Medo da volta do horror
Dia mundial que marca sofrimento judaico
na Segunda Guerra é marcado
por críticas ao Irã e ao antissemitismo
“É preciso lembrar sempre o que aconteceu. Até porque quem assistiu e sentiu o cheiro dos cadáveres, passou fome e fugiu dos bombardeiros, não consegue esquecer jamais”, assegura a polonesa Rita Braun, 80 anos, que viu seu pai e seu irmão mais novo morrerem pelo simples fato de serem judeus. Ontem, enquanto o mundo celebrava o Dia Internacional de Recordação do Holocausto, a sobrevivente do massacre promovido pelos nazistas, que vive no Brasil há 52 anos, revelou ao Correio que teme que algo parecido ocorra novamente. “Pode não acontecer nessas medidas, mas a história se repete, e nós já temos pessoas que negam o Holocausto, como o presidente do Irã, que foi abraçado pelo (presidente) Lulinha com um tapete vermelho.”
O medo demonstrado por Rita é o mesmo reforçado pelos líderes israelenses. No dia em que se comemoraram os 65 anos do fechamento do campo de concentração de Auschwitz, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, falou, direto do emblemático local no sul da Polônia, que é preciso ficar atento ao “novo monstro” que quer “exterminar” os judeus. “O Holocausto não foi apenas um crime contra os judeus, mas sim um crime contra a humanidade. Atualmente, há ódio pelos judeus em nosso meio. Há novas convocações para exterminar o Estado judaico”, alertou, em hebraico. Ele, no entanto, garantiu que não vai permitir que “mãos perversas” acabem novamente com o seu povo e seu país. “Um Estado e um Exército fortes são os únicos meios eficazes para a defesa do povo judeu.”
Em discurso histórico no Bundestag (Parlamento alemão), o presidente israelense(1), Shimon Peres, pediu que o mundo nunca mais ignore “ditadores sanguinários, que se escondem atrás de máscaras demagógicas e proferem palavras de ordem assassinas”. Peres comparou a falta de ação das potências ocidentais para impedir a chegada de Adolf Hitler ao poder à polêmica sobre o programa nuclear iraniano, e pediu que a comunidade internacional se esforce para impedir que Teerã possua uma bomba nuclear.
Horas antes das declarações das duas autoridades israelenses, o aitaolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, declarou que as nações do Oriente Médio “assistirão um dia à destruição” de Israel. “Quando e como acontecerá essa destruição, dependerá da maneira como as nações islâmicas abordarem a questão”, afirmou Khamenei, durante um encontro com o presidente da Mauritânia, Mohamed Uld Abdel Aziz, cujo governo rompeu relações com Israel em janeiro de 2009.
Recado aos jovens
Outros líderes mundiais, como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o papa Bento XVI, também aproveitaram a data para relembrar os horrores do Holocausto e enviar mensagens de repúdio a qualquer tipo de discriminação. “As atuais gerações devem resistir frente ao antissemitismo e a ignorância sob todas as suas formas e se negar a ser testemunha do mal cada vez que este mostrar seu rosto ignominioso, onde quer que seja”, disse Obama, por meio de um vídeo exibido em uma conferência ontem, em Cracóvia.
O papa, por sua vez, demonstrou sua solidariedade com o povo judeu e prestou homenagem a “quem, colocando em perigo sua própria vida, protegeu os que e-ram perseguidos”. “Com emoção, pensamos nas inúmeras vítimas de um ódio racial e religioso cego, que sofreram com a deportação, a prisão e a morte nesses lugares aberrantes e desumanos.”
1 - Pressa para julgar
Diante dos parlamentares e da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, o presidente de Israel, Shimon Peres, pediu que os responsáveis pelo Holocausto sejam julgados com urgência. “Homens e mulheres que participaram da pior das ações sobre a Terra continuam vivendo na Alemanha e na Europa, assim como em outras partes do mundo. Eu lhes peço que façam todo o possível para levá-los à Justiça.” Dois suspeitos são atualmente julgados na Alemanha: John Demjanjuk, que nega ter sido guarda de um campo de concentração, e Heinrich Boere, que admitiu ter matado civis holandeses.
O Holocausto não foi apenas um crime contra os judeus,
mas sim um crime contra a humanidade”
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel
Retorno a Auschwitz

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Reportagem de Isabel Fleck
Fonte: Correio Braziliense online, 28/01/2009
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