"(...) Pensar o corpo como algo produzido na e pela cultura é, simultaneamente, um desafio e uma necessidade.
Um
desafio porque rompe, de certa forma, com o olhar naturalista sobre o
qual muitas vezes o corpo é observado, explicado, classificado e
tratado.
Uma necessidade porque ao desnaturalizá-lo revela, sobretudo, que o corpo é histórico.
Isto
é, mais do que um dado natural cuja materialidade nos presentifica no
mundo, o corpo é uma construção sobre a qual são conferidas diferentes
marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos
sociais, étnicos, etc.
Não
é portanto algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo é
provisório, mutável e mutante, suscetível a inúmeras intervenções
consoante o desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura bem
como suas leis, seus códigos morais, as representações que cria sobre
os corpos, os discursos que sobre ele produz e reproduz.
Um corpo não é apenas um corpo. É também o seu entorno.
Mais
do que um conjunto de músculos, ossos, vísceras, reflexos e sensações,
o corpo é também a roupa e os acessórios que o adornam, as intervenções
que nele se operam, a imagem que dele se produz, as máquinas que nele
se acoplam, os sentidos que nele se incorporam, os silêncios que por ele
falam, os vestígios que nele se exibem, a educação de seus gestos...
enfim, é um sem limite de possibilidades sempre reinventadas e a serem
descobertas.
Não
são, portanto, as semelhanças biológicas que o definem mas,
fundamentalmente, os significados culturais e sociais que a ele se
atribuem. (...)"
----------------------
(GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural do corpo. In: LOURO, Guacira Lopes (org). Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 28-29)
Fonte: http://luzecalor.blogspot.fr/06/05/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário