Prestes a completar 89 anos, o cantor e compositor francês Charles
Aznavour é um homem da contemporaneidade. Estandarte da tradicional
música francesa, o artista testemunhou o surgimento de diversas
movimentações culturais juvenis. E, com entusiasmo de garoto, saudou a
todas. Sejam elas rock, heavy metal, punk rock, hip hop e música
eletrônica. "Nunca enxerguei as novas gerações como concorrentes. Pelo
contrário, sempre defendo o que é produzido pelos jovens, pois, ao mesmo
tempo, eles dão continuidade à tradição e a questionam", diz Aznavour,
autor de mais de mil canções (incluindo 150 em inglês, 100 em italiano,
70 em espanhol e 50 em alemão) e detentor da marca de mais de 200
milhões de discos vendidos pelo mundo. "Quando essas mesmas pessoas se
apaixonam, independentemente das modas, das 'tribos', é a mim que elas
recorrem. Afinal, sou eu que tenho as canções românticas no repertório",
diverte-se.
A chegada da octagésima nona primavera será comemorada em meio à
turnê sul-americana "Aznavour en Toute Intimité", que prevê
apresentações no Brasil, Argentina e Chile, entre os dias 13 e 25 - no
dia do aniversário, 22, Aznavour estará no palco do Auditório Araujo
Vianna, em Porto Alegre. "Muitas vezes me perguntam qual o segredo da
longevidade. Não há, respondo. Graças a Deus, eu e minha irmã, que tem
90 anos completos, herdamos uma ótima saúde dos nossos pais. Quer
herança mais maravilhosa que essa?"
De família de artistas armênios, cujo nome de batismo é Shahnour
Varenagh Aznavourian, o "chansonnier" estreou no tablado do teatro de
variedades ainda criança. Mas o sucesso foi conquistado vagarosamente.
No que o papel da cantora Edith Piaf (1915-1963) foi fundamental. Em
1946, uma das mais populares intérpretes francesas o viu cantando num
cabaré, e encantou-se com a performance. Logo, Aznavour estava
excursionando com a estrela pela França, pelo Canadá e pelos EUA - a
cantora teve a dolorida trajetória retratada na cinebiografia "Piaf - Um
Hino ao Amor", em 2007, assinada por Olivier Dahan. "[Edith] Piaf era
de uma verdade cênica impressionante. Ela foi de uma importância vital
para a minha carreira. Assim como outros dois amigos que sempre me
inspiram: [o cantor e comediante] Maurice Chevalier (1888-1972) e
[cantor e compositor] Charles Trenet (1913-2001), um letrista
fenomenal."
Gravado por Bing Crosby (1903-1977), Juliette Gréco, Ray Charles
(1930-2004), Shirley Bassey, Fred Astaire (1899-1987), Liza Minnelli,
Elvis Costello, entre outros. "Agradeço a todos aqueles que foram
tocados e gravaram as minhas músicas", ele afirma, na elegância, sem
revelar possíveis predileções. Aznavour também tem uma vasta carreira
cinematográfica. São mais de 60 títulos no currículo. O debute se deu em
1959, no longa-metragem "La Tête Contre les Murs", de Georges Franju
(1912-1987). E a mais recente aparição foi no filme "Ararat" (2002), de
Atom Egoyan. Porém, sua atuação, como um pianista em apuros, em "Tirez
Sur le Pianiste" ("Atire no Pianista", 1960), um inusitado experimento
noir de François Truffaut (1932-1984), é objeto de culto maior entre os
cinéfilos. Trabalhar com Truffaut, lembra Aznavour, era muito fácil. A
delicadeza com que o realizador se dirigia à equipe no set de filmagem
se refletia diretamente em suas produções. "Como ator, eu me senti
extremamente confortável. Mesmo nas cenas mais difíceis", diz ele, que
não costuma assistir aos filmes que fez, tampouco visitar os discos que
gravou.
Nos shows que faz pelo mundo, Aznavour é ladeado por uma grande
orquestra. E, no íntimo, leva consigo a ascendência armênia - é
embaixador da República da Armênia na Suíça e representante permanente
do país junto às Nações Unidas - mesclada à cultura dos mais variados
povos do planeta. Segundo ele, o interesse global é outra das heranças
deixadas pelos pais. Os fãs do veterano "chansonnier" agradecem.
"Aznavour en Toute Intimité"
Nos dias 13 e 15, no Theatro Municipal do Rio; no dia
16, no Espaço das Américas (SP); no dia 22, no Oi Araujo Vianna (Porto
Alegre), e, no dia 25, no Chevrolet Hall (Recife)
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