Na vida, algumas coisas são, simplesmente, demasiado
entusiasmantes para poderem ser ignoradas. Aparecem quando menos
esperamos. Explodem no meio das coisas mundanas e correm-nos nas veias
mais depressa do que os nossos corações conseguem processar a pressão
que causam. Deixam-nos numa espécie de choque espiritual, numa espécie
de entorpecimento espiritual.
A conversa que tínhamos dúvidas que pudéssemos vir a
ter, está prestes a acontecer. A carta que pensávamos que nunca
chegaria, veio. A oportunidade que nem sonhávamos que nos fosse
oferecida, está agora, inesperadamente, ao nosso alcance. A vida
tornou-se, subitamente, diferente.
Donde vêm estas coisas, no meio do dia a dia, no centro de um aborrecimento implacável?
A vida teima, simplesmente, em imiscuir-se nos nossos
planos, nas nossas decisões, nas nossas certezas, nos nossos medos. Que
havemos de pensar sobre estas coisas?
Como é que as nossas almas conseguem absorver estas
coisas, como é que as nossas mentes conseguem encontrar-lhes um sentido,
como podemos nós responder-lhes? E, acima de tudo, que significam elas
para nós, a nível espiritual?
Não são perguntas fáceis. Pedem para tomarmos decisões
quanto à natureza da própria vida. Tais como: tudo na vida acontece
simplesmente por acaso? O nada explica o inexplicável? O destino existe?
Estamos à mercê do destino? Somos apenas peões num universo errático
que gira sem direção?
Viver uma vida sem exuberância é um dos fardos mais
tristes que uma pessoa pode escolher carregar. É uma ferida que a pessoa
inflige a si própria. Viver sem vida em nós é uma maldição que
lançamos sobre nós próprios.
Por muito surpreendentes e perturbadoras que as
reviravoltas da vida possam ser, é muito mais pernicioso tomar a vida
por garantida. Se o fizermos, rapidamente nos tornaremos imunes ao
pulsar da vida que palpita ao longo dos nossos dias, por muito árduos e
difíceis que sejam.
Se perdermos as pequenas coisas, em breve começaremos a
tomar como garantidos o amor, a amizade e as bênçãos. Talvez até nos
passem inteiramente ao lado.
Quando não cultivamos o sentido de surpresa,
abandonamo-nos à disfunção emocional que sufoca o sopro da vida que
existe em nós. Os nossos corações tornam-se amargos e as nossas almas
cegam. Falta-nos aquela paixão exuberante pela vida que faz do ser
humano, humano.
É tempo de pedir a consciência espiritual do
inesperado, para que a Vida, que opera em nós, nos possa surpreender
com a sua plenitude real.
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Joan Chittister
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas
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