domingo, 19 de maio de 2024

Gerações Y e Z são as mais ansiosas, alerta psicóloga americana em livro: ‘Sensação de afogamento’

 Por André Bernardo 

Para psicóloga americana, gerações Y e Z são as que se sentem mais sozinhas, isoladas e ansiosas

 Para psicóloga americana, gerações Y e Z são as que se sentem mais sozinhas, isoladas e ansiosas Foto: Julia/Adobe Stock

Em ‘Geração Ansiosa’, Lauren Cook admite que o transtorno não tem cura, mas reforça que há controle; segundo ela, jovens se sentem mais sozinhos e isolados do que nunca

19/05/2024 | 09h00

Entrevista comLauren Cookpsicóloga e autora de 'Geração Ansiosa – Um Guia Para Se Manter Em Atividade Em Um Mundo Instável'

Quando chamou o nome de seu novo paciente, um jovem mexicano chamado Luís, na sala de espera de sua clínica em Pasadena, na Califórnia, Lauren Cook encontrou um homem nervoso, constrangido e envergonhado. Luís sofria de transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e, entre outras manias, lavava as mãos incontáveis vezes ao dia – a ponto de elas ficarem feridas ou começarem a sangrar. “Outros pacientes já haviam descrito o TOC como se o cérebro estivesse ‘pegando fogo’ e você não tivesse um extintor por perto para apagar o incêndio”, relata a psicóloga.

Luís é apenas um dos onze pacientes que tiveram seus casos relatados em Geração Ansiosa – Um guia para se manter em atividade em um mundo instável (Rocco, 2023). Cada capítulo é dedicado a um paciente diferente. O de Luís é o quarto: Seguindo mesmo quando seu oceano é frio e assustador. Não à toa, a autora compara uma crise de ansiedade à sensação de afogamento. Ela própria, que sofre de emetofobia (pavor a vômito) desde pequena, já teve inúmeras crises. “Há vários paralelos entre nossa mente e o mar: suas águas são desconhecidas e há tubarões à nossa volta”, adverte.

No livro, você compara crise de ansiedade à sensação de afogamento. Por que as gerações Y (nascidos entre 1981 e 1996) e Z (entre 1997 e 2010) são as mais propensas a “morrer afogadas”?

Sim, comparo o ataque de pânico à sensação de afogamento porque é algo muito assustador. Muitas pessoas têm a sensação de que estão morrendo quando sofrem um ataque de pânico. As gerações Y e Z estão experimentando altas taxas de ansiedade por uma série de razões. Muitos deles se sentem inseguros, enfrentam dificuldades financeiras e são inundados pelas redes sociais. Embora vejam pessoas online constantemente, se sentem mais sozinhos e isolados do que nunca.

Você diria que as gerações Y e Z são mais ansiosas do que as anteriores, Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e X (entre 1965 e 1980)? Por quê? Quanto mais tecnologia, mais ansiedade?

Ao que parece, essas duas gerações apresentam níveis mais altos de ansiedades em comparação com as anteriores. Isso se deve ao fato de que, em suas curtas vidas, suportaram convulsões políticas, onda de violência (hoje em dia, qualquer um pode ser vítima de um tiroteio) e se sentem menos esperançosas quanto ao futuro – tanto do ponto de vista financeiro quanto no que diz respeito ao aquecimento global. A tecnologia também desempenha um papel importante. Embora tenhamos hoje mais acesso à informação do que nunca, há também uma grande desvantagem nisso: somos constantemente bombardeados por acontecimentos preocupantes, não só nos Estados Unidos, como no mundo inteiro. Além de nos sentirmos excluídos socialmente, também sentimos que os outros estão se saindo melhor do que nós. Afinal, vemos apenas seus “melhores momentos” nas redes sociais.

Em geral, de onde vem a ansiedade? Ela é genética (já nascemos ansiosos) ou ambiental (aprendemos a ser)?

É uma mistura dos dois: genes e ambiente. Embora alguns sejam mais ativados do que outros (e isso se deve ao centro do medo em nosso cérebro, a amígdala, que varia em termos de tamanho e de nível de resposta), muitos de nós sofreram traumas ou outros eventos estressores que nos levam à ansiedade.

Em outros casos, podemos ter sido criados em famílias onde fomos educados a nos preocupar excessivamente com o futuro. Estava arraigado em nós que a preocupação era algo essencial para que pudéssemos evitar possíveis armadilhas. Infelizmente, ao aprendermos a estar constantemente ansiosos, não aprendemos também que éramos pessoas resilientes e que, por essa razão, poderíamos superar desafios aparentemente insuperáveis.

Ansiedade tem um lado bom, positivo e saudável? Ou todos são ruins, negativos e doentios?

A ansiedade pode ser útil, sim, porque pode nos ajudar a nos preparar para algo e a planejar com antecedência. A lei de Yerkes-Dodson (desenvolvida em 1908 pelos psicólogos Robert Yerkes e John Dodson) fala exatamente sobre isso: precisamos de uma quantidade saudável de estresse para alcançar o melhor resultado. A ansiedade também pode nos deixar gratos porque nos lembra das bênçãos que temos em nossas vidas. Afinal, muitas vezes, nos preocupamos em perder algo e, para sentir a dor de perder algo, precisamos, em primeiro lugar, amar muito algo.

De uns tempos para cá, muita gente passou a confundir inquietação com ansiedade. Como se diagnostica o transtorno de ansiedade? Não há uma banalização?

O diagnóstico de ansiedade tem algumas características essenciais: insônia, nervosismo, inquietação, tensão muscular, dificuldade de concentração... Note que a inquietação é apenas um dos componentes da ansiedade. Por si só, não atende aos critérios de diagnóstico. É preciso que haja preocupação com o fato de parecer algo fora do controle.

Eu diria que não se trata de uma banalização do diagnóstico, mas, sim, de uma simplificação do transtorno. As pessoas podem simplesmente sentir um sintoma desconfortável e achar que se trata de ansiedade. No entanto, o principal aspecto é: o quão angustiante é a ansiedade para você? E em segundo lugar: a ansiedade está impactando sua vida negativamente? Se ambos os componentes acima estiverem contribuindo para como você se sente, então, são dois dos pré-requisitos mais importantes para o diagnóstico de transtorno de ansiedade.

No livro, você confessa que, desde pequena, tem emetofobia (medo de vomitar). Fobia e ansiedade são sinônimos? Ou são coisas diferentes?

As fobias estão sob o guarda-chuva dos transtornos de ansiedade. São o diagnóstico mais comum de qualquer diagnóstico de saúde mental e, embora sejam uma forma de ansiedade, não são sinônimos.

Fonte: https://www.estadao.com.br/saude/geracoes-y-e-z-sao-as-mais-ansiosas-alerta-psicologa-americana-em-livro/

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