Rosely Sayão*
A empatia é um caminho para sair do individualismo e melhorar muito as relações sociais
Fui testemunha de uma cena que considerei comovente. Estava esperando
uma colega à porta de uma escola, era a hora da saída dos alunos. Mães,
pais e crianças deixavam o espaço escolar com diferentes humores e
comportamentos.
Quem já teve a oportunidade de assistir a cenas semelhantes sabe que
esse pode ser um momento um pouco confuso e barulhento, mas é sempre
muito rico para quem gosta de observar a interação entre pais e filhos.
Uma mulher e seu filho, de uns cinco anos mais ou menos, chamou a
atenção do meu olhar. Passei a acompanhá-los logo que passaram por mim.
Ela andava um pouco atrás do menino, que estava totalmente focado em
algo que levava nas mãos.
De repente, o menino jogou um objeto no chão e continuou a caminhar em
direção ao carro que --logo depois percebi-- estava bem próximo ao local
onde eles e eu estávamos.
Foi o desenrolar desse acontecimento que considerei comovente e, por
isso, compartilho com você, caro leitor. Essa mãe olhou bem para o
entorno de onde estavam e, em seguida, chamou o filho. O garoto atendeu
ao chamado da mãe de imediato e, assim que ele chegou perto dela, vi a
mãe se abaixar e conversar com o filho em um tom bem tranquilo.
Eu imaginei que ela fosse mandar o garoto pegar do chão aquilo que ele
jogara e colocar no lixo, que estava próximo. Só essa atitude da mãe,
que eu pensei que fosse acontecer, já me surpreenderia porque, vamos
convir, essa é uma iniciativa não muito comum de ser observada no espaço
público.
Mas essa mãe fez algo bem diferente, como descobri a partir da reação
que os dois tiveram em seguida. Depois de uma breve conversa dela com o
filho, que eu não pude ouvir, os dois voltaram o olhar para uma servente
da escola que limpava as escadas por onde muitos pais saíam com seus
filhos. Na sequência, o garoto pegou do chão o que jogara --parecia um
pedaço de lápis colorido-- e levou até o cesto de lixo. E, calmamente,
os dois entraram no carro e foram embora.
Devo confessar que senti uma imensa vontade de caminhar até essa mãe e
parabenizá-la pela sua atitude com o filho. Entretanto, tímida que sou,
continuei parada onde estava, mas totalmente envolvida em meus
pensamentos com o que eu acabara de presenciar.
Não sei as palavras que essa mãe disse ao filho, mas percebi que ela
chamou a atenção dele para a servente, uma pessoa que realizava um
trabalho que a criança nem notara e que tampouco respeitara ao atirar no
chão aquilo que tinha nas mãos. Eu não sei se essa mãe sabe, mas o que
ela fez foi tentar despertar no filho aquilo que chamamos de empatia.
Ter empatia significa ser capaz de se identificar com o que uma outra
pessoa sente em determinadas situações, em geral difíceis, que provocam
emoções fortes.
Estar aberto para compreender o que se passa com outra pessoa é uma
maneira de se colocar disponível para ajudá-la, portanto. E isso sem
falar do respeito pelo outro que a empatia provoca.
Sensibilizar o filho para a empatia é parte do que nós chamamos de
formação moral. Hoje, não são muitos os pais que se ocupam desse aspecto
tão importante da educação dos mais novos, não é verdade?
Na atualidade, a empatia é coisa rara. Estamos muito mais propensos a
realizar julgamentos severos sobre outras pessoas do que inclinados a
procurar compreendê-las. É que olhamos muito mais para nós mesmos do que
para os outros.
A empatia é uma maneira de sair do individualismo e de se abrir para a
conexão com os outros. As relações sociais melhoram muito com o
desenvolvimento do sentimento de empatia, portanto.
A realidade que temos vivido tem apontado incessantemente para a
importância de formarmos crianças e jovens mais sensíveis aos outros.
Isso pode tornar a vida deles muito melhor.
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