terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O meu alfabeto da esperança

Jeremy Rifkin

Anidrido carbônico (ou gás carbônico). As mudanças climáticas estão ocorrendo em uma velocidade superior às previsões: o objetivo que até ontem parecia suficiente, um teto de concentrações de CO2 na atmosfera de 450 partes por milhão, não nos protege do risco da catástrofe. Como diz Jim Hansen, um dos climatologistas mais acreditados, em vez de continuar acumulando gás carbônico no céu, devemos retroceder às 280 partes por milhão da era pré-industrial. Hoje, estamos na cota de 387: desçamos pelo menos a 350.
Brasil. Antes tarde que nunca. Durante décadas, o Brasil foi responsável pelo desmatamento da Amazônia, uma devastação que ameaça a segurança de um dos ecossistemas fundamentais. Hoje, o governo de Lula mudou de rota: Copenhague pode ser o momento de tornar a mudança oficial.
Céticos. É um grupinho inexistente sob o perfil científico. Conseguem ter visibilidade porque são apoiados pelos lobbies das velhas fontes energéticas que os usam para semear dúvidas na opinião pública.
China. É o país que mais emite gás carbônico de todos os outros. Mas já está pagando um preço pesado em termos de vidas humanas para as mudanças climáticas. Se pudesse escolher entre o carbono e as tecnologias mais avançadas da Terceira Revolução Industrial, o que faria?
Eficiência energética. É a base para a reorganização energética. Muitos cortes de emissões podem ser realizados eliminando o desperdício e a ineficiência.
Fundos. Os fundos para a transferência das tecnologias avançadas aos países menos industrializados são um ato de justiça: não se pode penalizar justamente quem foi excluído da segunda revolução industrial. É preciso permitir que esses países deem um salto, passando diretamente para a Terceira Revolução Industrial.
Hidrogênio. As fontes renováveis são uma fonte limpa, mas não constante: é preciso um reservatório para estocar a energia produzida durante os momentos de pico. Esse reservatório é o hidrogênio que permite também que a energia acumulada seja reutilizada de modo flexível.
Kyoto. Foi o momento que marcou o início do percurso da geopolítica à política da biosfera.
Nuclear. A tecnologia nuclear é a tecnologia da Guerra Fria. Em mais de meio século, não resolveu os seus problemas, pelo contrário, os agravou: riscos de acidentes durante todas as fases do ciclo de produção, risco de terrorismo, risco dos resíduos. E nenhum benefício econômico.
Obama. A reviravolta de Obama é a premissa para uma mudança que deverá ser muito mais radical: sem a visão de conjunto, sem a capacidade de pensar a longo prazo, o lançamento das fontes renováveis fica privado de bases sólidas.
Pós-Kyoto. A conferência de Copenhague pode ter sucesso se der o salto da perspectiva das obrigações à das oportunidades. Em vez de pensar só em quantificar o que não se deve fazer, é preciso começar a dizer quantas fontes renováveis, quantos edifícios sustentáveis, quanto hidrogênio, quantas "smart grid" cada país deve realizar.

Renováveis. São o primeiro pilar da Terceira Revolução Industrial. Duas regiões espanholas, Navarra e Aragón, em dez anos, chegaram a 70% de eletricidade a partir de fontes limpas. Por que não fazer o mesmo?

Terceira Revolução Industrial. Permite tanto o desenvolvimento econômico como a redução das emissões de gases do efeito estufa. Apoia-se sobre quatro pilares: as energias renováveis, as construções sustentáveis, o hidrogênio e as redes inteligentes, as "smart grid", para distribuir a energia segundo o modelo da web. A Terceira Revolução Industrial significa deslocar o poder das oligarquias que gerem as grandes centrais elétricas para as pessoas. Hoje, falamos através do Skype e criam-se redes sociais livres de trocas e compartilhamento das informações. Por que não fazer o mesmo com a energia?

Trabalho. A Terceira Revolução Industrial dá espaço para sistemas de trabalho intensivo e produzirá milhões de postos de trabalho.

União Europeia. Foi quem abriu o caminho para a batalha pela defesa da biosfera. E fez isso em condições de isolamento e de grandes dificuldades. Agora, pode olhar com mais confiança para o futuro, principalmente se souber explorar suas grandes potencialidades.

Vegetarianos. A segunda causa das mudanças climáticas no mundo é a emissão de CO2 derivado da criação de animais, ou seja, da grande quantidade de carne que consumimos. Para diminuir as emissões, é preciso passar para a dieta mediterrânea, como na Itália, comendo muitas verduras e muita fruta.

Jeremy Rifkin, publicado no jornal La Repubblica, 07-12-2009.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.

FONTE: IHU/Unisinos online, 08/12/2009 - Dia Nossa Senhora da Conceição.

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