domingo, 13 de junho de 2010

Os meus medos.

Tahar Ben Jelloun*
"O homem é o maior inimigo de si mesmo,
mítico destruidor da natureza,
levado como é a ganhar sempre mais para satisfazer todos
os seus egoísmos.
Os nossos medos avançam, nos sufocam,
nos fazem ficar mal,
até o ponto em que, às vezes, o nosso sangue se retira,
deixando-nos esvaziados da nossa humanidade,
abandonados à solidão."

"Parem o planeta que eu quero descer! Tenho medo, não me sinto mais seguro, não controlo mais nada, estou em pânico, não consigo entender para onde o mundo vai, o que os homens estão fazendo. Por todas essas razões, quero descer!".
É isso que um homem consciente de como estão as coisas no mundo pensa, de noite, quando não consegue pegar no sono. Enquanto passa em revista as crises e as catástrofes destes últimos anos, é tomado pelo medo – um medo que não é azul, mas sim verde como na Odisseia, já que o inferno está próximo, o inferno é possível, e as suas chamas eternas tendem para a cor da impotência.
E voltam à sua mente as palavras de um velho amigo que conheceu os campos de concentração: "A coragem é o medo de ter medo". Ou, como escreve Alain: "O medo é a matéria-prima da coragem". E então se sente corajoso, tanto que vira as costas para as suas dores, para as suas dúvidas, para as suas trevas.
A chegada do vírus da gripe H1N1 coincidiu com a crise financeira que fez tremer os bancos, as bolsas, os Estados e o pobre cidadão que não sabe mais o que fazer, nem o que pensar. Descobre-se que o essencial está, em parte, baseado no vento, no vazio, em um nada decorado com traje de gala.
A crise financeira age como as bombas de fragmentação, que, uma vez lançadas por um avião, caem na terra multiplicando-se em centenas de pequenas bombas, as quais às vezes não explodem rapidamente, mas dormem debaixo da terra até o dia em que uma criança que passa apoia seu pé sobre ela. Então, explodem e matam, também em tempo de paz ou durante uma trégua.
No dia 29 de maio de 2008, um tratado que proíbe o uso dessas bombas foi assinado por 107 países. Mas os poderosos – Estados Unidos, Rússia, China, Coreia do Norte, Índia, Israel e Paquistão – não o assinaram. São esses os Estados que fizeram do medo uma indústria e uma política.
Depois da saúde dos bancos, também está se tornando instável a saúde da moeda. O caso grego nos ensina que existem países doentes, Estados de estruturas insalubres, casas de madeira envernizadas ao extremo, mas internamente podres. O termo árabe para definir a corrupção é "rachoua", que significa pedra porosa ou tronco podre e, por extensão, pessoa inconfiável.
A crise grega revelou que a Europa ainda não é uma entidade forte, isto é, sadia e realmente solidária. A Europa ainda deve ser construída sobre bases sólidas. Mas unir-se é difícil, porque quer dizer aceitar ter um destino comum, para além das diferenças e particularidades. Os egoísmos dos Estados, com as suas fraquezas e práticas ruins, prevalecem sobre o espírito de solidariedade. A crise, além de financeira, também é moral. Eis porque ela perdura, tanto de maneira menos espetacular, escavando o próprio sulco em que se assenta o medo.
Deve-se temer, como escreve Vittorio Alfieri (1749-1803) em "La tirannide", que se chegue ao estágio em que, "do medo de todos, nasce na tirania a vilania dos demais". No momento em que essa Europa (de fato, a Alemanha e a França) salva a Grécia, um país minado pela corrupção, a nossa atenção é atraída por uma nuvem, uma grande nuvem que prendeu à terra a maior parte dos aviões da Europa e da América. A irrupção do vulcão islandês chega no pior momento, quando ninguém esperava por isso. E ninguém é capaz de encontrar uma solução. Assim, os aeroportos se tornam acampamentos onde nos deitamos à espera de um anúncio libertador.
O medo está entre nós, geral e difundido, palpável, embora não localizado. Confirmando como são frágeis os sistemas que governam o mundo. E nos convida a uma maior humildade. Não adianta nem mobilizar a nossa coragem: o que podemos fazer contra o despertar de um vulcão? Um dos meus filhos me perguntou: "Está começando o fim do mundo?". Ele havia visto "2012", um filme do filão catastrófico, no qual se assiste ao fim do planeta Terra com efeitos especiais impressionantes. Porém, ele não tinha medo. Para ele, tudo, realidade e imaginação, é espetáculo.
Quando o planeta é sacudido por tsunamis, furacões, tufões, terremotos, bruscas mudanças climáticas, somos levados a pensar que essas coisas ocorrem com os outros, não conosco. "A Ásia é longe! A América é longe!". Jamais os homens se perguntam: "O que fizemos para que a Terra tenha se tornado tão inóspita? Qual é a nossa parte de responsabilidade?".
No dia seguinte ao furacão Katrina, o New York Times foi publicado com um título de página inteira: "Isso é obra do homem". E é verdade. O homem é o maior inimigo de si mesmo, mítico destruidor da natureza, levado como é a ganhar sempre mais para satisfazer todos os seus egoísmos. Os nossos medos avançam, nos sufocam, nos fazem ficar mal, até o ponto em que, às vezes, o nosso sangue se retira, deixando-nos esvaziados da nossa humanidade, abandonados à solidão.
Enquanto isso, porém, alguns irresponsáveis continuam jogando na bolsa, especulando ao vento, vendendo e comprando dinheiro com dinheiro virtual, dinheiro que não existe. E com essas operações imorais se enriquecem sem se preocupar minimamente em provocar a ruína de países inteiros.
Parem o planeta que eu quero descer! Mas ninguém me ouve. Como em um pesadelo, quando o grito fica no fundo da garganta sem poder sair. Mas depois da chuva, depois das trevas do mundo, chega a primavera e a luz de um mundo novo e belo! Penso nessa esperança porque, há pouco tempo, nos jardins de Luxemburgo, vi uma bela mulher amamentando o seu recém nascido, sentada em um banco, indiferente ao tumulto e aos rumores do mundo.
______________________________
*Escritor marroquino de língua francesa.
Fonte: jornal La Repubblica, 12-06-2010.
A tradução é de Moisés Sbardelotto para IHU online, 13/06/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário