sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Lideres mundiais que nascem no mundo online


A política viral estreou na Itália com o "Popolo Viola" [povo lilás, em referência à cor usada pelos manifestantes do No Berlusconi Day, No-B Day]. "Não estou surpreso, ao invés, me admira que não tenha ocorrido antes", observa Trevor Fitzgibbon, um dos maiores especialistas daquela que os norte-americanos chamam justamente de "viral politics". Fitzgibbon esteve entre os fundadores do MoveOn, o movimento que nasceu online e que, com cinco milhões de inscritos, tornou-se o motor da escalada democrata entre 2006 e 2008 nos EUA.

"Democracy in Action" foi o slogan do MoveOn desde a sua criação, por parte de um grupo de eleitores democratas desiludidos com a política tradicional. "O nascimento do movimento italiano", explica Fitzgibbon, "me lembra muito o que ocorreu nos EUA".

A reportagem é de Anais Ginori, publicada no jornal La Repubblica, 10-12-2009.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Que semelhanças você vê?
Estive duas vezes na Itália nos últimos meses e me pareceu que o nível de corrupção da política do país deveria inevitavelmente desencadear uma reação popular semelhante à que o MoveOn organizou contra a administração republicana. O momento que a Itália atravessa é semelhante à atmosfera de fim de reino do último período de George W. Bush.

Como esse movimento pode seguir adiante?
Acredito que para o MoveOn foi tudo mais fácil. A Internet já estava muito difundida nos EUA. Com as nossas campanhas online, entrávamos nas casas das pessoas. Mas a maior diferença com relação aos EUA é o controle de Silvio Berlusconi sobre as mídias. Entre nós, havia muito mais espaços de visibilidade para a oposição e para veicular uma mensagem de mudança. O MoveOn pôde conquistar espaços publicitários em uma TV amiga de Bush como a Fox. Temo que essa possibilidade não será contemplada na Itália.

Os manifestantes na Praça San Giovanni pediram a renúncia de Berlusconi. Como esse movimento pode dialogar com a política tradicional?
O problema da relação com os partidos não é uma pré-condição. Nós dizíamos sempre: "If the people lead, the leaders will follow", se as pessoas lideram, os responsáveis políticos deverão seguir a onda. Foi assim nos EUA. A vontade de mudança obrigou os democratas a se adaptar e depois derrotaram os republicanos. Se as pessoas continuarem a se mobilizar contra Berlusconi, acho que os partidos da esquerda terão que se adequar.

Existe o risco de cair na retórica da antipolítica?
Nunca acreditei na antipolítica. Antes ou depois, deverá haver uma espécie de coordenação entre esse novo movimento e os partidos tradicionais da oposição. Terá que surgir um líder reconhecido. E quando houver, penso que muitas pessoas que se afastaram dos partidos tradicionais voltarão a votar para retomar em suas mãos o destino do seu próprio país: no fim, é isso que verdadeiramente conta na política.

Para o MoveOn, a escolha de um líder foi fácil?
Durante a nossa história, tivemos dois candidatos. O primeiro foi Howard Dean, depois derrotado nas primárias por John Kerry. Quatro anos depois, escolhemos Barack Obama. Ele foi o ponto de encontro entre o nosso movimento e o Partido Democrata, garantindo-nos assim a vitória. O meu conselho é de escolher um líder dinâmico que possa ser candidato dentro do principal partido da oposição e depois, mas só depois, reverter o sistema a partir de dentro.

Até agora, o movimento italiano quer permanecer desligado dos partidos.
Talvez, uma certa ideia de representação política do século XIX já está consumada. Mas esse sistema não pode ser mudado de baixo se depois não houver, do lado de cima, uma liderança política. Se esse movimento italiano permanecer fora do sistema político, nunca poderá obter aquilo pelo qual se mobiliza.
FONTE: IHU/Unisinos, 11/12/2009

Um comentário:

  1. Caro Frei Zelmar,
    Parabéns pelo aniversário, neste dia chuvoso de dezembro.
    Boa sorte, sucesso na missão.
    Um abraço,
    Pilato

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