quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Extremos contemporâneos

Juremir Machado da Silva*

Crédito: ARTE PEDRO SCALETSKY

Chegamos ao extremo do ano. Aquela época de dizer: como o tempo passa. Mas ainda é tempo de continuar discutindo sobre o tema que marca o nosso tempo: os extremos. Extremo não quer dizer necessariamente extremismo, embora essa seja também uma das facetas do contemporâneo. Os nossos extremos são, de certo modo, de um lado, a inclinação para o extremismo e, de outro, a busca extremada de equilíbrio. Quem diz que não temos mais regras, referências e valores erra. Perdemos alguns, ganhamos outros. O combate à pedofilia é uma prática recente. A luta contra o tabagismo e o respeito ao outro, o não fumante, também. A defesa da ecologia parecia até ontem uma bobagem de malucos e desocupados. Quem diz, porém, que está tudo bem, também se equivoca.

Os pais perderam autoridade? Sim. Isso é ruim? Até certo ponto. Há também um aspecto positivo: o declínio do tirano doméstico que podia mandar, bater e reinar como "chefe de família". As relações interculturais continuam as mesmas? Não. O respeito à diferença impõe novas regras para evitar o etnocentrismo, o pecado, ou crime, do julgamento da cultura do outro pela nossa tábua de valores. Há nisso dois extremos: recusar o outro ou ficar de mãos amarradas para qualquer crítica a ele. A questão dos limites chegou a tal extremo que um narrador de futebol, conhecido por seu ufanismo extremado, fala em "limite extremo". Uau! Tem um narrador gaúcho que lasca "vai encarar de frente". Extremos da linguagem. Extremismos da vontade de ser muito claro. A partir de uma provocação do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento, Fernando Schuler e eu reunimos vários intelectuais e organizamos o livro "Extremos Contemporâneos" (Sulina), que será lançado hoje, às 19h, com debate, no StudioClio (José do Patrocínio, 698).

"Extremos Contemporâneos" traz artigos de Muniz Sodré (UFRJ), François Soulages (Paris VIII), Erick Felinto (Uerj), Renato Janine Ribeiro (USP), Francisco Marshall (Ufrgs), Jacques Wainberg e Cristiane Finger (PUCRS) e dos seus organizadores. Duas perguntas norteiam os textos que tratam de mídia, cultura, televisão, política, relações internacionais, comportamento e ideologia: onde estamos e para onde vai o século XXI? Parece extremo para um fim de ano? Retórico? Intelectuais não podem bancar o peru e morrer na véspera. Cabe-lhes debater sempre. Afinal, vivemos entre dois extremos discursivos: a fala sem fim da mídia e o silêncio cada vez mais gritante dos pensadores. Não que os pensadores não tenham o que dizer, falta-lhes, apesar da Internet ou dos espaços acadêmicos, cada vez mais a esfera pública da mídia, que rotula de chato tudo o que tenha densidade.

Esta coluna de autopropaganda obscena, algo que, o leitor é testemunha, jamais tive coragem de praticar antes e que me deixa rubro de vergonha, embora ser rubro só me dê orgulho, tem o objetivo de convidar a pôr em prática um clichê: fim de ano, hora de botar a bola no chão e parar para pensar. O campo de jogo está preparado. Os livros são pagos. O vinho é de graça. Sem extremos.
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* Sociólogo. Escritor. Tradutor. Cronista do Correio do Povo 
Fonte: Correio do Povo on line, 14/12/2011

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