O mundo de múltiplas possibilidades religiosas e conexões
sincretistas que hoje se apresenta precisa dessa ideia maluca do Deus
que se autoesvazia. Ela inspira cristãos a conviverem com a pluralidade e
a diversidade, afirmou Charles Taylor.
"Vivemos
na fronteira" das convicções religiosas e é preciso conviver num mundo
plural, admitiu o filósofo canadense, que participou de conversatório com religiosos, teólogos, jornalistas e cientistas sociais reunidos na sexta-feira, 26, no Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos.
De adolescente confuso, na época do Concílio Vaticano II, Taylor voltou a crer na fé católica inspirado pelas leituras dos teólogos Yves Congar e Henri de Lubac. "Hoje sou um octogenário confuso", definiu-se, entre risos da plateia. Taylor, 81 anos, biografou três tipos de cristãos.
A primeira biografia diz respeito às pessoas que não
perdem a fé, vêm de uma família cristã e creem assim como seus avós e
pais acreditaram na mensagem evangélica. No segundo grupo estão aqueles que ainda creem, enquanto o terceiro grupo passou por um hiato, mas voltou a crer.
Taylor frisou a distinção de "ainda crer" e "crer novamente".
Cristãos do terceiro grupo descobriram nova caminhada, uma nova maneira
de vivenciar a fé, diferente daquela professada por seus antepassados, e
se entendem envolvidos numa busca constante.
Cristãos do primeiro grupo sentem-se ameaçados pelo processo de
secularização e assumem uma postura defensiva e não entendem esse mundo
de múltiplas possibilidades e conexões.
"É um erro pastoral agir dessa forma. Devemos conviver com esse tipo
de pluralismo", defendeu. O filósofo canadense aceita que as novas
mídias ajudam a construir um mundo secular, mas elas apenas incrementam a
sociabilidade difusa, não são cruciais e responsáveis pela constituição
de uma nova ambiência que transforma a religião.
Ele "detestaria" ser papa diante de decisões importantes, como adoção
do ministério feminino na Igreja Católica. "Nossos netos e bisnetos vão
olhar para trás e perguntar - 'o quê, mulheres não podiam ser
ministras?' A gente não pode ficar furioso e encarar isso com raiva",
admoestou, mas defendeu: "É preciso romper o vínculo entre sacerdócio e
gênero."
Taylor acredita que o cristianismo ainda tem um
papel relevante na sociedade, mesmo que cristãos não saibam bem como
conviver com a diversidade. O mundo moderno, disse, pode ser tudo, menos
relativista. "Há malucos fundamentalistas por todo lado. Quando a
Igreja fala a partir do Evangelho, ela sempre cativa pessoas", afirmou.
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A reportagem é de Edelberto Behs e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação - ALC, 29-04-2013.
Fonte: IHU on line, 30/04/2013
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