terça-feira, 6 de setembro de 2011

Depressão...

Posso fazer algo para te alegrar, pelos menos um pouco, e despertar o teu interesse pela existência, nestas trevas que estão a ameaçar novamente, e das quais, todos os dias, tremendo sinto que se estende a sombra também sobre mim? Como posso recordar-te suficientemente que viver e desejar viver (...) é o teu dever diante de quanto vivem, porque as ideias sobre a vida desfalecem facilmente e é raro que alguém as defenda, enquanto Tu és o seu principal artífice. Perdoa-me se, com tanta aspereza, um pouco como se faz com as crianças, te apresento exemplos de vida quotidiana para te dizer que nunca devemos abandonar a esperança. Como verdadeira cristã que és, deves conhecer todas estas coisas; mas tu sabes que valor tem a tua esperança, e como a deves salvaguardar? (Excerto da correspondência de Pasternak* à sua amiga Ana Achmatova – 01 de novembro de 1940) –
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Fonte: Texto de Eugenij Pasternak : Arte e Liberdade, in L’Osservatore Romana, impresso, nº 35 – 27/08/2011 pág.12/13.
* Boris Leonidovich Pasternak
Escritor russo
10-2-1890, Moscou
30-5-1969, Peredelkino (perto de Moscou)
Do Klick Educação
Alcançou a fama mundial em 1957 com a publicação do romance Doutor Jivago, em que trabalhara durante mais de uma década. Com edição proibida na União Soviética, o livro foi editado em italiano. Pasternak oferece ali uma imagem da Rússia pós-revolucionária, ao mesmo tempo que narra a vida de um homem para quem a independência espiritual é mais importante do que todo o resto. Pasternak, que trocou os estudos de Música pela Filosofia, escreveu seus primeiros versos em 1914 (Um Gêmeo nas Nuvens) e transformou-se em autor lírico da corrente futurista. Suas obras seguintes (entre as quais, A Minha Irmã Vida, 1922) estão carregadas de um estilo próprio, caracterizado por formas lingüísticas surrealistas, pela construção sintática agressiva e por metáforas ousadas. Com sua obra, pretendia atingir uma realidade poética própria, não submetida aos cânones do realismo socialista. Isso contribuiu para seu conflito com o stalinismo, tendo sido impedido de continuar sua publicação de poesia a partir de 1936. Devido à pressão das autoridades soviéticas, em 1958 devolveu o Prêmio Nobel de Literatura com que tinha sido agraciado. Um ano depois de sua morte, foi reabilitado politicamente como poeta, mas o romance Doutor Jivago só foi publicado na URSS em 1988.

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