L. F. Veríssimo*
Um economista americano desconhecido estava revendo a
tese de dois economistas muito conhecidos, que provava que a
responsabilidade fiscal e a austeridade nos gastos sociais favorecia, em
vez de atrasar, como diziam alguns, a recuperação econômica, e estava
sendo usada por economistas oficiais para justificar o aperto aplicado
pela maioria dos governos do mundo contra a crise, quando descobriu um
erro. Não um erro de posicionamento, de interpretação ou de redação – um
erro de matemática. Certas contas não fechavam. Dois mais dois
simplesmente não davam quatro. O economista desconhecido publicou sua
descoberta, o que o tornou conhecido, e os dois economistas conhecidos
reconheceram seu erro, mas não lhe deram importância, o que os tornou
cúmplices declarados do massacre que a tese deles continua causando. A
certeza de que com o tempo a austeridade se justificará, demonstrada
claramente nas contas erradas da dupla, só conseguiu transformar
“austeridade” em palavrão, nos países em que a maioria da população
continua pagando, com desemprego e miséria, pelos desmandos dos seus
governos e a ditadura do capital financeiro, responsável pela crise.
Mas talvez haja uma explicação que absolva os dois economistas conhecidos. É difícil imaginar que eles não tenham recorrido aos seus lepitopes, ou aos lepitopes de assistentes, para fazer suas contas. (“Veja aí, dois mais dois quanto dá?”) E os lepitopes podem ter fracassado. Hoje confiamos tudo ao computador, por que não confiar na sua matemática? E a sua matemática pode entrar em pane. Me lembrei da história do Millôr sobre o último homem do mundo que ainda sabia contar nos dedos. Um dia, todos os sistemas interligados do mundo caem. Ninguém mais consegue escrever sem um teclado, o que dirá fazer contas sem uma calculadora eletrônica. Recorrem ao homem, que cobra caro pelo seu serviço. E o fornece tranquilamente, certo de que, se errar nas suas contas primitivas, não haverá como comprovar o erro. Ele será a autoridade final em todas as contas.
A austeridade não está dando certo em nenhum lugar do mundo, muito menos nos países mais sacrificados pela crise como Grécia e Espanha. Na Inglaterra, as pompas fúnebres para Margaret Thatcher, Mrs. Austeridade, também foram, um pouco, uma celebração provocativa do aperto promovida pelo governo conservador. O neoliberalismo dando um último chute no “welfare state” antes de ser canonizado.
Dois + dois = ?
Mas talvez haja uma explicação que absolva os dois economistas conhecidos. É difícil imaginar que eles não tenham recorrido aos seus lepitopes, ou aos lepitopes de assistentes, para fazer suas contas. (“Veja aí, dois mais dois quanto dá?”) E os lepitopes podem ter fracassado. Hoje confiamos tudo ao computador, por que não confiar na sua matemática? E a sua matemática pode entrar em pane. Me lembrei da história do Millôr sobre o último homem do mundo que ainda sabia contar nos dedos. Um dia, todos os sistemas interligados do mundo caem. Ninguém mais consegue escrever sem um teclado, o que dirá fazer contas sem uma calculadora eletrônica. Recorrem ao homem, que cobra caro pelo seu serviço. E o fornece tranquilamente, certo de que, se errar nas suas contas primitivas, não haverá como comprovar o erro. Ele será a autoridade final em todas as contas.
A austeridade não está dando certo em nenhum lugar do mundo, muito menos nos países mais sacrificados pela crise como Grécia e Espanha. Na Inglaterra, as pompas fúnebres para Margaret Thatcher, Mrs. Austeridade, também foram, um pouco, uma celebração provocativa do aperto promovida pelo governo conservador. O neoliberalismo dando um último chute no “welfare state” antes de ser canonizado.
Dois + dois = ?
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* Escritor. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 09/05/2013
e IHU on line.
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