sábado, 3 de setembro de 2011

Patrulha do mico

CLÁUDIA LAITANO*

Os meninos reclamam um pouco antes – muitos nem sabem amarrar os próprios tênis sozinhos ainda quando começam a pedir que os pais maneirem nos beijos na frente da escola e evitem os “cuti-cutis” mais expansivos em ambientes públicos. É um pequeno rito de passagem pelo qual todas as crianças, mais cedo ou mais tarde, acabam passando: o momento em que o aconchego dos pais, até então fonte de satisfação garantida em qualquer ocasião, começa a ter hora e lugar certos – e, por consequência, hora e lugar errados também.
Aos pais, cabe saber sair de cena discreta e estoicamente, respeitando a nova etapa e suas exigências e ajudando os filhos a cortar alguns laços para construir outros. Abraços demorados e beijos barulhentos vão continuar sendo bem-vindos por muito tempo ainda (às vezes, pra sempre...), mas raramente em público e nunca, NUNCA, na frente dos amigos ou dos primeiros interesses românticos em potencial. Qualquer infração dessa pequena regra de ouro será punida com a sentença definitiva de um implacável juiz de costumes: “Mãe (pai), olha o mico!”.
O problema é que chega uma hora em que os micos, como os coelhos, reproduzem-se na velocidade da luz. Sentimos saudade dos miquinhos convencionais e catalogados, como dar bitoca na despedida da escola ou contar histórias embaraçosas na frente dos colegas de caratê. De uma hora para outra, mico é a roupa que vestimos, a música que escutamos, o jeito que rimos no telefone e até o navegador da internet que usamos. Mico, em resumo, é ser adulto.

A “patrulha do mico” detona
um novo tipo de conflito de gerações – muito
adequado a nosso tempo de narcisismo
e superexposição (micos agora podem
ser planetários...).
Uma curiosa consequência do novo formato de família que se consolidou nos últimos anos, tornando obsoleta a hierarquia de pais que mandam e filhos que obedecem, foi a consagração dos mais jovens como uma espécie de eminência parda do poder doméstico. Eles podem não pagar as contas da casa nem aparecer na ficha do IBGE como “chefes de família”, mas, na prática, mandam e decidem muito mais do que seus pais ou seus avós em suas épocas. Jovens de hoje palpitam no modelo do carro da família, no tipo de computador e no destino das férias – sem falar na organização da própria rotina e no ritmo dos estudos. E estão tão acostumados a ter opinião sobre tudo, que não é surpreendente que tentem impor aos pais suas ideias sobre o que é ou não adequado para eles.
Adolescentes, em geral, não querem encontrar os pais na balada ou no Twitter nem ver a mãe de minissaia ou o pai aprendendo a surfar – mico, mico, supermico. Seus pais, por sua vez, acreditam que têm direito de inventar um novo modelo de maturidade em uma época em que diferentes gerações partilham gostos e interesses como nunca antes – e onde ninguém tem certeza de coisa nenhuma mesmo.
A “patrulha do mico” detona um novo tipo de conflito de gerações – muito adequado a nosso tempo de narcisismo e superexposição (micos agora podem ser planetários...). O curioso é que, neste caso, os mais velhos é que podem, ou não, se rebelar.
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* Jornalista. Escritora. Cronista da ZH
Fonte: ZH on line, 03/09/2011

"Quando se trata do universo da cultura, da literatura, da história e da filosofia, ela afirma que tem muita disposição para ouvir e aprender. “São conhecimentos que, de certa forma, te aperfeiçoam como pessoa. Se tenho uma fé, uma convicção na minha vida, é a de que o mundo da cultura é a estrada para nos tornarmos pessoas melhores. Pessoas que não lêem e que não se emocionam com músicas e com filmes tendem a ser moral, intelectual e espiritualmente esclerosadas. Sou uma pessoa não-religiosa, não-mística. Futebol e religião são duas coisas que me incomodam profundamente. Fanatismo, de uma forma geral, me incomoda. Se eu tivesse um altar, ele seria destinado à cultura!” (Do texto da CLAÚDIA LAITANO: Cultura como Norte. Ler o texto integral, clicando: http://www.coletiva.net/site/perfil_detalhe.php?idPerfil=310
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