Anna Wloch/divulgação
Lou de Laâge (à dir.) como a médica Mathilde de 'Agnus Dei', filme de Anne Fontaine
Uma freira escapa sorrateiramente de seu convento, atravessa uma
floresta cheia de neve e pede a crianças que a levem a um médico que não
seja polonês nem russo. Assim, a jovem noviça encontra Mathilde, médica
da Cruz Vermelha francesa servindo na Polônia, em 1945.
A partir daí, Mathilde, comunista e ateia, se vê diante do segredo das
irmãs do convento: algumas delas foram estupradas por soldados do
exército russo e estão prestes a dar à luz.
"Agnus Dei" –"as inocentes" no original francês–, filme de Anne Fontaine
("Natalie X"), está em cartaz no Festival Varilux e deve estrear no
circuito em 30 de junho.
"Mathilde é uma moça que está sempre em ação e sempre avançando, que não
para para refletir, se lamentar, sentir empatia, ela só avança",
descreve em entrevista à Folha, em São Paulo, Lou de Laâge, a atriz de
26 anos que dá vida à médica no longa.
Ela conta que teve aulas com uma parteira e com um médico para aprender
como simular uma cesária ou a maneira correta de segurar a barriga de
uma grávida.
A disciplina e o medo da vergonha entre as freiras mexeram com a fé da
médica, mas não com a da atriz. "Eu sou muito diferente da personagem,
ela é comunista, completamente fechada para as questões da fé. Ela nem
sequer as colocou antes de encontrar as religiosas, e eu não, não vivo
na guerra, tenho muito tempo para pensar nisso", diz.
De Laâge é uma queridinhas no atual cinema francês e causou furor com a
maldosa Sarah em "Respire", de Mélanie Laurent. "Eu só fazia papel de
garotinha doce, até que a Mélanie me propôs uma perversa narcisista, e
pensei: 'Nossa, isso é um presente'."
Ela diz não se incomodar que a considerem uma mulher bonita, "mas o que
perturba é ser encarcerada ao papel de um único tipo de ser humano por
causa de meu físico".
Quando da estreia de "Agnus Dei" (produção francopolonesa) na Polônia,
em março, a Conferência de Madres Superiores do país declarou não haver
provas de que freiras beneditinas enclausuradas tenham sido violadas
pelos soviéticos.
Porém, ressaltou que irmãs da ordem de santa Elizabeth não apenas
sofreram tal violência como foram "brutalmente assassinadas". Fontaine
respondeu alegando que seu filme não pretendia ser um documento
histórico sobre um congregação, mas uma ficção baseada em fatos reais.
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