segunda-feira, 11 de junho de 2012

Como vamos sobreviver

 Ruy Carlos Ostermann*
 
Não há outra solução senão continuar pensando. Interrupções do tipo que levam a gente a ficar alheio, distraído ou simplesmente sonolento e repetitivo não ajudam em nada. Na verdade, afundam no já conhecido de outros momentos, uma dolorosa constatação de que não está acontecendo qualquer coisa ao redor.
Pensei nisso lendo uma das minhas referências intelectuais, o poeta e pensador Ferreira Gullar, citação constante nas conversações que sustento cidade afora. Uma crônica entristecida que escreveu essa semana na Folha. Ele parece liquidado, derrubado, sem saída. Não sabe a quem mais recorrer. Tudo é corrupção, safadeza, sacanagem ou falcatrua, no setor público e também nas empresas, na vida cotidiana (deve pensar que sobra alguma coisa para a imprensa também, claro, se ninguém escapa), enfim para onde se olhar com um mínimo de atenção não se salva ninguém, não há mais em quem confiar uma palavra que seja.
Não é apenas uma visão de mundo pessimista, derrotada, é a forte impressão que provoca os noticiários de todos os dias. A imprensa não poderia ficar alheia a  CPIs, investigações policiais e jurídicas, denúncias novas as cada dia, um nome depois do outro, articulados por uma culpa irreprimível. Todos os dias, na primeira página, na manchete. Essa é uma de suas tarefas, nada de errado.
Mas o que está nos faltando é justamente continuar pensando, não se atolar até o pescoço no imenso noticiário da desonestidade nacional. Isso é um fato, mas é preciso distinguir que nem tudo pode ser assim tão degradante, que existem ao nosso redor – na convivência diária, algumas mais afetivas, outras mais profissionais ou de amizades, muitas só anunciadas à distância – provas suficientes de que vamos sobreviver.
E que elas justificam uma forma saudável de otimismo no ser humano.
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* Escritor. Jornalista. Cronista
Fonte:  http://www.encontroscomoprofessor.com.br/
imagem da Internet

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