
Delfim Netto alerta que, com tantos tipos diferentes que vicejam no mundo, capitalismo virou uma espécie de codinome, um conceito que encobre muito mais do que esclarece. E revelou, em sua análise, uma preocupação básica sobre o futuro da economia mundial. O fato mais importante que teria ocorrido desde Obama no poder seria a indicação do Prêmio Nobel chinês-americano Steven Chu para o que corresponderia a ministro de ciência e tecnologia dos Estados Unidos, além de generosa dotação de um orçamento de cerca de US$ 25 bilhões. Ao lado da designação e do cheque, Steven Chu tem uma meta: investir em pesquisa de tal modo que os EUA realizem, antes dos outros, um novo salto tecnológico, como foi a internet. Encontre um breakthrough como foi no passado a imprensa e a máquina a vapor. Time flies. Política econômica sozinha adia, embala, segura, mas não resolve a crise. Tem que estar aliada a inovação científica e tecnológica.
O que Delfim estava dizendo é que a arena vital, a que vai definir o vencedor, China ou Estados Unidos, é mais a disputa entre as táticas, teorias e estratégias macroeconômicas. Matematizadas ou não. A arena decisiva é a da invenção ou não da ciência e tecnologia. É a arena do conhecimento. É nela que a competição mundial de fato ocorre.
Paralelamente, o chinês Ping Chen, da Universidade de Pequim, alertou que era um engano o Ocidente acreditar que a principal arma econômica da China era a mão de obra barata embutida em seus produtos exportáveis a inundar os países, encher seus tesouros de dólares e de quebra conter a inflação mundial. Alertou que o importante para a China de hoje era justamente o desenvolvimento tecnológico. E que Pequim tinha resolvido investir em pesquisa científica de médio e longo prazo, em três áreas.
Primeiro, na tecnologia verde; sendo a China o poluidor-mor, indispensável para tornar suas cidades habitáveis e sobreviver o mundo. Segundo, na biotecnologia, porque o problema da seguridade social e da assistência da saúde não é como o Ocidente pensa, uma questão de truques institucionais e agências reguladoras, ou controle orçamentário ou mais impostos. Esse caminho é necessário, mas não resolve o problema. A realidade básica a enfrentar é clara: a atual medicina é muito cara. É impagável. Ou se reinventa a arte de curar e prolongar a vida de maneira mais barata ou todos os países terão seus orçamentos arrasados pela previdência social. Sejam capitalistas ou socialistas, cristãos ou muçulmanos.
Finalmente, o terceiro grande investimento chinês em ciência e tecnologia será nos projetos de controle e alimentação populacional. Como alimentar e reduzir o número de chineses e no mundo. Exportá-los para a África é um caminho sempre insuficiente. Um breaktrough no verde, na saúde e na alimentação, eis o programa da vitória econômica chinesa. Como nos Estados Unidos, a arena decisiva é a do conhecimento.
A partir daí, duas considerações. Primeiro: fica claro os limites da política econômica, que, sem ser acoplada a uma política de desenvolvimento científico, é apenas um paliativo de vitórias efêmeras e frustrações fragorosas, como vimos agora em Wall Street. Segundo: e o Brasil? O que fazer e como ampliar suas vantagens tecnológicas obtidas nas áreas da energia e da agricultura? Teremos prioridade maior? De repente, precisamos de mais engenheiros e cientistas mais do que de economistas e advogados. A propósito, nenhum dos últimos presidentes chineses é advogado de Harvard ou Yale. São engenheiros.
*Joaquim Falcão - Diretor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas (RJ) e membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
Postado Correio Braziliense, 15/10/2009
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