O magistério de Bergoglio não reabilita a Teologia da Libertação: ele é muito mais revolucionário
Por Alfonso M. Bruno
O ex-frade franciscano Leonardo Boff, depois de pendurar a batina por
causa da condenação das suas teorias pela Congregação da Doutrina da Fé
(evidentemente, a regra do centralismo é aceita nos partidos
comunistas, mas não na Igreja...), reencontra a honra das manchetes
europeias em entrevista concedida a Andrea Tornielli para o jornal La Stampa, de Turim, em 25 de julho.
O
ex-religioso brasileiro retorna do esquecimento em que tinha caído
depois que saíram de moda tanto a atração pelos pensamentos exóticos de
matriz terceiro-mundista quanto a vigência da ortodoxia
marxista-leninista, que, após a queda do muro de Berlim, sobrevive
apenas na serra tropical de Cuba.
Leonardo Boff retorna fazendo elogios a ninguém menos que o papa. É
uma alegria vê-lo reconciliado com a Igreja, mas parece pouco honesta,
do ponto de vista intelectual, a sua tentativa desajeitada de
contrabandear alguns aspectos do magistério de Bergoglio para as
vizinhanças da teologia da libertação.
O erro do ex-frade, que, dada a sua formação acadêmica, dificilmente
foi cometido com boa fé, pressupõe a remoção de um elemento central do
ensinamento do papa, que consiste no constante apelo à responsabilidade
ética individual de cada pessoa. Isto não significa, é claro, negar a
existência e a gravidade do pecado social, que o bispo de Roma está
fustigando com grande vigor (embora, para sermos honestos, nenhum dos
seus antecessores tenha jamais deixado de fazê-lo também).
A linha divisória entre Boff e Bergoglio é a pretensão, compartilhada
por todos os "teólogos da libertação", de considerar irrelevante o
pecado individual, justificando-o com a injustiça das condições
históricas em que ele foi cometido.
O atual papa se posiciona em uma perspectiva exatamente oposta: ao
convidar os jovens a se rebelarem contra a injustiça, ele o faz a partir
de um exame da consciência de cada indivíduo.
O pecado social, portanto, se qualifica como o resultado de inúmeras
culpas individuais, nas quais incorre qualquer um que se recusa a
assumir as suas responsabilidades para com a sociedade humana.
De acordo com Boff e com os seus colegas, deve-se, em vez disto,
prosseguir na direção oposta: a teologia moral se limitaria à análise
das condições sociais que, na opinião deles, coagem sempre e
necessariamente as escolhas pessoais.
Se por um lado eles podem não aceitar o marxismo na sua pretensão de
reduzir toda a realidade à dimensão material, eles acabam, por outro
lado, aderindo às suas consequências, ao acreditarem que o bem consiste
na mudança revolucionária da estrutura econômica e o mal na sua
preservação. Seria moralmente correto, desta forma, somente o
compromisso revolucionário de cada um, independentemente do seu
comportamento individual: acaba-se caindo, assim, num maquiavelismo
barato.
A negação da esfera espiritual, uma negação que é própria do marxismo, determina sempre a abolição de toda distinção moral.
Diante disto, as religiões, todas as religiões, acomunadas no
desprezo pelo chamado "ópio do povo", concordaram em restabelecer a
verdade, reconduzindo para dentro do homem o conflito em que a
humanidade se debate; ou seja, reconduzindo-o para a sua consciência.
Com esta base, e não com base na cansada repetição das fórmulas
marxistas que Leonardo Boff e Fidel Castro ainda intercambiam nos seus
diálogos senis, é que podemos realizar a revolução que o mundo oprimido
pela injustiça está esperando.
Bergoglio convidou os jovens de todo o mundo, no Rio de Janeiro, a se
revoltarem contra a injustiça: este apelo, sem tirar nada do seu
significado espiritual, produzirá certamente o retorno ao compromisso de
uma geração que parecia irremediavelmente afastada dele.
Em apenas um ponto Boff tem razão: quando diz que a devoção popular a
que o papa se vincula não é "pietismo", mas "preserva a identidade do
povo" contra a homologação forçada a que somos condenados pela
especulação.
Esta, juntamente com a mobilização das consciências, constitui o
outro recurso de quem não aceita a injustiça do atual status quo: a
libertação dos povos passa pela plena reapropriação da sua identidade;
quem não se reconhece numa comunidade não pode exercitar a
auto-determinação.
Mesmo aqui, no entanto, não se pode esquecer que o marxismo foi uma
tentativa de homologação forçada, que se manifestou também, mas não
apenas, na perseguição antirreligiosa.
As palavras de Boff ainda representam a evidência do poder de
convencimento próprio do magistério de Bergoglio: longa vida, pois, ao
bispo de Roma!
---------------
Fonte: RIO DE JANEIRO, 29 de Julho de 2013 (Zenit.org)
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário