LUIZ ANTÔNIO ARAUJO*
Coube a Freud estragar a festa com a observação de que, afinal de contas, a memória e a consciência não são assim tão confiáveis. O romance foi pelos ares pelas mãos de Joyce, Proust, Beckett e Robbe-Grillet, mas deixou vestígios na crônica, na ensaística e no biografismo, entre outros modos de expressão escrita. Uma parte do sucesso das biografias se apoia no fato de que dão a nós, leitores, o prazer de ler uma velha e boa história com começo, meio e fim. Não é por acaso que romancistas abocanharam esse filão nos países anglófonos (Eu, Claudius, Imperador, de Robert Graves, Lincoln, de Gore Vidal, Senhores de Roma, de Colleen McCullough) e no restante da América Latina (Eu, o Supremo, de Augusto Roa Bastos, O Romance de Perón, de Tomás Eloy Martínez, O General em seu Labirinto, de Gabriel García Márquez).
No Brasil, biografias se converteram em fenômeno editorial a partir do final dos anos 1970, tendo à frente, em lugar de ficcionistas, repórteres interessados em exumar episódios ou personagens silenciados nos Anos de Chumbo (Olga, de Fernando Morais, Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia, de José Louzeiro, O que É Isso, Companheiro?, de Fernando Gabeira). O biografismo brasileiro tornou-se praticamente um subgênero de reportagem, dando origem à expressão “biografia jornalística”.
Recentemente, historiadores como Boris Fausto e Mary del Priore lançaram biografias, sem desafiar a hegemonia dos repórteres. Também parece haver deslocamento de interesse de figuras periféricas ou exóticas para os ditos grandes vultos. É o caso de Getúlio, de Lira Neto, que reúne investigação e prosa de qualidade.
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*Jornalista
luiz.araujo@zerohora.com.br
Fonte: ZH on line, 19/05/2012
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