quinta-feira, 16 de maio de 2013

Pedir o inesperado

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Na vida, algumas coisas são, simplesmente, demasiado entusiasmantes para poderem ser ignoradas. Aparecem quando menos esperamos. Explodem no meio das coisas mundanas e correm-nos nas veias mais depressa do que os nossos corações conseguem processar a pressão que causam. Deixam-nos numa espécie de choque espiritual, numa espécie de entorpecimento espiritual.

A conversa que tínhamos dúvidas que pudéssemos vir a ter, está prestes a acontecer. A carta que pensávamos que nunca chegaria, veio. A oportunidade que nem sonhávamos que nos fosse oferecida, está agora, inesperadamente, ao nosso alcance. A vida tornou-se, subitamente, diferente.

Donde vêm estas coisas, no meio do dia a dia, no centro de um aborrecimento implacável?

A vida teima, simplesmente, em imiscuir-se nos nossos planos, nas nossas decisões, nas nossas certezas, nos nossos medos. Que havemos de pensar sobre estas coisas?

Como é que as nossas almas conseguem absorver estas coisas, como é que as nossas mentes conseguem encontrar-lhes um sentido, como podemos nós responder-lhes? E, acima de tudo, que significam elas para nós, a nível espiritual?

Não são perguntas fáceis. Pedem para tomarmos decisões quanto à natureza da própria vida. Tais como: tudo na vida acontece simplesmente por acaso? O nada explica o inexplicável? O destino existe? Estamos à mercê do destino? Somos apenas peões num universo errático que gira sem direção?

Viver uma vida sem exuberância é um dos fardos mais tristes que uma pessoa pode escolher carregar. É uma ferida que a pessoa inflige a si própria. Viver sem vida em nós é uma maldição que lançamos sobre nós próprios.

Por muito surpreendentes e perturbadoras que as reviravoltas da vida possam ser, é muito mais pernicioso tomar a vida por garantida. Se o fizermos, rapidamente nos tornaremos imunes ao pulsar da vida que palpita ao longo dos nossos dias, por muito árduos e difíceis que sejam. 

Se perdermos as pequenas coisas, em breve começaremos a tomar como garantidos o amor, a amizade e as bênçãos. Talvez até nos passem inteiramente ao lado. 

Quando não cultivamos o sentido de surpresa, abandonamo-nos à disfunção emocional que sufoca o sopro da vida que existe em nós. Os nossos corações tornam-se amargos e as nossas almas cegam. Falta-nos aquela paixão exuberante pela vida que faz do ser humano, humano.

É tempo de pedir a consciência espiritual do inesperado, para que a Vida, que opera em nós, nos possa surpreender com a sua plenitude real.
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Joan Chittister
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas
Fonte: Site de Portugal-  http://www.snpcultura.org/pedir_o_inesperado.html 15.05.13
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