como irmão querido; isto especialmente para mim, quanto mais para ti, que com ele estás relacionado tanto humanamente como no Senhor» (vv. 15-16).
A voz dos profetas é incansável a apontar o indicador contra as injustiças que «esmagam sobre o pó da terra a cabeça do pobre, desviam os pequenos do caminho certo» (Am 2,7). A esperança messiânica concentra-se num rei que «proteja os humildes do povo, ajude os necessitados e esmague os opressores!» (Sl 72[71],4). É preciso juntar a figura parabólica do Samaritano e, por contraste, a do rico epulão, em relação ao mendigo Lázaro, a única personagem das parábolas que tem nome próprio, figura que se torna objeto do amor escatológico de Deus (Lc 16,19-31). Entre tantos exemplos bíblicos de caridade, quereríamos fazer emergir o de Tabitá-Dórcada, mulher generosa e solidária com todos os que se encontravam em necessidade. Quando Pedro vai visitar os seus restos mortais, é acolhido por «todas as viúvas, que choravam e lhe mostravam as túnicas e mantos feitos por Dórcada, enquanto ela estava na sua companhia» (At 9,39). Nesta linha, pensamos na inversão que Paulo sugere ao amigo Filémon, relativamente ao escravo Onésimo: «Foi afastado por breve tempo: para que o recebas para sempre, não já como escravo, mas muito mais do que um escravo: como irmão querido; isto especialmente para mim, quanto mais para ti, que com ele estás relacionado tanto humanamente como no Senhor» (vv. 15-16).
O amor nupcial
Bastaria trazer a este parágrafo a referência ao Cântico dos Cânticos, para descobrir a alma do amor nupcial, sobretudo através daquela profissão de doação recíproca que a mulher proclama, celebrando a unidade da carne, na vida e no afeto: «O meu amado é para mim e eu para ele [...]. Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim» (2,16; 6,3). O amor de casal, na sua plenitude, tornar-se-á o sinal do amor teológico, como ensinam os profetas (por exemplo, Os 2) e o próprio Paulo (Ef 5,25-32). Similarmente, são muitos os casais que surgem na Bíblia, testemunhando o seu amor: bastará pensarmos em Isaac «que procura consolação, depois da morte da mãe», encontrando-se com Rebeca (Gn 24,67); ou, então, pensemos na paixão terna e invencível de Jacob por Raquel, e na que Elcana testemunha relativamente a Ana, mulher estéril antes de tornar-se mãe de Samuel: «Ana, porque choras? Porque não comes? Porque estás triste? Não valho para ti tanto como dez filhos?» (1Sm 1,8).
Bastaria trazer a este parágrafo a referência ao Cântico dos Cânticos, para descobrir a alma do amor nupcial, sobretudo através daquela profissão de doação recíproca que a mulher proclama, celebrando a unidade da carne, na vida e no afeto: «O meu amado é para mim e eu para ele [...]. Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim» (2,16; 6,3). O amor de casal, na sua plenitude, tornar-se-á o sinal do amor teológico, como ensinam os profetas (por exemplo, Os 2) e o próprio Paulo (Ef 5,25-32). Similarmente, são muitos os casais que surgem na Bíblia, testemunhando o seu amor: bastará pensarmos em Isaac «que procura consolação, depois da morte da mãe», encontrando-se com Rebeca (Gn 24,67); ou, então, pensemos na paixão terna e invencível de Jacob por Raquel, e na que Elcana testemunha relativamente a Ana, mulher estéril antes de tornar-se mãe de Samuel: «Ana, porque choras? Porque não comes? Porque estás triste? Não valho para ti tanto como dez filhos?» (1Sm 1,8).
O amor paterno e materno
São muitas as histórias bíblicas de pais que amam os seus filhos, começando pelo terror de Agar, perdida no deserto de Bercheba, sem água para o filho Ismael: «Deixou o filho debaixo de um arbusto e foi sentar-se [... e] dizia: “Não quero ver o meu filho morrer.” Sentou-se, pois, do lado oposto e começou a chorar» (Gn 21,15-16). Ou, então, pensemos em Rispa, a concubina de Saul, a quem tinha dado dois filhos. Quando David entrega sete filhos de Saul aos habitantes de Guibeon, que os enforcaram, Rispa acampa durante um verão inteiro (desde a ceifa da cevada até às primeiras chuvas de outubro), a guardar aqueles cadáveres, para que não sejam profanados pelos animais selvagens: «Não deixando que os pássaros do céu pousassem sobre eles durante o dia, nem que as feras selvagens lhes tocassem durante a noite» (2Sm 21,10). Não nos podemos esquecer do grito lancinante de David, quando soube da morte do seu filho Absalão, que também tinha ameaçado tornar-se um parricida: «Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Porque não morri em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho!» (2Sm 19,1). Nele, antecipa-se a figura simbólica do pai pródigo de amor pelo filho pródigo de culpa e rebelião, da célebre parábola lucana (15,11-32).
São muitas as histórias bíblicas de pais que amam os seus filhos, começando pelo terror de Agar, perdida no deserto de Bercheba, sem água para o filho Ismael: «Deixou o filho debaixo de um arbusto e foi sentar-se [... e] dizia: “Não quero ver o meu filho morrer.” Sentou-se, pois, do lado oposto e começou a chorar» (Gn 21,15-16). Ou, então, pensemos em Rispa, a concubina de Saul, a quem tinha dado dois filhos. Quando David entrega sete filhos de Saul aos habitantes de Guibeon, que os enforcaram, Rispa acampa durante um verão inteiro (desde a ceifa da cevada até às primeiras chuvas de outubro), a guardar aqueles cadáveres, para que não sejam profanados pelos animais selvagens: «Não deixando que os pássaros do céu pousassem sobre eles durante o dia, nem que as feras selvagens lhes tocassem durante a noite» (2Sm 21,10). Não nos podemos esquecer do grito lancinante de David, quando soube da morte do seu filho Absalão, que também tinha ameaçado tornar-se um parricida: «Meu filho Absalão, meu filho, meu filho Absalão! Porque não morri em teu lugar? Absalão, meu filho, meu filho!» (2Sm 19,1). Nele, antecipa-se a figura simbólica do pai pródigo de amor pelo filho pródigo de culpa e rebelião, da célebre parábola lucana (15,11-32).
O amor familiar
A estupenda cena do Salmo 128, de uma família reunida à volta de uma mesa, com o pai sem problemas de trabalho, a mãe fecunda e os filhos vigorosos, tem o seu paralelo mais espiritual na família de Nazaré, com a sua história de dramas e de glória, amplamente descrita nos Evangelhos da infância de Jesus, segundo Mateus e Lucas. Se quiséssemos selecionar, entre as muitas histórias familiares bíblicas (são, sobretudo, relevantes as patriarcais), frequentemente marcadas por um pathos especial, poderíamos recorrer àquela joia narrativa que é o livro de Rute. A tragédia da viúva Noemi, que perde o marido e os filhos, faz emergir o forte apego familiar da nora Rute, uma estrangeira moabita, que promete à sogra: «Onde tu fores, eu irei contigo, e onde pernoitares, aí ficarei; o teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus. Onde morreres, também eu quero morrer e ali serei sepultada. Que o Senhor me trate com rigor e ainda o acrescente, se até mesmo a morte me separar de ti» (1,16-17).
A estupenda cena do Salmo 128, de uma família reunida à volta de uma mesa, com o pai sem problemas de trabalho, a mãe fecunda e os filhos vigorosos, tem o seu paralelo mais espiritual na família de Nazaré, com a sua história de dramas e de glória, amplamente descrita nos Evangelhos da infância de Jesus, segundo Mateus e Lucas. Se quiséssemos selecionar, entre as muitas histórias familiares bíblicas (são, sobretudo, relevantes as patriarcais), frequentemente marcadas por um pathos especial, poderíamos recorrer àquela joia narrativa que é o livro de Rute. A tragédia da viúva Noemi, que perde o marido e os filhos, faz emergir o forte apego familiar da nora Rute, uma estrangeira moabita, que promete à sogra: «Onde tu fores, eu irei contigo, e onde pernoitares, aí ficarei; o teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus. Onde morreres, também eu quero morrer e ali serei sepultada. Que o Senhor me trate com rigor e ainda o acrescente, se até mesmo a morte me separar de ti» (1,16-17).
O amor de amigos
A figura que avulta acima dos outros é a da amizade entre Jónatas e David, capaz de superar as próprias divisões de classe e de poder. Seja qual for a interpretação a nível histórico-político, e independentemente de improváveis releituras psicanalíticas (ho mos se xua lidade latente ou explícita), o relato bíblico move-se na trajetória sapiencial que sempre exaltou a amizade (Pr 17,17; 27,6.9; Sir 6,5- -17; 37,1-6) e usa os seus tons apaixonados e enfáticos, como dirá o próprio David, na admirável elegia pela morte do amigo e do seu pai Saul: «Jónatas, meu irmão, que angústia sofro por ti! Como eu te amava! O teu amor era uma maravilha para mim, mais excelente que o das mulheres» (2Sm 1,26). Mas também o apóstolo Paulo viverá com intensidade os vínculos de amizade com as suas comunidades, em particular com os Filipenses, sofrendo asperamente com as traições e as desilusões dos Coríntios, ligando-se a colaboradores como Timóteo e Tito, verdadeiros raios de luz, nos momentos escuros, e testemunhando o seu afeto a muitos cristãos, saudados «com o beijo santo», nas suas diversas cartas. Voltaremos mais à frente ao tema da amizade.
A figura que avulta acima dos outros é a da amizade entre Jónatas e David, capaz de superar as próprias divisões de classe e de poder. Seja qual for a interpretação a nível histórico-político, e independentemente de improváveis releituras psicanalíticas (ho mos se xua lidade latente ou explícita), o relato bíblico move-se na trajetória sapiencial que sempre exaltou a amizade (Pr 17,17; 27,6.9; Sir 6,5- -17; 37,1-6) e usa os seus tons apaixonados e enfáticos, como dirá o próprio David, na admirável elegia pela morte do amigo e do seu pai Saul: «Jónatas, meu irmão, que angústia sofro por ti! Como eu te amava! O teu amor era uma maravilha para mim, mais excelente que o das mulheres» (2Sm 1,26). Mas também o apóstolo Paulo viverá com intensidade os vínculos de amizade com as suas comunidades, em particular com os Filipenses, sofrendo asperamente com as traições e as desilusões dos Coríntios, ligando-se a colaboradores como Timóteo e Tito, verdadeiros raios de luz, nos momentos escuros, e testemunhando o seu afeto a muitos cristãos, saudados «com o beijo santo», nas suas diversas cartas. Voltaremos mais à frente ao tema da amizade.
O amor pátrio
Não diz respeito unicamente ao patriotismo, com os riscos da respetiva retórica, mas também a guarda dos seus valores, da identidade cultural e religiosa. Nesta luz, devem ler-se os livros dos Macabeus, apesar da sua ênfase nacionalista. Além das figuras dos protagonistas Judas, Jónatas e Simão, emergem destes livros alguns retratos, talvez hagiográficos, mas seguramente intensos, de personagens prontas a sacrificar-se para testemunhar a sua fé e a sua fidelidade às tradições dos seus antepassados. Eis, por exemplo, Eleázar que se encaminha para o suplício, para não violar nem um só preceito bíblico, como era o preceito alimentar (cf. 2Mac 6,18-31) ou, então, a célebre mãe dos sete irmãos, que vive o conflito entre o amor materno e o religioso. Ou, ainda, Razis, «um dos anciãos de Jerusalém […] de grande reputação, ao qual chamavam pai dos judeus, por causa da sua benevolência» (2Mac 14,37): o seu suicídio é considerado um extremo ato de amor pela sua pátria e pela sua liberdade. Mas não nos esqueçamos de que também o próprio Paulo, embora com a consciência da novidade da sua opção, nunca renegará as suas raízes hebraicas e até testemunhará com orgulho: «Circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei, fui fariseu» (Fl 3,5).
Não diz respeito unicamente ao patriotismo, com os riscos da respetiva retórica, mas também a guarda dos seus valores, da identidade cultural e religiosa. Nesta luz, devem ler-se os livros dos Macabeus, apesar da sua ênfase nacionalista. Além das figuras dos protagonistas Judas, Jónatas e Simão, emergem destes livros alguns retratos, talvez hagiográficos, mas seguramente intensos, de personagens prontas a sacrificar-se para testemunhar a sua fé e a sua fidelidade às tradições dos seus antepassados. Eis, por exemplo, Eleázar que se encaminha para o suplício, para não violar nem um só preceito bíblico, como era o preceito alimentar (cf. 2Mac 6,18-31) ou, então, a célebre mãe dos sete irmãos, que vive o conflito entre o amor materno e o religioso. Ou, ainda, Razis, «um dos anciãos de Jerusalém […] de grande reputação, ao qual chamavam pai dos judeus, por causa da sua benevolência» (2Mac 14,37): o seu suicídio é considerado um extremo ato de amor pela sua pátria e pela sua liberdade. Mas não nos esqueçamos de que também o próprio Paulo, embora com a consciência da novidade da sua opção, nunca renegará as suas raízes hebraicas e até testemunhará com orgulho: «Circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei, fui fariseu» (Fl 3,5).
Este elenco de retratos diferentes do amor ao
próximo mostra-nos que a Bíblia quis representar todas as iridescências
desta experiência capital da vida humana. O seu apelo a nunca perder
aquele vínculo que nos une ao outro e que faz com que o Eu não se torne um Ego encerrado em si mesmo, mas se abra ao Tu. Quando
se lê superficialmente a história humana, pode parecer que o amor é
subjugado pela ameaça do ódio ou da solidão. Na realidade, quando se
escava profundamente, descobre-se a verdade daquela afirmação
que o escritor francês François Mauriac tinha anotado no seu Diário: «O
amor ao próximo que persiste através de mil vicissitudes parece-me o
mais belo dos milagres, embora seja também o mais comum.»
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* D. Gianfranco Ravasi. Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
apresenta
In O que é o homem? - Sentimentos e laços humanos na Bíblia, ed. Paulinas
Fonte: http://www.snpcultura.org/o_que_e_o_homem_sentimentos_e_lacos_humanos_na_biblia.html - Site Português.
In O que é o homem? - Sentimentos e laços humanos na Bíblia, ed. Paulinas
Fonte: http://www.snpcultura.org/o_que_e_o_homem_sentimentos_e_lacos_humanos_na_biblia.html - Site Português.
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