Por Viriato Soromenho-Marques*
No que respeita à ameaça existencial da crise ambiental e climática, estamos em roda livre. Até o verniz da UE se desfez, quando rasgou o Pacto Ecológico e degradou o projeto europeu, para se humilhar na condição de aguerrido escudeiro dos EUA no Velho continente.
Apesar de estarmos apenas no princípio (o atual aumento da temperatura média mundial de +1,2.ºC, pouco é comparado com os +3.º- 4.ºC a que poderemos chegar nas próximas décadas), as calamidades meteorológicas extremas causam centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados anualmente (não poupando até os aristocratas do capital, como se viu no naufrágio de um iate de luxo na Sicília, afundado em dois minutos por uma tromba de água).
O segundo inimigo do futuro, o belicismo, parece-me ser o mais imediatamente perigoso. Desde logo por impedir as políticas de cooperação económica e ambiental entre grandes potências e blocos - as únicas que poderiam contribuir para minimizar a entropia ecológica e climática.
Tem crescido, também, a trivialização das armas nucleares e a redução do cuidado quanto às suas consequências, como se está a verificar na temerária invasão ucraniana da Rússia, com o uso generalizado de armas ocidentais.
O mais inquietante é saber que os EUA aprovaram em março um novo manual de uso das armas nucleares (Nuclear Employment Guidance) - que apenas um punhado muito seleto de dirigentes conhece - desenhado para cenários de guerra contra múltiplos potenciais inimigos, nomeadamente, China, Rússia e Coreia do Norte.
Seria desejável que os EUA ocupassem o seu indispensável lugar na mesa de um novo diretório, para a governação pacífica deste planeta atribulado. Washington parece, contudo, preferir afiar a espada, na vã tentativa de ressuscitar a sua breve e já desaparecida hegemonia unipolar.
*Professor Universitário
Fonte: https://www.dn.pt/3712645608/dois-inimigos-do-futuro/ 25/08/2024
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