Entrevista Adrian Smith
RESPONSÁVEL PELO PRÉDIO MAIS ALTO DO MUNDO
PREPARA UM NOVO PROJETO, AINDA MAIOR
Adrian Smith é um apaixonado pelas alturas. Arquiteto responsável pelo desenho do prédio mais alto do mundo, o Burj Khalifa, um portento de 828 metros e 163 andares em Dubai, esse norte-americano de 67 está agora engajado em novo desafio: o primeiro edifício com mais de 1 km -a altura exata ainda é mantida em segredo.
Seu projeto para a Kingdom Tower foi aprovado pela Jeddah Economic Company e, segundo Smith, as obras em Jedá, cidade no norte da Arábia Saudita, devem começar "em breve". Com orçamento estimado em US$ 1,2 bilhão, o gigante de vidro, cimento e aço deve ficar pronto em cerca de cinco anos.
Responsável pelo desenho de quatro dos 12 maiores arranha-céus do planeta, Smith atua também em projetos de reorganização urbana.
Porém, acredita que os edifícios superaltos são "potencialmente a melhor resposta ao desafio do aumento da densidade populacional nas grandes cidades".
E prevê que esses gigantes serão "um elemento-chave na cidade do futuro".
Folha - Como será a Kingdom Tower? Havia até um heliporto no prédio, mas a ideia foi abandonada...
Adrian Smith - O prédio terá mais de mil metros de altura; a altura exata ainda é segredo. Com 163 andares e cerca de 530 mil metros quadrados de área útil, será o edifício principal da Kingdom City, um conglomerado de cerca de 5,3 milhões de metros quadrados (mais de três parques Ibirapuera somados) que será construído ao norte de Jedá.
Projetamos um heliponto no 157º andar. Fizemos consultas a pilotos e especialistas em aviação, que nos disseram que não seria muito seguro fazer o pouso naquela altura, por causa dos ventos.
O heliponto foi abandonado, mas nós já tínhamos nos apaixonado pelo projeto da área como elemento arquitetônico, que cria uma interrupção visual na estrutura do projeto. O cliente também gostou, e resolvemos mantê-lo como um enorme terraço, que poderá ser usado para festas e recepções, com uma vista fabulosa da cidade e do mar Morto.
Quais os maiores desafios para projetar um edifício superalto como a Kingdom Tower?
O maior problema para o desenho de prédios superaltos, como Burj Khalifa e Kingdom Tower, é a resistência ao vento. Há uma tendência para a formação de vórtices de vento em torno do prédio, potencialmente provocando movimentos laterais que podem ser sentidos pelos ocupantes. Para combater esse problema, nós buscamos formas de "confundir os ventos", para reduzir a formação de vórtices.
No caso do Burj Khalifa, nós enfrentamos o problema construindo o prédio de forma escalonada, com grandes recuos. No caso da Kingdom Tower, tivemos uma abordagem diferente: cada andar terá uma área ligeiramente inferior à do andar imediatamente abaixo. Isso torna a construção um pouco mais cara, mas, segundo nossos testes, o formato da Kingdom Tower vai funcionar ainda melhor do que o do Burj Kalifa em termos de resistência às forças dos ventos.
Será usado algum material especial na construção da Kingdom Tower?
Estamos usando basicamente materiais e tecnologias existentes, bem conhecidos e testados, mas de uma forma altamente inovativa. As paredes externas de alta performance maximizam o aproveitamento da luz do sol ao mesmo tempo que reduzem o aquecimento.
Os vidros reflexivos vão reduzir ao máximo possível o ganho de calor e proporcionarão visão panorâmica. Onde não for necessário usar vidro planejamos empregar painéis que reduzirão o ganho de calor, tendo basicamente o mesmo desempenho térmico de paredes de pedra.
No deserto, a água é o recurso mais precioso e por isso temos sistemas para recuperação de vapor e sua transformação em água. Anualmente, esses sistemas deverão recuperar o equivalente a 14 piscinas olímpicas de água, que serão recicladas para uso em sistemas de irrigação.
Para chegar ao topo, o visitante terá que trocar de elevador apenas uma vez, no que chamamos de lobby no céu.
O senhor está também trabalhando em um projeto de um edifício de mais de uma milha (1.609 m), ainda em protótipo. Um prédio dessa altura é factível hoje em dia?
Nós já fizemos algum trabalho de pesquisa para a construção de um prédio de uma milha de altura, mas por enquanto é apenas especulação. O maior desafio na construção de um prédio dessa altura é o sistema de elevadores. Para chegar ao topo do prédio, você teria de fazer pelos menos duas ou três baldeações, se não mais, o que levaria muito tempo.
Outra questão importante é a enorme base que seria necessária para sustentar uma estrutura tão alta.
Os edifícios superaltos são ambientalmente corretos?
Eles são inerentemente sustentáveis, acima de tudo por causa do uso da terra. Eles propiciam o contrário da expansão urbana.
Há também a economia de material de telhados. Imagine, por exemplo, um prédio de 400 metros de altura com cem andares. Ele terá apenas uma base e um telhado. Se você dividir isso em 33 prédios de três andares, vai necessitar de mais 33 bases e 33 telhados. Sem falar de toda a movimentação de terra e toda a infraestrutura necessária para a construção de 33 prédios em lugar de apenas um.
Faz sentido investir em prédios superaltos? Esses projetos são lucrativos?
É verdade que os prédios superaltos geralmente não geram, por si mesmos, grandes recursos para seus construtores. Mas eles contribuem para aumentar significativamente o valor dos terrenos e dos prédios no seu entorno, como ocorre no caso do Burj Khalifa, em Dubai.
Quem compra propriedades nos prédios em volta dele paga mais por causa da vista para o Burj Khalifa, o que fez com que o projeto ficasse altamente lucrativo para a Emaar Properties. O mesmo conceito será aplicado na Kingdom City, com a Kingdom Tower como sua peça central. A Jin Mao Tower, em Xangai, é um exemplo similar.
image © Adrian Smith + Gordon Gill Architecture
"Por que a China investe em prédios superaltos?
Acredito que torres superaltas sejam
potencialmente a melhor resposta ao desafio da crescente densidade populacional nos
centros urbanos do país.
Há um grande crescimento da densidade populacional
em muitas cidades na China -de fato,
no mundo inteiro-, e a questão é como acomodar
toda essa nova população."
O Burj Khalifa ainda não está totalmente ocupado...
Isso é porque muitos compraram unidades no prédio como investimento ou como uma segunda casa. O fato é que todas as unidades do Burj Khalifa foram comercializadas em cerca de três dias. E acho que vai acabar sendo totalmente ocupado, porque é um lugar fantástico para viver e trabalhar.
O senhor tem vários projetos de edifícios superaltos na China. O país parece investir bastante nesse tipo de construção.
No ano passado, anunciamos o projeto do Wuhan Greenland Center, uma torre de 606 metros em Wuhan, que provavelmente será o terceiro edifício mais alto do mundo quando ficar pronto, em 2016.
Por que a China investe em prédios superaltos? Acredito que torres superaltas sejam potencialmente a melhor resposta ao desafio da crescente densidade populacional nos centros urbanos do país.
Há um grande crescimento da densidade populacional em muitas cidades na China -de fato, no mundo inteiro-, e a questão é como acomodar toda essa nova população. A grande vantagem dos edifícios superaltos é que eles permitem que um grande número de pessoas seja acomodado de forma confortável com o uso de uma área de terra relativamente pequena.
E, se forem bem projetados, podem oferecer muitas das facilidades que as pessoas precisam para ter uma boa qualidade de vida: áreas verdes, áreas de lazer, centros de saúde, restaurantes etc.
Sob muitos aspectos, os edifícios superaltos são um elemento-chave da cidade do futuro, na China e no mundo todo.
O que o levou a se interessar por projetar prédios superaltos?
Eu sempre me interessei por prédios superaltos, desde o tempo de escola. Também sempre gostei de desenhar; na aula de desenho mecânico, no ginásio, meu primeiro desenho foi um arranha-céu de 40 andares.
Quando vim para Chicago para fazer a faculdade, fiquei impressionado com o perfil da cidade, cheia de prédios altos, e com a ideia de que os homens podiam construir suas próprias montanhas: os edifícios. Eu queria ser parte daquilo.
Raio-X: Adrian Smith
FORMAÇÃO
Arquiteto especialista em prédios superaltos
FAMÍLIA
Nasceu em Chicago em 1944, é casado e tem dois filhos; vive em Illinois, nos EUA
CARREIRA
Trabalhou quase 40 anos no escritório de Skidmore, Owings and Merrill, que o lançou na área dos arranha-céus; em 2006, fundou a firma Adrian Smith + Gordon Gill Architecture
OBRAS
São seus os projetos de 4 dos 11 maiores prédios do mundo: Burj Khalifa, Zifeng Tower, Trump International e Jin Mao Tower
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Reportagem por RODOLFO LUCENA COLUNISTA DA FOLHA
Fonte: Folha on line, 15/01/2012
Imagem da Internet
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