Visão do Correio
Dona Zilda Arns merece todas as homenagens. Merece mais. I have a dream, eu tenho um sonho, disse, repetindo Martin Luther King, John Lennon, o beatle que dizia, ele próprio, ser mais famoso que Jesus Cristo. Mas não fez. Ficou no sonho. Dona Zilda, que tinha fé em Cristo, também tinha um sonho. E fez a diferença. Ela fez. A Pastoral da Criança foi um sonho que se concretizou. Real, palpável em milhares de pequeninos que ela atendeu, que tiveram o destino mudado.
A Pastoral cuidou das crianças, criou uma vida melhor para elas. E fez o que o beatle John Lennon imaginou e cantou na música famosa. Ultrapassou as fronteiras. Dona Zilda morreu no Haiti, por imaginar um mundo sem fronteiras, principalmente quando o assunto eram crianças carentes, tão abundantes no país mais pobre das Américas.
A morte sem fronteiras parece pesadelo. Só parece. A dor que vem do Haiti é real, é de cada brasileiro, é de todos os brasileiros. É de cada uma das crianças que ela assistiu. Mais que isso, é de cada uma das crianças que ela ensinou a assistir. Das que cresceram e continuam sua obra. Esse é o grande legado.
Dona Zilda Arns tinha uma proposta em vida. Deixou uma lição na morte, uma obra que não será velada, será reverenciada pelo bem que proporciona a tantos necessitados. E que vai continuar fazendo o bem, cuidando das crianças carentes, buscando sempre uma vida melhor para as pessoas. A obra de dona Zilda vai lhe eternizar a vida.
A Pastoral da Criança presta outro papel de grande relevância para o país. Mostra que é possível cuidar de quem precisa, mesmo com todas as dificuldades financeiras, mesmo com o sempre tão difícil apoio oficial. Ensina ao poder público que um projeto, por mais amplo e abrangente que seja, não precisa contaminar-se dos vícios administrativos governamentais.
Não precisa ceder à corrupção, que drena os recursos destinados à saúde, à educação, ao futuro. O legado de Zilda Arns, que ultrapassou as fronteiras, vai ultrapassar o tempo. Será perene, como são as obras feitas com determinação, conhecimento e seriedade — movidas pelo coração, sem segundas intenções ou interesses políticos, tão comuns país afora. A vida de Zilda Arns provou que é possível transformar sonhos em realidade.
Editorial Correio Braziliense online, 16/01/2010
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