sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O medo de errar

Armando Correa de Siqueira Neto*
A vida é surpreendente, pois nunca se sabe quando ocorrerá uma importante aprendizagem abrindo portas a horizontes até então desconhecidos. E foi assistindo a um ensaio de uma orquestra jovem que compreendi um aspecto crucial ao desenvolvimento humano. O maestro que ali regia os músicos, preparando-os para uma apresentação que se aproximava, interrompeu-os, dizendo: “Percebo que alguns estão tocando com medo, deixando a música sem vida! Não tenham receio! Toquem pra valer! Se tiverem que errar, que errem feio! Só assim conseguiremos extrair a beleza que a música oferece!”. A sua intervenção causou um silêncio profundo naquela sala e, ao mesmo tempo, provocou um intenso barulho dentro das várias cabeças ali presentes, forçando-as a refletir sobre o medo de errar. Assim, o ensaio prosseguiu mais vigoroso.
Alguns dias depois, novo fato me estimulou a rever o caso ao assistir pela televisão uma apresentação de patinação artística no gelo. Algumas jovens patinadoras eram avaliadas por um júri bastante crítico. Os dois comentaristas do evento apontavam o receio que a maioria delas tinha em errar, preocupadas em não cair na pista, levando-as a certo engessamento durante as coreografias. Uma delas, contudo, segundo eles, chamava a atenção por sua conhecida ousadia, coisa que lhe rendeu um colossal tombo, tal como se previra. A moça não hesitou e logo continuou a apresentação. Ao final, de acordo com a soma dos pontos, adivinha quem venceu a disputa? Justamente ela, a corajosa, que se expôs muito, mas brilhou bem mais. As outras não caíram no chão (talvez tivessem se petrificado de vergonha ante tal cena), porém empalideceram diante da colorida e viva apresentação daquela que tombou, perdeu pontos, mas ganhou. Fui tomado por uma convicção e disse a mim mesmo: “o maestro estava certo!”.
Por que temos tanto medo de errar, se é através do erro que alcançamos o aperfeiçoamento e algumas vitórias na vida? O que nos leva à sujeição da mediocridade se há tanto a conquistar? Que razões nos impedem de transitar do pouco ao muito? Quem nos obriga a permanecer na sombra, com tanta luz ao redor? Por que nos engessamos na vida profissional ao apresentarmos coreografias tão tímidas e limitadas? Que tipo de estímulo nós oferecemos aos nossos filhos: empobrecido. talvez? Será que assim também cerceamos o desenvolvimento da nossa motivação ao reduzir as metas e possibilidades de conquistas a que temos tanto direito? Que mal há em cair no chão ao tentar se superar? O que há de errado com o erro? Quem define os limites das nossas conquistas? O medo de errar é maior do que a esperança de ultrapassar as próprias limitações? Quem pode tocar, com ânimo e coragem, o instrumento da evolução, autorizando-se a vibrar exuberantes notas do crescimento que impressionam por sua magnitude?
O maestro estava certo!
*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, palestrante, professor e mestre em Liderança
http://cpopular.cosmo.uol.com.br/mostra_noticia.asp?noticia=1655114&area=2190&authent=08DAD5122EBFF23048ED80162DCAA2

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