Eloy F. Casagrande Jr. *
Os estragos causados pela forte chuva de granizo e ventos com mais de
60 km/h que causou caos em Curitiba no dia 03 de outubro de 2103, foi
uma amostra do poderemos enfrentar daqui para frente, tendo em vista que
o mês de setembro foi marcado por três diferentes relatórios sobre as
emissões dos gases do efeito estufa, nos apresentando um quadro bastante
preocupante. Apesar dos inúmeros encontros mundiais para discutir o
aquecimento global, governos não conseguem adotar um modelo econômico de
baixa emissão de carbono, sendo comprovado nos diferentes relatórios, o
aumento das emissões a nível global e no Brasil. Assim, catástrofes
climáticas passarão a ser rotineiras e teremos de estar mais bem
preparados.
O documento mais importante dos três estudos realizados foi divulgado
no dia 27 de setembro, em Estocolmo, na Suécia, pelos cientistas que
compõem o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na
sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmando que a
temperatura do planeta pode subir 5 graus Celsius ainda neste século, o
que poderá elevar o nível do dos oceanos em até 82 centímetros.
O quinto relatório de avaliação (AR5)
se baseia na revisão de milhares de pesquisas realizadas nos últimos
cinco anos sobre a mudança climática global, destacando com 90% de
certeza, que mais de 20% do CO2 emitido permanecerá na atmosfera por
mais de mil anos após as emissões cessarem. Isto não significa o fim do
mundo, mas a necessidade de começarmos a planejar cidades mais
ecointeligentes e a ter planos de emergência mais eficientes para
minimizar os efeitos das mudanças climáticas. Sofreremos mais com
calores intensos, chuvas fortes e inundações em maior escala, aumento de
tornados e furacões mais agressivos, sem contar com problemas na
produção agrícola, acidificação dos oceanos e fornecimento de energia,
principalmente, para quem depende das hidrelétricas, entre outros.
O fracasso de se implantar o Protocolo de Quioto, que buscava uma
acordo entre as nações para a redução das emissões, associado as crises
econômicas, inicialmente nos Estados Unidos e depois na Europa, não nos
dá muita esperança de que algo efetivo vá acontecer neste plano nos
próximos anos.
Um segundo estudo foi publicado no Global 500 Climate Change Report
2013, de autoria de uma organização não governamental, conhecida como
CDP (Carbon Disclosure Project), relatando que entre as 500 maiores
empresa globais, apenas 50 empresas são responsáveis por 73% dos 3,6 mil
milhões de toneladas de gases do efeito estufa.
Empresas como a Wal Mart, o Bank of America, a Bayer, a Samsung, a
Volkswagen, a AT&T, a Basf, Dow Chemical, Exxon Mobil, FedEx, Shell,
entre outras marcas bem conhecidas do público aparecem no relatório. Do Brasil, a Petrobrás e a Vale do Rio Doce são as representantes da turma da ganância e da fumaça!
As empresas de energia representam a grande maioria destes 10% das
grandes poluidoras e pouco fazem para mudar seu padrão. Investimentos em
projeto de energias renováveis são pífios se comparados com o dinheiro
gasto na contínua exploração dos combustíveis fósseis, basta ver o
Pré-Sal no Brasil. Alguém sabe dizer o que aconteceu com o pró-alcool e
os programa dos biocombustíveis? Ou onde estão as facilidades para se
implantar energia solar e/ou eólica? Tudo fora das prioridades!
O terceiro relatório é do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
(PBMC), alerta para o fato de que mesmo com o recente decréscimo no
desmatamento ilegal em 2012, caso não houver novas políticas e medidas
de mitigação, a tendência é que as emissões brasileiras voltem a
aumentar após 2020, podendo chegar a 2,5 bilhões de toneladas de CO2
equivalente, por ano, em 2030. Não é somente com as emissões do
desmatamento que especialistas estão preocupados, mas com o aumento de
consumo de todas as classes sociais do país, projetando o Brasil como o
quinto maior mercado consumidor do mundo em 2030. Isto significa mais
demanda de energia, de construções (normalmente insustentáveis com alta
pegada de carbono associada aos materiais), mais automóveis ainda com
motores a combustão, mais viagens aéreas, mais produtos
eletro-eletrônicos e eletrodomésticos de baixa eficiência energética,
etc.
Se o leitor visitar os sítios da internet das administrações públicas
e das empresas, provavelmente irá encontrar um logo discurso sobre
responsabilidade socioambiental e seus compromissos com as metas do
milênio em relação a sustentabilidade, além de uma longa lista de
prêmios recebidos por iniciativas do gênero. Bem, já se dizia por aí:
repita mil vezes uma mentira que ela se tornará verdade. Eles contam com
isto!
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* Prof. Dr. Eloy F. Casagrande Jr.
Coordenador do Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
EcoDebate, 07/10/2013
Foto: Estrago no Centro Cívico de Curitiba – foto Josianne Ritz
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