Thomaz Wood Jr.*
Pesquisador da Universidade de Minnesota procura entender fenômenos empresariais a partir da linguagem da música. Foto: Tim Geers/Flickr
Conta-se
que, ao final de uma conferência do Partido Comunista, durante a era
soviética, foi realizada uma homenagem a Josef Stalin. Então todos se
levantaram e aplaudiram com entusiasmo, por três minutos… quatro
minutos… cinco minutos… O tempo foi passando e aplaudir foi se tornando
cada vez mais doloroso, mas nenhum dos presentes se arriscava a ser o
primeiro a parar. A polícia secreta estava atenta. Os aplausos passaram
dos dez minutos, e ninguém manifestava a intenção de parar. Entre os
presentes estava o diretor de uma fábrica. Aos 11 minutos, ele parou de
aplaudir, sentou-se e foi seguido pelos demais. Na mesma noite, foi
preso sob um pretexto: seu interrogador lhe disse para nunca ser o
primeiro a parar de aplaudir.
A historinha faz parte do livro When: The Art and Science of Perfect Timing,
de Stuart Albert, programado para lançamento em 2013. Albert é
professor da Carlson School of Management da Universidade de Minnesota. O
livro é fruto de duas décadas de pesquisa e reflexão do autor.
O pitoresco fato ilustra um dilema comum: qual é o momento certo para
agir? Uma empresa criativa e empreendedora, ao lançar um novo produto,
pode estar se adiantando ao seu tempo e não encontrar o mercado pronto
para absorver a inovação proposta. Caso decida aguardar, porém, poderá
testemunhar com desgosto um concorrente capturar a vantagem de ser o
primeiro a chegar aos clientes.
Executivos veem-se diariamente diante de decisões relacionadas ao
tempo. Qual o momento certo para expandir nossos negócios? Quando
devemos iniciar o processo de internacionalização da empresa? Devemos
contratar mão de obra agora ou aguardar o aumento da demanda? Se agirmos
agora, estaremos nos precipitando? Se não agirmos, nossos concorrentes
passarão à nossa frente?
O frenesi competitivo dos últimos anos levou as
empresas a buscar rapidez em suas ações. Quem sai na frente tem a
vantagem do pioneirismo: fortalece sua imagem, chega antes aos clientes,
ocupa o mercado, consegue trabalhar com maiores margens de lucro e
inibe a ação de concorrentes. Entretanto, a rapidez cobra seu preço. Os
pioneiros podem errar nas escolhas tecnológicas, enfrentar mercados
imaturos e instáveis, sofrer para convencer os potenciais clientes a
adotar a novidade e penar para operar novos canais de distribuição. As
revistas e livros de negócios estão cheios de narrativas laudatórias de
empresas criativas, porém, para cada história de sucesso há várias
histórias de fracasso, de organizações que erraram o passo da inovação.
Por que temos tanta dificuldade para lidar com questões relacionadas
ao tempo? Os suspeitos usuais são a complexidade e a incerteza
ambiental. Albert acredita, contudo, que o problema principal é a forma
como nós descrevemos o mundo ao redor, sem incluir as sequências,
intervalos, sobreposições e outras características temporais de tudo o
que acontece: de cada plano e de cada ação. Ao raciocinar de forma
estática, empobrecemos nossa percepção sobre a realidade e, assim,
corremos o risco de tomar decisões inconsistentes.
O que fazer? Para conduzir melhores análises e poder
tomar melhores decisões, sugere o pesquisador, é necessário incorporar a
variável tempo: encontrar padrões temporais e analisá-los. Albert
advoga que devemos olhar para os fenômenos a ser analisados, sejam eles
decisões corporativas ou crises políticas, como se olha para a partitura
musical de uma sinfonia. Uma partitura musical contém duas dimensões: a
dimensão vertical apresenta os diversos instrumentos e a dimensão
horizontal apresenta o que cada instrumento tocará.
Os eventos se desdobram de forma similar nas empresas. Muitas ações
ocorrem simultaneamente (a dimensão vertical), e cada indivíduo ou grupo
segue uma sequência própria (a dimensão horizontal), com seu ritmo e
suas pausas. O conjunto poderá produzir um resultado harmônico e
prazeroso, ou apenas gerar dissonância e ruído. Algumas empresas são
verdadeiras orquestras sinfônicas, com seus naipes perfeitamente
sincronizados, produzindo música de alta qualidade. Outras se assemelham
a bandas de jazz, permitem aos seus músicos criar e improvisar a partir
de padrões predefinidos. Algumas, entretanto, perdem o ritmo,
atravessam constantemente a melodia e alienam sua audiência.
Dominar a arte do ritmo e do tempo não é tarefa simples. Leonard
Bernstein, Herbert von Karajan, Duke Ellington e Benny Goodman não se
formaram em pouco tempo. Observando, porém, a ação desses mestres, e
adotando as lentes propostas por Albert, talvez possamos desenvolver
nossa sensibilidade, somar arte e ciência, e compreender melhor a
inexorável experiência do tempo nas empresas e fora delas.
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*É professor da FGV-EAESP
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-arte-do-tempo/04/11/2012
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