Seis premiados escritórios de arquitetura de gerações diferentes projetam
como serão os espaços onde
as pessoas vão viver e trabalhar daqui a duas décadas.
Andrade Morettin Arquitetos
"Uma das coisas que marcam nossas vidas de forma inesquecível são as casas onde moramos." O enunciado, de aparência simples, está registrado no livro "As Curvas do Tempo", de Oscar Niemeyer. Nesse aspecto, somos todos seus pares: ao exercício da memória qualquer pessoa, de qualquer profissão, pode se dedicar. Mas imaginar como serão os espaços que habitaremos daqui a 20 anos é tarefa para quem faz do traçado das moradias (e das cidades) uma atividade cotidiana. A convite do Valor, seis premiados escritórios de arquitetura dedicaram-se a essa tarefa, que se estende ainda aos territórios do lazer e do trabalho. Compondo a empreitada, Ruy Ohtake, Marcio Kogan, Arthur Casas, Athié Wohnrath Associados, Andrade Morettin Arquitetos e FGMF lançam projeções que sinalizam espaços fluidos em cidades que alguns veem como replicadas cidadelas medievais, outros como a extensão da casa, palco finalmente aberto à prática da cidadania.
Nelson Kon
Marcelo Morettin e ...
Por força do ofício, todos pensam adiante. "Um projeto tem que ter certa perenidade, precisa durar 30, 40 anos", afirma Ruy Ohtake, aos 72 anos um dos mais respeitados arquitetos brasileiros, autor de obras que transformaram o perfil de algumas cidades, como o Hotel Unique, em São Paulo. Há 29 anos, ele elegeu o flat como moradia ideal, que lhe permite viver de forma despreocupada com relação à administração doméstica, sem lavanderia e com uma cozinha reduzida a uma geladeira que, no seu caso, tem como principal função armazenar água. Para todo o resto ele se serve da estrutura local, com camareiras, serviço de restaurante e o que mais for preciso, como em qualquer residência que mereça esse nome.
Os flats chegaram ao Brasil nos anos 70, oferecendo um estilo de vida prático e, para algumas pessoas, um tanto impessoal. No caso de Ohtake, oito unidades de um desses edifícios foram convertidos em um único apartamento que, embora não tenha sequer um prato, se pode chamar de lar. As obras de arte distribuídas pelos ambientes - sala, escritório e três quartos (um para ele, dois reservados às visitas dos dois filhos) - contribuem para essa atmosfera, transformando os percursos internos em uma espécie de fruição.
Nelson Kon
...Vinicius Andrade propõem, no projeto acima,
que as cidades restabeleçam a relação entre o indivíduo
e o espaço público, favorecendo a criação de ambiente urbano diversificado:
intervenção de alta densidade com módulos autossuficientes baseados
em infraestruturas públicas para transporte,
produção alimentar e de energia limpa
Pela própria e feliz experiência, Ohtake afirma que esse conceito estará ainda mais forte em 20 anos, mas leva a questão da moradia do futuro, ao lado de vários de seus colegas, para outro espaço físico. As principais mudanças, aquelas capazes de fazer uma diferença fundamental no modo como vivemos e trabalhamos, começariam do lado de fora das casas e dos escritórios - precisamente nas ruas, em um raciocínio que dá voltas sobre si mesmo numa lógica perversa. A violência urbana fez que os muros crescessem, isolando as calçadas. Vazias, privadas de seus habitantes, elas se tornam espaços perigosos. Para nos proteger desse perigo, acrescentamos ainda mais altura às paredes que nos isolam. Nessa escalada em direção ao alto está o que o arquiteto Marcio Kogan, de 58 anos, chama de "camadas arqueológicas".
Com seu olhar acurado, Kogan enxerga em vários muros a história social de São Paulo. Acima de pequenas muradas de pedra das décadas de 40 ou 50 o arquiteto nota um segundo muro, que subiu mais 1 metro. Acima dele, já com outros materiais, nova camada se eleva. Coroando a obra, há quem acrescente uma armação metálica espiralada, que remete a um campo de concentração.
Longe de aprovar as fortificações, Kogan acredita que o futuro reserva, para quem puder pagar por eles, espaços privados cada vez mais completos, com garagem para vários carros, cozinhas-gourmet, salas de som e vídeo e muito conforto. A necessidade de incorporar o lazer aos ambientes domésticos tem um responsável: a nossa "pobre vida pública", como diz. Seus projetos residenciais, estampados nas melhores publicações especializadas em arquitetura mundo afora, já reúnem tudo isso, tendo na estética excepcional bem mais do que um bônus, mas o alimento necessário a uma vida que transcorre entre as paredes de casa.
Athié Wohnrath Associados
Convencido da ineficácia dos muros altos, Kogan não consegue demover seus clientes dessa forma de isolamento. No fim do túnel, em 2030, o que se encontrará é a multiplicação dos condomínios fechados, verticais e horizontais, "guetos inexpugnáveis que não guardam nenhuma relação com a cidade, que a negam". Muitos dos edifícios residenciais de hoje oferecem salão de beleza, pet shop e até pista de boliche. Diferentes dos flats, que simplesmente se encarregam da organização doméstica, eles criam simulacros de cidade, tirando ainda mais as pessoas do espaço que devem ocupar: as ruas.
Divulgação
O trabalho conjunto, com pessoas presentes e
conectadas entre si nunca vai acabar,
projeta o arquiteto Sérgio Athié:
a área de trabalho ajuda a disseminar a cultura de uma empresa
Kogan traz à tona um exemplo de atuação positiva de administração que considera "quase local": a Colômbia. Lá, o poder público vem dando corpo a obras em que a arquitetura entra como protagonista, com praças, bibliotecas e outras edificações sempre integradas ao entorno. São ações que têm ajudado a diminuir os índices de violência daquele país. "E estamos falando de Bogotá, de Medellín, não de Berlim", afirma. Pessimista assumido, não acredita que a administração pública no Brasil se empenhará em empreendimentos que tornem as ruas mais seguras e propiciem lazer fora de casa.
Ainda assim, há quem aposte em cidades menos sitiadas. "A necessidade de usar a cidade pode fazer que ela melhore", diz Rodrigo Marcondes Ferraz, que compõe com Lourenço Gimenes e Fernando Forte o premiado escritório de arquitetura FGMF. Jovens, todos com 33 anos, são críticos tenazes das casas-fortaleza. Lourenço Gimenes é categórico: "Quanto mais você se fecha, mais violência atrai".
Os muros, aparentemente intransponíveis, uma vez transpostos prestam-se mais ao invasor, que fica isolado para fazer o que bem entender. O sobrado de esquina no bairro paulistano da Vila Madalena, onde eles estabeleceram o escritório, é uma inversão da velha máxima "diga o que eu digo, mas não faça o que eu faço". Os muros frontal e lateral foram eliminados. O que era um corredor estreito e sem função é agora uma área gramada onde os moradores do bairro podem aproveitar a sombra ou bater um papo.
Fortes, Gimenes & Marcondes Ferraz arquitetos
Antes de se instalar ali, o trio tinha em vista outra casa, de espaço maior e preço menor, em um bairro que os obrigaria a usar o carro cada vez que quisessem tomar um café ou comer um pão de queijo. Não foi um dilema bater o martelo no sobrado de esquina. O ideal modernista de cidades zoneadas, com espaços delimitados de trabalho, moradia e lazer, teria se revelado um equívoco.
Gustavo Lourenção/Valor
Lourenço Gimenes,...
"A grande questão que o mundo hoje discute é como as pessoas podem estimular o uso misto na edificação, na quadra e, por extensão, na cidade", diz Gimenes. Basta pensar no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, um dos mais bem-sucedidos exemplos de uso misto de São Paulo, com uma torre residencial e uma galeria no térreo oferecendo lazer e compras. Inaugurado em 1956 com projeto de David Libeskind, o Conjunto Nacional conheceu períodos de decadência antes que as pessoas entendessem o conceito e lhe atribuíssem a função para a qual, afinal, ele foi concebido.
"O Libeskind já tinha sacado tudo na década de 50", afirma Ohtake. "O projeto é sensacional, não só por ser um programa misto, mas porque é totalmente franqueado ao público", elogia Vinicius Andrade, sócio de Marcelo Morettin no escritório que leva os sobrenomes da dupla de 42 e 41 anos, respectivamente. Kogan também gostaria de ver mais edifícios mistos, comuns em cidades como Nova York. Acrescentem-se Paris, Londres, Madri e Barcelona. "As cidades para onde gostamos de ir são extremamente multifuncionais", diz Gimenes.
Gustavo Lourenção/Valor
...Fernando Forte e...
Assim, se alguns modelos propostos no passado já nos balizam para o que poderemos ver adiante, é ainda mais fácil prever como o interior de casas e apartamentos terá se modificado. E um fator parece irreversível para uma parcela considerável da população: a área útil. Os espaços serão menores por uma razão simples: estarão cada vez mais caros. Como lembra Ruy Ohtake, esse é o histórico de todas as grandes cidades americanas e europeias. Se as áreas serão menores, as plantas terão forçosamente que mudar, tornando as moradias mais fluidas.
"Não se pode apenas reduzir a escala, colocar uma planta de um apartamento de 100 m2 em uma copiadora e dar um comando para diminuir 10% ou 20%", brinca Marcondes Ferraz. Gimenes resume a questão: teremos que trocar espaço por qualidade de espaço. Um apartamento de 60 m2 nunca comportará quatro suítes. Tudo estará mais interligado, sem tantos compartimentos. Passou o tempo em que qualquer casa tinha empregada, babá, passadeira. Enquanto esses funcionários desapareciam, a estrutura familiar mudava radicalmente. Vimos crescer o número de solteiros. Vimos nascer uma nova estrutura que ganhou sigla: os "dinks" ("double income, no kids"), formados por casais hetero ou homossexuais sem filhos e com uma boa (e dupla) renda.
Gustavo Lourenção/Valor
...Rodrigo Marcondes Ferraz,
trio de arquitetos de 33 anos da FGMF,
projetaram um cubo conceitual que reflete a fluidez dos espaços
Em 2009, o FGMF foi o primeiro escritório brasileiro a ser incluído no Architects Directory da prestigiada revista "Wallpaper", que elege todo ano os 30 talentos mais promissores do mundo. O projeto enviado pelo trio consistia em uma casa de 70 m2 formada por um eixo central fixo, concentrando cozinha e banheiros, e quatro módulos (dois quartos e duas salas) que rotacionavam assumindo diversas configurações, deixando a casa mais aberta ou mais fechada, conforme a vontade do morador, ou conforme o tempo.
Acostumados que estamos ao esbanjamento de um privilégio - os grandes espaços -, pode soar estranho pensar em metragens mais exíguas. Moradores de cidades como Paris ou Nova York vivem em pequenos apartamentos, o que não representa uma privação, já que fazem uso bom e frequente dos espaços públicos. Independentemente da metragem, o mercado imobiliário já começa a procurar novos arranjos, mas nem a demanda por eles pode ser chamada de significativa nem esse mercado sabe expressar muito bem no que consiste essa nova visão. "Às vezes nos pedem um prédio 'moderno'", conta Vinicius Andrade. "Moderno? Um prédio dos anos 50?", diverte-se.
Se falta ao mercado o repertório, já é positivo o fato de que os bons escritórios, com arquitetos de formação sólida, estejam sendo procurados como parceiros e não como finalizadores das obras ou seguidores de receitas já testadas. Se ainda não está muito claro o que substituirá os enfadonhos modelos neoclássicos, alguma coisa já se pode prever: o conceito abstrato de "sofisticação", ao qual dá ênfase a maioria dos empreendimentos imobiliários, terá que incorporar outro substantivo: flexibilidade. E isso não se limita à escolha, pelo morador, de dois ou três modelos de planta, opção que esse mercado já oferece.
Studio Arthur Casas
Estudo para a casa do futuro de Arthur Casas
O Andrade Morettin Arquitetos, responsável pela reforma da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, soma vários projetos em que as estruturas são pensadas com vista a modificações futuras, como a derrubada de uma ou mais paredes. Essa seria uma forma de acomodar as famílias em fases diferentes de vida ou permitir que um novo morador se instale da forma que lhe for mais conveniente. A tecnologia terá se incorporado definitivamente às casas e aos escritórios. As automações ficarão mais acessíveis, ajudando a economizar energia. "E alguns abusos serão depurados, como acionar a sua banheira pelo celular", afirma Morettin.
Ana Paula Paiva/Valor
Arthur Casas: espaços serão mais integrados e maiores,
não só para acomodar um telão 3D,
mas para reservar uma área em que se possa estar só,
lendo ou contatando um amigo pela internet
A grande revolução, de acordo com o escritório, será mais social, menos tecnológica. Voltamos à questão: "O espaço público vive uma crise há anos", diz Vinicius Andrade. "A onda verde pode ajudar a reverter esse quadro. As pessoas começam a entender que o planeta é o maior bem comum, é o espaço público por excelência." Também para eles "a lógica do medo inverteu a lógica urbana". Morettin resgata o "flâneur", o personagem que percorre as ruas nas páginas baudelairianas, despreocupado e boêmio, que ele gostaria de ver para além da literatura, nas nossas calçadas e praças.
Ambos concordam que a casa deveria ser uma retaguarda para que se pudesse viver bem nas cidades e acreditam que há indicadores dessas mudanças, a começar pela implementação do plano de transportes, no caso de São Paulo. Ohtake também se mostra otimista com relação a isso. Com um transporte coletivo eficiente, linhas de metrô articuladas numa rede maior, e não com estações isoladas como vemos hoje, teremos um fluxo intenso de pessoas.
As saídas das estações tenderiam a transformar o entorno em pontos de convivência. Ninguém duvida da extrema necessidade desse tipo de transporte inaugurado em Londres em 1863. Mas estamos muitos quilômetros distantes do ideal. Em São Paulo, a primeira linha foi entregue em 1974. A cidade tem hoje menos de 70 km de malha metroviária na capital paulista. Novamente, Kogan recorre a um exemplo próximo: a Cidade do México.
De dimensões semelhantes às de São Paulo, a capital mexicana deu início à construção de seu metrô quase na mesma época, em 1969. Os habitantes já dispõem de 177 km de linhas. Em São Paulo, o carro parece ser, ainda, um sonho de consumo. "Em dez anos a cidade viverá o caos", diz Kogan.
É nessa cidade caótica que Arthur Casas, autor de projetos como o Shopping Cidade Jardim, o mais luxuoso de São Paulo, projeta a casa de 2030. "Não haverá mais a necessidade dos encontros." Os espaços serão mais integrados e maiores, não só para acomodar uma grande tela 3D, que substituirá o Skype, com sua tela pequena e chapada, mas para reservar uma área em que se possa estar sozinho, lendo ou contatando um amigo pela internet, por exemplo.
Essa casa estará fora da cidade, em subúrbios relativamente pequenos, semelhantes aos americanos. Os centros urbanos terão se reduzido a dormitórios para quem vive sozinho. Com escritório em São Paulo e Nova York, o arquiteto de 48 anos gostaria de já ter diminuído as reuniões com clientes, usando, em casa, o computador. "As pessoas resistem, elas querem o contato físico", diz em tom de queixa. Ainda assim, imagina um futuro em que os colegas de um escritório se encontrarão, talvez, uma vez por semana.
Um espaço que serve ao mesmo tempo para moradia, trabalho e lazer está de alguma forma delineado também nas ideias de Ohtake, FGMF e Marcio Kogan. Uma diferença fundamental as separa do ideal de Casas: para eles, não se pode decretar o fim dos encontros. Aos 51 anos, mais de 20 deles dedicados à arquitetura corporativa, Sérgio Athié, do Athié Wohnrath Associados, é enfático ao dizer que o trabalho conjunto, com pessoas presentes e conectadas entre si, nunca vai acabar, até porque a área de trabalho ajuda a disseminar a cultura de uma empresa.
Nos escritórios de um futuro não muito distante, a videoconferência, que hoje permite reuniões remotas, já terá sido substituída pela telepresença - como se a pessoa que está no bairro vizinho ou em Tóquio simplesmente se materializasse à sua frente. A tecnologia já existe, mas o custo ainda é proibitivo. É preciso investir algo em torno de R$ 1,5 milhão para equipar uma sala de telepresença, de acordo com o arquiteto. A empresa com a qual se fala deve dispor da mesma tecnologia. Há que se acrescentar um custo estratosférico de conexão. Em 20 anos, a telepresença já terá valores que a tornem mais corriqueira.
Pensar no passado é sempre um bom exercício quando se projeta o futuro. Há apenas 15 anos, os espaços corporativos mostraram um primeiro sinal de mudança, quando as salinhas cederam lugar a espaços abertos em que as divisões se davam por baias. As primeiras subiam até 1,80 m. Hoje, elas praticamente desapareceram. "Isso só aconteceu porque as empresas precisavam colocar mais funcionários em áreas menores", diz Athié.
Só depois elas perceberiam que manter as pessoas em contato trazia benefícios. Falando de assuntos genéricos, as pessoas tendem a acabar conversando sobre um assunto comum: o trabalho. E aí podem surgir as boas ideias. Hoje, mesmo empresas que não costumam receber clientes estão mais abertas às mudanças e preocupadas em criar ambientes flexíveis que sejam agradáveis para o funcionário, com luz natural, conforto térmico, boas áreas comuns e elementos da vida cotidiana, como obras de arte.
Proporcionar esses espaços saudáveis não é uma boa ação feita pelas empresas, mas uma questão estratégica. Eles são decisivos para manter o funcionário e pesam até mais do que o salário, especialmente para as novas gerações. "O custo de contratar e demitir um funcionário é altíssimo", afirma Athié. Na época das salinhas, as pessoas dispunham apenas de uma pequena copa para fazer uma pausa.
O objetivo era justamente não permitir que se perdesse tempo no cafezinho. Agora se sabe que esse tempo perdido é, na verdade, tempo ganho. Hoje, as áreas comuns chegam a 40% do layout nos projetos feitos pelo Athié Wohnrath. Nas salas de reunião, sai a figura do líder que ocupa a cabeceira, como os antigos patriarcas nas antigas casas, e entram os funcionários democraticamente distribuídos ao redor de uma mesa redonda, em um ambiente pensado para a troca e a colaboração. Trabalhar em casa, como se imaginou anos atrás com os alardeados "home offices", foi uma promessa que não se cumpriu.
Há três anos, a Vitra, fábrica de móveis sediada na Suíça e referência mundial em design, pediu a alguns arquitetos a sua visão do ano de 2027 ou 2029 - Marcio Kogan entre eles. Depois de se reunir com a equipe, Kogan chegou a uma espécie de ficção que mostrava a periferia vasta como um oceano, muito distante dos centros urbanos, com sobradinhos envoltos em membranas que teriam a capacidade de controlar temperatura, umidade, odores e até conexão "wireless". Ele sabia que a Vitra esperava um projeto de contornos e materiais futuristas, mas preferiu mostrar o cenário que vislumbra - e é desolador. No texto com atmosfera de ficção científica, criado por ele para acompanhar as imagens, o personagem que narra a história é um computador apaixonado pela moradora, que divide a casa com o marido. "Veja só, uma história ambientada em 2029 e o homem trabalha em casa. A ideia já está ultrapassada", ironiza.
Seja qual for o modelo que o futuro nos reserva, convém sermos cuidadosos, já que, como destacou Niemeyer, a casa marca nossa vida. Em "As Curvas do Tempo", o arquiteto continua: "Pela memória vou recordar a casa das Laranjeiras, percorrê-la outra vez, lembrar como nela vivíamos, rindo ou chorando, como o destino obriga".
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Por Cristina Dantas, para o Valor, de São Paulo
Fonte: Valor Econômico online, 30/07/2010