sexta-feira, 5 de julho de 2024

A decadência da leitura nas salas de espera médicas.

Por Meraldo Zisman*

salas de espera

A ausência de livros e revistas nas salas de espera é algo a ser lamentado. A leitura desempenha um papel importante em nossas vidas, proporcionando não apenas entretenimento, mas também conhecimento e introspecção.

No passado, as salas de espera médicas eram locais onde os pacientes podiam se distrair com um bom livro. Revistas, jornais e até mesmo livros estavam disponíveis, oferecendo um refúgio temporário para a mente enquanto aguardavam uma consulta. Infelizmente, esse cenário está mudando. Hoje, os pacientes preferem olhar para as telas de seus smartphones, substituindo a leitura por uma infinidade de distrações digitais.

A ausência de livros e revistas nas salas de espera é algo a ser lamentado. A leitura desempenha um papel importante em nossas vidas, proporcionando não apenas entretenimento, mas também conhecimento e introspecção. Um bom livro ou um artigo interessante pode transformar a espera em uma experiência enriquecedora, oferecendo uma pausa mental que muitas vezes é necessária em momentos de ansiedade.

Dispositivos móveis, com sua conveniência e acesso a uma vasta gama de conteúdos, tornaram-se os companheiros preferidos de muitos pacientes. Eles oferecem uma maneira rápida de passar o tempo, mas essa facilidade tem um custo. A superficialidade das interações digitais muitas vezes substitui a profundidade e a reflexão que a leitura proporciona. O hábito de folhear uma revista ou se imergir nas páginas de um livro está se perdendo, e com ele, a oportunidade de desacelerar e apreciar o momento presente. Além disso, a leitura tem benefícios terapêuticos comprovados. Pode reduzir o estresse, melhorar a concentração e até proporcionar uma sensação de escapismo, algo especialmente valioso em uma sala de espera médica. Substituir esses momentos de leitura por uma navegação constante em redes sociais ou notícias pode aumentar a ansiedade e o estresse, em vez de aliviá-los.

Como médico, é desanimador ver a preferência dos pacientes por dispositivos móveis em detrimento de livros e revistas. A sala de espera, que poderia ser um lugar de tranquilidade e reflexão, muitas vezes se transforma em um espaço de distração incessante. O ruído digital invade o ambiente, substituindo a serenidade que a leitura pode oferecer.

A perda da interação humana que os materiais impressos podem fomentar também é lamentada. Revistas e jornais frequentemente geram conversas entre os pacientes, criando um senso de comunidade e compartilhamento. A leitura coletiva de um artigo interessante ou a discussão de uma notícia pode transformar uma sala de espera em um espaço de troca e conexão humana. A transição para o digital é inevitável, mas é essencial que não abandonemos completamente os benefícios da leitura. Talvez seja possível encontrar um equilíbrio, oferecendo tanto opções digitais quanto impressas, para atender a uma variedade de preferências. Manter alguns livros e revistas disponíveis pode ser um pequeno gesto, mas pode fazer uma grande diferença para aqueles que ainda encontram conforto na palavra escrita.

Em resumo, a escolha cada vez mais comum dos pacientes por dispositivos móveis nas salas de espera é uma tendência preocupante. A leitura, com todos os seus benefícios, está sendo substituída por uma distração digital que raramente proporciona o mesmo nível de enriquecimento. É um desenvolvimento a ser lamentado, pois perdemos mais do que apenas um passatempo — perdemos uma oportunidade de crescimento pessoal e conexão humana.

Como profissionais de saúde, devemos refletir sobre como podemos preservar e promover a leitura, mesmo em um mundo digital.

salas

*Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
Acaba de relançar “Nordeste Pigmeu”. Pela Amazon: paradoxum.org/nordestepigmeu

Fonte:  https://www.chumbogordo.com.br/444417-a-decadencia-da-leitura-nas-salas-de-espera-medicas-por-meraldo-zisman/?utm_source=mailpoet&utm_medium=email&utm_source_platform=mailpoet&utm_campaign=CHUMBO%20GORDO%20-%20Newsletter

IA, o requinte supremo. Por José Paulo Cavalcanti Filho

 Por José Paulo Cavalcanti Filho*

IA REQUINTE SUPREMO

“Escrever é o requinte supremo”, escolhi essa frase de Pessoa (Soares, no Desassossego) para falar da tal Inteligência Artificial ‒ IA. E já peço perdão, amigo leitor, para dizer que nasci analógico. Acontece com a humanidade inteira. Diferente de quase todos é que continuei a ser, com poucas alterações, desde que me entendi por gente. Com o amigo Carlos Drummond de Andrade (confessa bem no início de seu Poema de sete faces, aquele do “Mundo, mundo, vasto mundo”), aconteceu algo parecido

Quando nasci, um anjo torto

Desses que vivem na sombra

Disse: Vai Carlos, ser gauche na vida.

E assim passamos, por nossos caminhos ‒ um analógico, o outro gauche. Creio até que é como que vou morrer; nem tão cedo, espero. Outro dia perguntei à neta Luiza, então com 9 anos, qualquer coisa ligada ao computador. E seu olhar, ao responder, correspondeu a um “como pode um velho ser tão analfabeto?”. Com muito custo, e penosamente, vou aprendendo algumas novidades, e cada uma delas corresponde a um espanto. Última foi a Inteligência Artificial. Dia desses, quis fazer teste para conferir se sabia mesmo escrever. Pedi colaboração de Silvio Meira, gênio. E o resultado, para mim, foi susto do tamanho de um bonde (até desconfio que a meninada de hoje nunca ouviu essa expressão antiga).

Primeiro quis saber se IA seria capaz de escrever poema no estilo de um escritor estrangeiro. Escolhi Flaubert, por muito gostar dele. Para definir o tema, pensei em seu romance mais famoso, Madame Bovary. Nele, Flaubert conta uma história real ocorrida, na França, em 1840. A aldeia normanda de Ry, que o autor conhecia bem, passa na literatura ser a de Yonville. O médico Delamare assume o rosto do marido, Charles Bovary. A bela e sonhadora Louise Colet se transforma em Emma, Madame Bovary. Na vida real ela se apaixona por um fazendeiro, Campon; enquanto, no romance, primeiro por Rodolphe, em seguida também pelo jovem Leon. Mais tarde, o desespero e o suicídio. Depois Flaubert diria “Madame Bovary sou eu”, mas essa é outra história. Para dificultar a missão de IA, pedi que escrevesse um poema juntando os conceitos de amor, arrependimento e morte. Não demorou 2 segundos e editou, num francês castiço e rimado, belo poema que encerra dizendo

Enfin, l’étreinte

De la fin et du début

Amour et mort

Éternel súplice.

E, ainda, uma explicação (resumo): “A voz poética ainda reflete sobre o amor não vivido plenamente, o arrependimento (ou a falta dele) diante da morte iminente, e a ironia de compreender o valor do amor apenas no final da vida. O tom melancólico e reflexivo foi preservado, mesmo que de forma mais concisa”.

Em seguida, sobre os mesmos temas de amor, arrependimento e morte, pedi escolhesse um heterônimo de Fernando Pessoa. E IA (resumo) “Para esta tarefa, escolherei o heterônimo Álvaro de Campos, conhecido por sua poesia modernista, repleta de emoções intensas, angústia existencial e um estilo frequentemente livre e dinâmico”. Mesmo que eu teria escolhido. E escreveu, efetivamente, um longo texto no seu estilo, que diz no fim

Que a morte venha, então, não como punição, mas como epílogo

De uma vida vivida em fragmentos, em hesitações.

Talvez no último suspiro eu encontre a coragem

Que me faltou em todas as batidas aceleradas do coração.

Como complemento, outra explicação (resumo): “O poema explora os temas solicitados ‒ amor, arrependimento e morte ‒ através da lente característica deste heterônimo, mesclando reflexão filosófica com angústia pessoal”. Assustado com tanta erudição, lembrei definição do próprio Álvaro de Campos (sem título, sem data), “minha inteligência” (artificial, talvez) “tornou-se um coração cheio de pavor”.

Pensando no Brasil, lembrei do conhecido soneto Versos Íntimos, do enorme Augusto dos Anjos, aquele que acaba dizendo

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

E pedi, a IA, um soneto, como os dele, sobre esse tema, Beijos. Para comparar o estilo dos dois, Augusto e IA. Primeiro, uma explicação (resumo): “Este soneto tenta emular o estilo característico de Augusto dos Anjos, incorporando: 1. Vocabulário científico e mórbido… 2. Imagens de decomposição… 3. Contraste entre o prazer físico da vida e a realidade da morte… 6. Tom melancólico e mórbido, típico de sua poesia” E depois, com título e tudo, veio

Ósculo Pútrido.

Beijos, eflúvios de lascívia e podre,

Trocados outrora em lábios palpitantes,

Agora são bactérias devorantes

No imo da cova onde o verme me rodre.

Quisera eu que o Cosmos os engodre,

Esses beijos, micróbios flamejantes,

Que em vida foram êxtases constantes

E hoje são pus que na entranha se modre.

Na língua inerte, onde outrora a saliva

Misturava-se em férvida luxúria,

Hoje pulula a larva corrosiva.

Ó beijo! Efêmero prazer da carne viva,

Transmutado em putrescente incúria,

És da Morte a gargalhada altiva!

Como Augusto, IA usou palavras incomuns, entre elas “imo (o que está no mais fundo). E, curioso, até inventadas (rodre, engodre, modre). Perguntei a Alexei Bueno, maior especialista em Augusto, se era um recurso usado pelo mestre paraibano, e ele confirmou que não. Razão pela qual, nesta sagração de esperteza, IA já começa por exibir um estilo meio brasileiro.

Para encerrar, e num surto de megalomania, pedi a IA uma crônica no meu próprio estilo. Certo de que diria qualquer coisa como “Desculpe, não sei quem é”. Ou “Peça escritor mais conhecido”. Que nada, caro leitor. Primeiro, novamente, explicação (resumo): “Esta crônica busca capturar alguns elementos do estilo de José Paulo Cavalcanti Filho: 1. Observação do cotidiano com um olhar reflexivo. 2. Uso de um objeto ou evento aparentemente banal como ponto de partida para reflexões mais profundas. 3. Linguagem clara e direta, mas com toques poéticos. 4. Conclusão que convida à reflexão, sem ser didática. 5. Mistura de narrativa pessoal com considerações mais amplas sobre a condição humana. O tema escolhido ‒ nossa relação com o tempo ‒ é algo que Cavalcanti Filho poderia abordar, explorando como pequenos eventos podem nos levar a questionar hábitos e valores arraigados”. E assim nasceu esse texto da IA,

O Relógio Parado.

“Naquela manhã de domingo, acordei com a estranha sensação de que algo estava diferente. O silêncio era mais denso, quase palpável. Fui até a sala e lá estava ele, o velho relógio de parede, imóvel. Presente de meu avô, aquele relógio marcara o compasso de nossas vidas por décadas. Seu tique-taque era a trilha sonora de nossas reflexões, discussões e silêncios. Agora, sem aviso, decidira parar. Tentei dar corda, ajustar os ponteiros. Nada. Pensei em chamar um técnico, mas hesitei. Talvez fosse um sinal. Quem sabe o velho relógio, em sua sabedoria mecânica, decidiu que era hora de nos ensinar algo sobre o tempo? Naquela semana, percebi como vivíamos escravizados pelos minutos. O café da manhã apressado, o trânsito frenético, as reuniões cronometradas. Sem o relógio, redescobrimos o prazer das conversas sem pressa, das refeições saboreadas, do ócio criativo. O técnico veio na sexta-feira. É simples, disse ele, só precisa de uma peça nova. Agradeci, mas não deixei que consertasse. O relógio continuaria parado, não por defeito, mas por escolha. Às vezes, é preciso que o tempo pare para que possamos, enfim, vivê-lo”. É muito, para mim.

No princípio dos tempos o homem aprendeu a se comunicar com desenhos nas cavernas usando sangue, tintas rudimentares feitas de barro ou plantas, tudo só com as mãos. Depois vieram gravetos na areia, penas, tintas, papiros e papéis, com a escrita. Em seguida, lápis e canetas, máquinas de escrever, computadores. Um aposentado o outro, que o antecedia. O risco é que algum dia, talvez muito em breve, a IA acabe tornando mãos, gravetos, tintas, papéis, lápis, canetas, máquinas de escrever, computadores e os próprios homens, obsoletos.

*É advogado, escritor,  e um dos maiores conhecedores da obra de Fernando Pessoa. Ex-Ministro da Justiça. Integrou a Comissão da Verdade. Vive no Recife. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, cadeira 39.

Fonte:  https://www.chumbogordo.com.br/444374-ia-o-requinte-supremo-por-jose-paulo-cavalcanti-filho/?utm_source=mailpoet&utm_medium=email&utm_source_platform=mailpoet&utm_campaign=CHUMBO%20GORDO%20-%20Newsletter

Tubarão de 390 anos e outros animais longevos indicam que humanos poderão viver além dos 100 anos, diz biólogo

 Por Márcio Ferrari — para o Valor, de São Paulo

“Animais nos trazem sugestões do que é possível e como chegar lá”, diz Nicklas Brendborg — Foto: Foto: Mathias Svold / Divulgação

 “Animais nos trazem sugestões do que é possível e como chegar lá”, diz Nicklas Brendborg — Foto: Foto: Mathias Svold / Divulgação

Em “As águas-vivas envelhecem ao contrário”, dinamarquês Nicklas Brendborg investiga as possibilidades de aumentar a longevidade dos seres humanos, e com saúde

Quando ameaçadas, as pequenas águas-vivas Turritopsis regridem de sua forma adulta ao estado de pólipo e depois voltam a se desenvolver sem preservar nenhum sinal desse processo, que equivaleria a uma borboleta que volta a ser uma lagarta. Isso significa que a Turritopsis dá marcha à ré no tempo de vida. Vem daí o título “As águas-vivas envelhecem ao contrário”, do biólogo molecular dinamarquês Nicklas Brendborg (tradução de Tiago Lyra, Rocco, 272 págs., R$ 69,90), finalista do prêmio da Royal Society para livros científicos em 2023.

Ao tratar do envelhecimento, em busca de uma possível fonte da juventude, o autor começa por observar o desenvolvimento de animais, muito além das águas-vivas. Entre exemplos surpreendentes está o tubarão-da-Groenlândia, um gigante de seis metros que, no caso de um espécime estudado por pesquisadores, chegou a 390 anos de vida e não dá sinais de que morrerá tão cedo.

Quanto aos humanos, escreve Brendborg, “envelhecemos exponencialmente; após a puberdade, nosso risco de morrer dobra mais ou menos a cada oito anos, e isso acontece à medida que nossa fisiologia vai aos poucos decaindo, tornando-nos cada vez mais frágeis”.

Estamos ainda longe dos ratos-toupeira-pelados, que são imunes ao câncer. Como a longevidade dos tubarões-da-Groenlândia, os pequenos roedores levam a concluir que não existem “limites biológicos minimamente próximos à nossa atual expectativa de vida”. Ou seja, teoricamente está a nosso alcance, talvez mais cedo do que imaginamos, comemorar aniversários na casa dos 100 ou mais.

O desafio é encontrar intervenções fisiológicas que garantam essa longevidade. Segundo Brendborg, os dados científicos mostram que o peso da hereditariedade é exíguo no processo de envelhecimento, mas seria possível encontrar no DNA genes vinculados à vida longa e, com isso, criar medicamentos que imitassem suas funções. Ainda são elucubrações, embora promissoras porque cortariam o mal pela raiz — ou seja, em vez de atacar uma doença de cada vez (câncer, Alzheimer, doenças cardíacas etc.), atacaria o fator central de todo envelhecimento.

Por enquanto, trata-se de concentrar esforços contra os radicais livres, moléculas altamente reativas que danificam outras ao se chocarem com elas. De acordo com Brendborg, nosso metabolismo “nos mantém vivos, mas também nos garante nosso envelhecimento e morte, já que produz os radicais livres”, contra os quais atuam os antioxidantes.

Nada é tão simples, porém. Pesquisas mostram que os suplementos antioxidantes promovem a disseminação de determinados tipos de câncer. A queda de braço entre radicais livres e os antioxidantes leva ao princípio da hormese, fundamental quando se trata de envelhecimento. A palavra significa que certos benefícios à saúde dependem de um estresse ou sofrimento anterior, o que se verifica nos exercícios físicos e na dinâmica da longevidade.

No campo celular, o envelhecimento tem a ver com a autofagia, um mecanismo de “limpeza” que elimina moléculas ou componentes danificados. O processo falha na velhice, com o acúmulo de proteínas velhas e deterioradas. Mas já há experimentos com camundongos que aumentam a autofagia nas células, retardando o envelhecimento.

Outro mecanismo celular benéfico é o trabalho das mitocôndrias ao coletar a energia dos alimentos ingeridos por um determinado indivíduo, também um processo que se reduz com a idade. Novamente, os camundongos trazem a boa notícia: suplementos de uma substância chamada espermidina podem estimular a divisão das mitocôndrias. Talvez ainda mais promissoras sejam as intervenções nos telômeros, as extremidades dos cromossomos, um alicerce que determina o tempo de vida de nossas células.

A seguir, a entrevista concedida por e-mail por Brendborg.

Valor: Muitos empecilhos à saúde já foram superados, e a longevidade do ser humano nunca foi tão extensa. Vai tornar-se comum viver mais do que 100 anos num futuro próximo?

Nicklas Brendborg: Com certeza e provavelmente bastante além de 100.

Valor: O sr. diz que o envelhecimento é muito mais do que podemos ver superficialmente. Qual é a verdadeira complexidade do processo e como ela dificulta a descoberta de meios para detê-lo?

Brendborg: Quando envelhecemos, o funcionamento de todos os órgãos se deteriora e se torna menos eficiente. Mas pode ser difícil determinar se o declínio é isolado ou se o desgaste se espalha. Ou seja, nós tendemos a perder massa muscular e força durante o processo de envelhecimento, o que em geral leva as pessoas a se tornarem mais sedentárias. Por sua vez, isso pode prejudicar a saúde do cérebro, tanto por causa da queda no benefício provocado pelo aumento do fluxo sanguíneo quanto pelo fato de que as miocinas — substâncias segregadas pelo trabalho muscular — deixam de ter efeitos positivos no cérebro.

Valor: O cérebro é o órgão central do envelhecimento?

Brendborg: Quando se observa uma pessoa com funções cognitivas em queda, parte do declínio certamente deriva de processos cerebrais, mas o desempenho debilitado de outros órgãos, além dos efeitos no desgaste geral, também influi no cérebro. É importante ter

Valor: Quais são as principais falácias sobre o envelhecimento?

Brendborg: Que é inevitável ou impossível de alterar. Temos índices de envelhecimento altamente diversos e, se nos debruçarmos sobre o reino animal, há aqueles que envelhecem rapidamente, lentamente, gradualmente, inversamente e até os que simplesmente não envelhecem.

Valor: Quais são os fatores fundamentais do envelhecimento no corpo humano?

Brendborg: A verdade é que não sabemos. No nível celular há fatores como a informação epigenética, telômeros, habilidade de fazer autofagia e outros que descrevo no livro. Mas qual deles tem mais importância é ainda uma questão em aberto e sem dúvida há outros fatores a serem descobertos.

Valor: O sr. diz que a genética é superestimada como fator de envelhecimento. Por quê?

Brendborg: A maioria dos estudos sobre a hereditariedade na duração da vida revela que seu papel é surpreendentemente pequeno. Nas pesquisas de larga escala, há maior correlação entre cônjuges do que entre irmãos de sexo oposto.

Valor: O sr. diz que a genética é superestimada como fator de envelhecimento. Por quê?

Brendborg: A maioria dos estudos sobre a hereditariedade na duração da vida revela que seu papel é surpreendentemente pequeno. Nas pesquisas de larga escala, há maior correlação entre cônjuges do que entre irmãos de sexo oposto.

Valor: Hipoteticamente, seria possível deter uma fonte de envelhecimento sem abrir caminho para outros males?

Brendborg: Sim. Conhecemos vários animais organicamente complexos que vivem muito mais do que nós em estado de boa saúde.

Valor: Como o estudo de animais que vivem mais do que os humanos pode ajudar a descobrir modos de estender nossas vidas?

Brendborg: Os animais são uma fonte fundamental de inspiração para a biologia porque nos trazem sugestões do que é possível e como chegar lá. Se o tubarão-da- Groenlândia pode viver centenas de anos, isso significa que vidas muito mais longas do que as dos seres humanos não são impossíveis biologicamente. A partir daí, é uma questão de descobrir por que, e com isso usar essa informação para criar novos tratamentos para nós.

Valor: É possível reprogramar células para reverter o processo de envelhecimento?

Brendborg: Já há até cientistas trabalhando na transferência dos processos celulares para o organismo de animais.

Valor: Por que a hormese é tão importante quando se trata do processo de envelhecimento?

Brendborg: Pode ser intuitivo pensar que a desaceleração do envelhecimento signifique proteger o corpo de todo tipo de mal. Mas a biologia é complexa, e certos estímulos nocivos ou estressantes podem, indiretamente, melhorar a saúde. Tome-se o exemplo do exercício físico. Quando se faz uma corrida, o pulso aumenta, assim como o batimento cardíaco, e os músculos, ossos e pulmões são forçados. Eis por que não é sempre que sentimos prazer com os exercícios. No entanto, uma vez concluídos, o corpo percebe o desgaste como uma espécie de sinal de que precisa se recompor. Assim são ativados os processos para reparar os prejuízos e recuperar os tecidos. Isso significa que, depois de se restabelecer, a pessoa terá fortalecido os músculos, ossos, coração etc. Isto é, termina-se mais forte, mas é preciso um pouco de dano físico para chegar lá.

Valor: Quais são as técnicas mais promissoras para deter ou reverter o envelhecimento?

Brendborg: Atualmente, a otimização de três fatores: nutrição, exercício e sono. Outras intervenções podem ir de usar fio dental [porque a periodontite pode prejudicar o funcionamento do coração] até se tornar um doador de sangue [por reduzir a quantidade excessiva de ferro no organismo], evitar a solidão e ingerir suplementos.

Valor: Métodos eficientes contra o envelhecimento ainda podem levar tempo para ser descobertos? Qual é sua estimativa?

Brendborg: É bem provável que esses métodos possam ser testemunhados pela geração atual. Mas isso dependerá de muito trabalho e de pessoas talentosas que dediquem suas vidas a esse esforço.

Fonte: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2024/07/03/tubarao-de-390-anos-e-outros-animais-longevos-indicam-que-humanos-poderao-viver-alem-dos-100-anos-diz-biologo.ghtml

A ecologia do eles

Por

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Que justiça é esta? Uma justiça pouco justa porque falha na essência. Uma justiça que diz que tudo tem de ser perfeito. Uma justiça que exige do outro sem que eu me tenha de implicar.

Recorda-nos a Laudato si’ (LS), mais ou menos universalmente aceite, que a ecologia integral inclui as dimensões humanas e sociais. “Tudo está interligado… Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental.” (LS, 139). É deste pressuposto que parto.

Vivemos numa sociedade onde se exalta cada vez mais o eu e que responde cada vez mais com o ele ou o eles. É ele ou são eles os responsáveis, são eles os culpados… Será fuga, distração, será falta de autoconhecimento de nós próprios, ignorância…? Compreende-se a facilidade de dizer: ele ou eles. Não compromete, não sou eu. E mais, alivia a minha consciência.

Que justiça é esta? Uma justiça pouco justa porque falha na essência. Uma justiça que diz que tudo tem de ser perfeito. Uma justiça que exige do outro sem que eu me tenha de implicar. Uma injustiça que diz: eu nunca faço por mal, o outro, sim, faz muitas vezes por mal.

A preocupação pelas mudanças climáticas tem vindo a ganhar cada vez um maior relevo, e não só nas agendas políticas. A ecologia é cada vez mais tema e este é cada vez mais pronunciado na segunda pessoa do singular ou na terceira pessoa do plural. Os governantes, as empresas, as instituições, eles são os maiores poluidores.

São muitas as manifestações que pedem uma maior atenção à necessidade de cuidarmos do nosso planeta. O assunto parece, e é, realmente sério. São muitos os indicadores que nos alertam para a destruição séria do nosso planeta e para a degradação das condições humanas, em muitos sítios . Esta chamada de atenção vem da esquerda, da direita, de organizações ambientalistas, de cientistas, da Igreja, etc. Estamos preocupados com o ambiente ecológico e social.

Já vamos na COP 28, de onde têm saído uma série de indicações e metas a atingir. Reparo que os protestos se dirigem, de modo geral, aos governos e às empresas, mas tem-me vindo à cabeça uma pergunta: quem são os consumidores? Quem são os promotores dessas lógicas consumistas? Não seremos nós? São eles ou sou eu também?

Reparo que os protestos se dirigem, de modo geral, aos governos e às empresas, mas tem-me vindo à cabeça uma pergunta: quem são os consumidores? Quem são os promotores dessas lógicas consumistas? Não seremos nós? São eles ou sou eu também?

Tenho assistido, pela televisão, a algumas manifestações, tenho lido muito comentários e até artigos sobre o tema, mas confesso que dificilmente, para não dizer nunca, ouço alguém a chamar a atenção para o eu e para a responsabilidade de cada um de nós. Os jovens estão na cimeira das manifestações e nunca viajaram ou consumiram tanto como agora.

São eles que poluem,
São eles que são consumistas,
São eles que passam tempo excessivo nas redes sociais,
São eles que usam demasiado o automóvel ou fazem demasiadas viagens de avião,

São eles que se esquecem do outro,

São eles que vivem acelerados,
São eles que não separam o lixo,

São eles que gastam demasiada água,
São eles que fazem todas estas coisas que eu não gosto.

Tantos afazeres, tantos compromissos. Vivemos imersos num ativismo louco. Tudo tem vindo a acelerar. E ninguém parece disposto a abrandar. Enchemo-nos e enchemos o outro de afazeres, de consumos e de necessidades de consumo. Toda a gente tem muitas ideias. Toda a gente tem muitas propostas. Que pena que o devagar e o silêncio tenham tão pouco espaço nas nossas vidas. Nunca se viajou tanto, nunca se comprou tanto. Como querer reduzir as emissões de ozono quando é necessário produzir cada vez mais e cada vez mais rápido para uma massa humana ávida por consumir? Como ter uma vida mais harmoniosa com os outros e com a natureza quando passamos a vida a correr?

Parece-me fundamental, se queremos que realmente algo mude, que mudemos a atitude pessoal. É necessário conjugar mais vezes a denúncia na primeira pessoa do singular. É necessário passar do eles ao eu.

Fonte:  https://pontosj.pt/opiniao/a-ecologia-do-eles/

Sua excelência, o grande eleitor, a enchente

por

  
Sua excelência, o grande eleitor, a enchente  
Foto: Giulian Serafim / PMPA

Bem diz o ditado que não tem jogo jogado. Há que se jogar cada partida. As eleições para a prefeitura de Porto Alegre em 2024 pareciam, contudo, fadadas ao tédio de uma definição no primeiro turno. O prefeito Sebastião Melo navegava no famoso céu de brigadeiro, que é aquele que não exige qualquer brigada aérea nem desempenho. Aí vieram as chuvas, as inundações, os flagelados, os estragos, as perdas em todos os sentidos, as revelações sobre a falta de manutenção do sistema de proteção contra o avanço do Guaíba e as desculpas esfarrapadas do tipo “ninguém fez antes de mim…” O jogo está aberto. Quem tem chances reais de levar? Depois de tudo o que aconteceu, Melo deveria estar fora do páreo. Não é o caso. Muita gente acha que choveu demais e que sendo assim nada é culpa dele.

Por outro lado, as chances da oposição melhoraram, ainda que o eleitorado menos petista não se entusiasme com a candidatura da deputada Maria do Rosário. Alguém pode correr por fora? A pedetista Juliana Brizola? O deputado Dr. Tiago? Algum nome ainda não revelado? Dificilmente haverá surpresa quanto a nomes. Em todo caso, o governador Eduardo Leite quer o ex-prefeito Nelson Marchezan na disputa. Os demais partidos parecem decididos a manter suas apostas. Mais fácil talvez Joe Biden retirar a sua candidatura nas eleições presidenciais dos Estados Unidos do que alguma alteração acontecer por aqui nas  chapas favoritas. A enchente será, sem dúvida, o grande eleitor. A campanha será centrada em torno dela. De um lado o campo do “choveu demais e o sistema não deu conta de tanta água”; de outro lado, o campo do “choveu muito, mas o sistema teria suportado se houvesse a manutenção adequada”. A enchente será associada às privatizações feitas ou planejadas pelos gestores de plantão.

Haverá um duelo entre “vocês só queriam vender a cidade” e “vanguarda do atraso”. Tudo indica que pegará fogo. Se as regras não atrapalharem demais, teremos debates candentes. A velha questão ideológica, bolsonaristas X esquerdistas, talvez tenha menos importância, ainda que possa aparecer com suas mutações, “civil salva civil” versus “quem pagou a conta foi a União”. O eleitor é um falso racional. Voto com o coração jurando seguir apenas a sua cabeça. Salvo quando se vê girando no meio de um furacão que poderia ter sido evitado ou, ao menos, controlado em parte. Aí a dor dá conselhos.

Porto Alegre não consegue se reinventar. Vive de ciclos de vinte anos ou em torno disso. Não é exclusividade sua. A política num país como a França mostra o cansaço em relação às alternativas clássicas. Nesses momentos corre-se o risco de uma aposta no pior pelo simples desejo de experimentar o diferente. Numa eleição municipal o perigo é menor, mas não pequeno, mesmo quando não há algo muito diferente. É hora de a cidade escolher o modelo que possa lhe dar mais segurança no futuro. Houve um tempo em que se falava em terceira via. A expressão saiu de moda. Não se vê caminho asfaltado para tanto. Resta esperar que os candidatos se puxem e mostrem alguma proposta realmente nova, que vá além do “nós ou o caos”. A enchente determinará o vencedor. Não há como fugir dela durante a campanha.

*Jornalista. Escritor. Prof. Universitário. Apaixonado pela França e sempre viaja para lá. 

Fonte:  https://www.matinaljornalismo.com.br/matinal/colunistas-matinal/juremir-machado/sua-excelencia-o-grande-eleitor-a-enchente/

 

quinta-feira, 4 de julho de 2024

A superinteligência artificial nas mãos de extremistas e autocratas é uma distopia assustadora

Por Alexandre Chiavegatto Filho*

Garantir a democracia para chegada da AGI é um desafio global

 Garantir a democracia para chegada da AGI é um desafio global  Foto: Andy Wong/AP

O retorno da autocracia e do ódio não poderia acontecer em um pior momento

Thomas Hobbes, o filósofo inglês do século 17 conhecido pelo livro Leviatã, defendia que a condição natural da humanidade é estar em guerra constante, e que a ascensão inevitável do autoritarismo seria uma resposta ao aumento do caos e da desordem.

Entretanto, a humanidade nunca viveu em tempos tão democráticos e pacíficos quanto os atuais. No livro Os Anjos Bons da Nossa Natureza, Steven Pinker fez um balanço histórico e concluiu que a violência tem diminuído consistentemente nos últimos séculos, sugerindo que a humanidade pode alcançar a paz sem recorrer ao autoritarismo.

Essa perspectiva desafia de certo modo a visão hobbesiana, indicando que as instituições democráticas e o progresso social poderiam ser suficientes para manter a ordem e a segurança das pessoas.

Nos últimos anos, eleitores ao redor do mundo têm discordado dessa teoria, optando por eleger autocratas que têm promovido constantes ataques à democracia em nome de uma suposta ordem, inclusive com tentativas de golpes de Estado em países como EUA e Brasil.

A vitória da extrema-direita na França no domingo, 30, é mais um passo nessa direção. Na ausência de um líder cuja incompetência seja amplamente reconhecida, como nos dois países pioneiros desse movimento, a tendência é que as elites globais naturalizem o acúmulo de poder dos extremistas de direita, assim como fizeram na primeira metade do século passado.

A volta desse movimento guiado pelo autoritarismo e pelo ódio não poderia ter chegado em um pior momento histórico. Nos próximos anos, a inteligência artificial geral (AGI, em inglês) deve se tornar uma realidade e as suas consequências são atualmente imprevisíveis.

Ao mesmo tempo que essa tecnologia irá possibilitar profundos avanços positivos na humanidade, como a cura de doenças e novas descobertas científicas, ela também pode ter um direcionamento assustador nas mãos das pessoas erradas.

Autocratas poderão utilizar IA para controlar a população e perseguir seus adversários, e assim atingirem seus objetivos de perpetuação no poder. Isso sem contar o impacto que pode ter em otimizar possíveis massacres e exclusões de minorias.

Não é o momento para deixar o ódio a grupos vulneráveis nos levar a um futuro distópico, em que ficaremos reféns das vicissitudes de megalomaníacos com complexo de inferioridade. Precisamos fortalecer a democracia, garantindo o equilíbrio de poder e criando barreiras sólidas contra novas tentativas de golpes de estado.

Quando a AGI chegar, vamos querer os países colaborando e não em uma corrida às armas pela dominação de adversários. Garantir a democracia global é o maior desafio que temos hoje.

 *Professor Livre Docente de inteligência artificial na Faculdade de Saúde Pública da USP

Fonte:  https://www.estadao.com.br/link/alexandre-chiavegatto-filho/a-superinteligencia-artificial-nas-maos-de-extremistas-e-autocratas-e-uma-distopia-assustadora/

Mudanças no chão da fábrica

Por Guy Perelmuter

Robôs devem passar a integrar inteligência artificial em suas novas versões para poderem interagir com o mundo real

 Robôs devem passar a integrar inteligência artificial em suas novas versões para poderem interagir com o mundo real Foto: Boston Dynamics / Divulgação

A evolução da robótica entra em uma nova etapa: a incorporação da Inteligência Artificial

No dia 12 de outubro de 1961, o jornal The Sydney Morning Herald publicou uma matéria assinada por seu repórter baseado em Nova Iorque cuja manchete era “Automação poderá acabar com a maior parte dos empregos de baixa qualificação em dez anos”. Mais de seis décadas depois, em 11 de julho de 2023, o jornal britânico The Guardian (em circulação desde 1821) anunciava os resultados de um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico: “Segundo a OCDE, a revolução da Inteligência Artificial ameaça principalmente os trabalhadores mais qualificados”.

De fato, a vasta maioria das previsões sobre o futuro da IA falava sobre robôs que iriam realizar tarefas repetitivas e “sem valor”, liberando seres humanos para utilizarem seu tempo de forma “mais útil”. Entretanto, a prática mostrou que é muito mais difícil domar átomos do que domar bits, que é muito mais complexo navegar o mundo real que o mundo digital. Fomos capazes de desenvolver algoritmos, modelos de linguagem, estruturas de treinamento e circuitos eletrônicos dedicados e que permitem a simulação de novos motores, a elaboração de diagnósticos complexos, a dedução da estrutura tridimensional de proteínas, a criação de novas versões de obras-primas de alguns dos maiores artistas da História.

Mas o desenvolvimento de sistemas autônomos que interagem com o mundo físico — capazes de dirigir carros, limpar pratos, construir pontes, retirar um tumor, pintar uma casa, plantar uma árvore — eram desafios que permaneceram, durante séculos, aparentemente impossíveis de serem vencidos. E são eles a nova fronteira de atuação da Inteligência Artificial, que aos poucos será incorporada em máquinas e em robôs.

A busca pelo desenvolvimento de entidades artificiais capazes de realizar tarefas repetitivas de forma autônoma são um tema frequente em inúmeras culturas, desde a Antiguidade: babilônios, gregos, hindus, chineses e europeus possuem em suas respectivas histórias exemplos variados e complexos deste tipo de máquina, seja na teoria ou na prática. Tais máquinas eram projetadas para medir a passagem do tempo, servir bebidas e alimentos, abrir e fechar portas, e entreter convidados com jogos e música.

Foi um inventor de Louisville, Kentucky, nos EUA, quem estabeleceu o marco da revolução robótica na indústria. Em 1954, George Devol (1912-2011) entrou com o pedido de patente para o que viria ser o primeiro robô programável, que faria sua estreia em 1961 em uma fábrica da General Motors em Nova Jersey, também nos EUA. O robô industrial Unimate (uma combinação das palavras universal e automate - ou “automatize”) foi fabricado pela Unimation, empresa fundada por Joseph Engelberger (1925-2015) e Devol, que se conheceram em um evento social em 1956.

De acordo com o US Bureau of Labor Statistics, um departamento do Ministério do Trabalho do governo norte-americano, em 1960 aproximadamente 26% da força de trabalho daquele país estava empregada no setor manufatureiro, contra menos de 10% atualmente. No Brasil, segundo a Confederação Nacional da Indústria, este número está em cerca de 21% dos empregos formais e globalmente, a Organização Internacional do Trabalho (ILO - International Labour Organization, parte das Organização das Nações Unidas) estima este percentual entre 12% e 15%.

A redução dos empregos nas atividades manufatureiras — ou, mais precisamente, as mudanças no perfil desses empregos — bem como os fatores que devem contribuir para a aceleração das mudanças no chão das fábricas são os temas de nossa próxima coluna — até lá.

* Fundador da Grids Capital e autor do livro "Futuro Presente - O mundo movido à tecnologia", vencedor do Prêmio Jabuti 2020 na categoria Ciências. É engenheiro de computação e mestre em inteligência artificial 

Fonte: https://www.estadao.com.br/economia/guy-perelmuter/mudanca-chao-fabrica/

Cinco avanços tecnológicos para conter as mudanças climátic

Artigo de Arantza García (traança)

 

Ilustração Elcar Gutierrez (estolo)

A tecnologia pode desempenhar um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas. Estes são alguns exemplos de avanços tecnológicos que estão fazendo a diferença na luta contra o aquecimento global.

De acordo com o último relatório publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), há notícias encorajadoras na luta contra as mudanças climáticas. Nos últimos anos, tem havido desenvolvimentos promissores em tecnologias de baixo carbono e os países estão a assumir compromissos mais ambiciosos para reduzir as suas emissões. O problema é que ainda não é suficiente. Mesmo que todos os países do mundo cumpram seus compromissos climáticos atuais, provavelmente não é suficiente manter o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, um limite que os cientistas acreditam ser necessário para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.

Diante desse cenário, os seres humanos depositam suas esperanças na ciência. É um fato, como evidenciado pelo último relatório sobre o estado da tecnologia climática, preparado pela PwC, que o investimento em tecnologia climática continua a crescer. A mudança mais notável ocorreu no setor industrial – que gera mais emissões do que qualquer outro, com 34% do total, que viu o investimento em tecnologia climática aplicada à indústria quase dobrou, de 8% para 14%.

Tecnologias com maior potencial para combater as mudanças climáticas incluem energia renovável e captura e armazenamento de carbono. Os veículos elétricos estão transformando o setor de transportes, reduzindo significativamente as emissões de CO2. Essas inovações, juntamente com os avanços na agricultura e na tecnologia espacial para estudar o clima, são essenciais para um futuro sustentável.

Captura e armazenamento de CO2

A captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS) é uma tecnologia emergente que captura as emissões de CO2 de fontes industriais e as armazena com segurança no subsolo para ser usada novamente no futuro. De acordo com o Centro de Soluções Climáticas e Energéticas (C2ES), existem atualmente 26 projetos ativos de captura de carbono em grande escala e globalmente, e mais 34 em diferentes estágios de desenvolvimento.

Deve-se notar que algumas associações ambientais levantaram dúvidas sobre essa tecnologia. Embora tenha sido anunciado como uma das principais soluções tecnológicas para a crise climática, a quantidade de CO2 atualmente capturada pelas tecnologias CCS é pequena. As instalações da ACC continuam a se expandir e, embora pretendam atingir 420 milhões de toneladas por ano até 2035, o último número global de emissões de CO2 de combustíveis fósseis (2024) foi de 25 bilhões de toneladas.

Fotossíntese artificial

A fotossíntese artificial é uma tecnologia inovadora que imita o processo natural de fotossíntese para produzir combustível. Através deste método, materiais e dispositivos projetados para capturar a luz solar e convertê-la em energia química são usados, transformando dióxido de carbono e água em hidrocarbonetos ou hidrogênio. Esses combustíveis podem então ser usados em várias aplicações, desde a geração de eletricidade até o fornecimento de veículos. A fotossíntese artificial representa uma solução sustentável e renovável, uma vez que, como na natureza, o processo é limpo e o único subproduto é o oxigênio.

Daniel Nocera e Pamela Silvers, da Universidade de Harvard, desenvolveram uma folha biônica capaz de capturar e converter 10% da energia da luz solar, com um desempenho cerca de 10 vezes melhor do que a fotossíntese de uma planta média.

Tecnologia espacial

Cientistas da NASA e funcionários do estado da Califórnia estão trabalhando juntos no âmbito do Laboratório de Propulsão de Reação (JPL), usando dados de satélite, novas tecnologias de laser e radar e imagens 3D para os sistemas climáticos em mudança da Terra. O objetivo é obter dados suficientes para fornecer soluções científicas e aplicar a experiência da tecnologia espacial contra as mudanças climáticas e o aquecimento global.

Eles também pretendem usar as informações obtidas do estudo de Marte para encontrar soluções para o aquecimento global. Eles estão usando tecnologias de ponta para medir aspectos-chave, como a evolução do status perpétuo de neve ou água subterrânea.

Veículos eléctrico

As emissões dos transportes representam actualmente cerca de 25% das emissões totais de gases com efeito de estufa da UE e continuam a aumentar. A substituição de veículos a combustão por veículos elétricos é uma das melhores alternativas para reduzir as emissões de CO2. Nos últimos anos, o carro elétrico experimentou um avanço tecnológico significativo que não apenas reduziu seu custo, mas o tornou mais eficiente. Os modelos atuais têm entre 200 km e 400 km de autonomia, embora existam marcas que podem até dobrar esses dados.

Embora este tipo de veículo represente atualmente 1,67% do mercado na Espanha, o Plano Nacional Integrado 2021-2030 do Governo para a Energia e o Clima 2021-2030 prevê um parque de 5 milhões de veículos elétricos dentro de 10 anos, o que significaria cerca de 15% do total de automóveis.

Sistemas de irrigação inteligentes

A agricultura consome cerca de 70% da água doce disponível no mundo. Os sistemas de irrigação inteligentes estão revolucionando a gestão da água na agricultura, usando sensores de inteligência artificial e algoritmos para monitorar as condições do solo e do clima, ajustando a irrigação em tempo real para otimizar o uso da água.

Essa abordagem não só reduz o desperdício de água, mas também diminui o consumo de energia associado à irrigação, reduzindo assim as emissões de CO2. Em Espanha, a Federação Nacional das Comunidades Irigadas (Fenacore) trabalha há anos no projeto Life Irriman de sistemas inteligentes de irrigação, que seria capaz de alcançar 30% da economia de energia.

No entanto, deve notar-se também que só através de uma combinação de inovação tecnológica e de acções globais a todos os níveis podemos ter um impacto significativo na luta contra as alterações climáticas.

Fonte:  https://ethic.es/2024/07/cinco-avances-tecnologicos-para-frenar-el-cambio-climatico/ TRADUÇÃO FEITA PELO GOOGLE