sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O que fazer para mudar de direção em alta velocidade

Betania Tanure*

Ao fazer uma curva perigosa em alta velocidade, é preciso mudar de direção sem pôr o pé no freio. O bom piloto sabe que, se não acelerar ao fazer a curva, o carro derrapa e sai da pista. Sabe também que, se o veículo já estiver prestes a sair da pista, é preciso acelerar e frear ao mesmo tempo.

Alta velocidade, freadas repentinas e mudanças de direção talvez sejam motivo de realização para algumas pessoas. Para outras, entretanto, podem trazer um grande desconforto e provocar náuseas - elas podem precisar ou apenas querer abandonar o barco.

Isso também vale para quem é passageiro. Se alguns gostam de ser conduzidos por um motorista hábil nas curvas, outros sofrem com a alternância entre freadas e acelerações. A maestria do "piloto" está em saber o momento certo de aumentar a velocidade, de mantê-la ou frear. Quando os passageiros não suportam o ritmo acelerado, pode ser necessário reduzi-lo mesmo que não haja perigos na estrada. Em outras circunstâncias, pode ser preciso substituir um ou mais deles para continuar na "corrida".

Tão importante quanto saber conduzir é saber distinguir pressa de alta velocidade. A pressa nunca é bem-vinda, pois gera precipitação e risco desnecessário. Já a alta velocidade é produtiva quando o piloto é bom, há boas condições, o carro está em ordem e tem um bom freio.
"Portanto, você que está no 'volante' da empresa
tem o dever de criar condições para
 que os que estão a bordo sejam
competentes na copilotagem"

Tal discernimento é importante quando se fala de competência em gestão e liderança. Quando o líder acerta o ritmo, revela seu "lado sol". Quando estica demais a corda, ou imprime uma velocidade abaixo da desejada, traz à tona seu "lado sombra".

Em um dos meus mais recentes livros - escrito em coautoria com Roberto Patrus, da PUC Minas, e com C. Belini, presidente da Fiat -, usamos essas metáforas para falar das competências de gestão necessárias em um ambiente de mudança radical.

Mostramos que é preciso desenvolver tanto as capacidades específicas, racionais, técnicas e objetivas, quanto as chamadas 'soft', relacionadas ao intangível e às emoções. A despeito disso, uma pesquisa recente que realizamos com executivos das melhores e maiores empresas brasileiras mostra que apenas 7% deles apresentam esses dois tipos de competência de forma equilibrada. Ou seja, têm competência para dirigir um carro em alta velocidade e fazer mudanças drásticas quando necessário sem que todos os copilotos desistam da jornada.

Além disso, vale enfatizar que um líder não muda sozinho os rumos de uma empresa, por mais competente que seja. É importante definir o caminho a seguir e há ferramentas para isso. Mas nem sempre o caminho predeterminado é o percorrido. É necessário competência e coragem para alterar rotas, paradas programadas ou até o destino. Acontecimentos inesperados podem exigir decisões rápidas e mudanças de percurso.

Outro fator que não se pode ignorar em grandes mudanças é que elas provocam, frequentemente, impacto negativo no humor, no grau de estresse e no desejo das pessoas de permanecer na empresa. É preciso lembrar, portanto, que a cultura da organização também deve ser observada e que ela não se transforma de um momento para outro.

Como ainda ocorre na maior parte das empresas brasileiras, as relações de poder são permeadas por características marcantes como centralização, pouca participação verdadeira dos colaboradores nos processos decisórios que lhes envolve diretamente e baixo grau de conflito com aqueles que detêm o poder.

Características como essas afastam a possibilidade de as pessoas se comportarem como copilotos nos processos de mudança de direção em alta velocidade. Portanto, você que está no 'volante' da empresa tem o dever de criar condições para que os que estão a bordo sejam competentes na copilotagem. Dessa maneira, eles podem ter a chance de se preparar para, no futuro, ocupar o seu posto - o de piloto de um carro em alta velocidade. Afinal, você não é eterno!
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* Betania Tanure é doutora, professora da PUC Minas e consultora da BTA
Fonte: Valor Econômico on line, 09/12/2011
Imagem da Internet

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