sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A bactéria GFAJ-1

ENTREVISTA
“Alguns organismos podem ter tido ancestrais diferentes”


Renata Medina da Silva, Professora e pesquisadora em microbiologia da Faculdade de Biociências da PUCRSCientista e professora da PUC gaúcha e doutora em microbiologia pela USP, Renata Medina da Silva explicou a Zero Hora a importância de descoberta da bactéria GFAJ-1:

Zero Hora – Qual é impacto desta descoberta?
Renata Medina da Silva – Até então, a ciência conhecia apenas organismos com um tipo de material genético, um DNA igual para bactérias, archaea (um outro tipo de micro-organismo), e nós, os chamados eucariotos (animais, vegetais, fungos e protistas). Todos têm um DNA igual. É como se cada organismo fosse um livro, escrito com o mesmo alfabeto, mas cada um com um texto diferente. O que se descobriu agora foi um DNA um pouco diferente do que se conhece, capaz de ter o fósforo, elemento fundamental desta molécula, substituído por arsênio. Além disso, esta bactéria parece fazer este tipo de substituição também em outras moléculas, tais como em algumas proteínas.

ZH – Foi uma surpresa?
Renata – Já se desconfiava que pudessem existir outras formas de vida baseadas em elementos químicos atípicos e que o fósforo poderia ser substituído por outros elementos. Para os especialistas da área, portanto, não é algo tão surpreendente. Só que não havia nada concreto, nunca se tinha conseguido cultivar e identificar microrganismos com estas características.

ZH – O que muda em termos de conhecimento da biodiversidade?
Renata – Pelo fato de que todos os organismos conhecidos até então terem semelhança no DNA, o paradigma atual da ciência é de que todos os organismos vivos atuais vieram do mesmo ancestral. Essa nova descoberta abre a possibilidade de acreditarmos que alguns organismos vivos tenham vindo de um ancestral diferente. Desta forma, ela abre novas possibilidades de se conhecer melhor a origem da vida.

ZH – A definição de vida ficou um pouco mais complexa?
Renata – Sim, é uma novidade muito grande a respeito da biodiversidade, que pode se resumir apenas a esta espécie, que pode ter tido todos seus “parentes” já extintos, ou ser o primeiro de vários semelhantes que habitam ambientes inóspitos do nosso planeta. Não temos como saber.

ZH – Essa bactéria poderia ter evoluído a partir das formas de vida conhecidas, que tenham o nosso DNA?
Renata – Para falar em evolução, precisaríamos de um tempo maior, mas sem dúvida é um caso de um organismo adaptado àquele lago. Entretanto, se ele veio de um organismo conhecido, uma archaea ou uma bactéria que se adaptou, ainda não temos como dizer. Os cientistas responsáveis pelo estudo parecem acreditar que não. Mas ainda há muita coisa a ser investigada.
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Reportagem por ELTON WERB
Fonte: ZH online, 03/12/2010

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