terça-feira, 6 de setembro de 2011

Jovens perdem o rumo querendo ser o próximo Zuckerberg

Luke Johnson*
Eu costumava pensar que a conquista de Mark Zuckerberg com o Facebook era uma inspiração fabulosa para empreendedores de todas as partes. Mas agora não tenho mais tanta certeza disso. Não estou me referindo aos seus supostos deslizes éticos, enfatizados no filme "A Rede Social". Minha preocupação é que ele estabeleça um exemplo de sucesso meteórico que praticamente ninguém mais conseguirá repetir. Isso porque os imitadores estão tentando copiá-lo e, consequentemente, estragando suas carreiras com falsas esperanças.
Perdi a conta do número de planos de negócios de "pioneiros digitais" que passaram por minhas mãos e que tinham como objetivo criar o próximo Facebook ou coisa parecida. Eles estão cheios de projeções ascendentes de receita, suposições de crescimento impressionantes, avaliações espetaculares e demandas heroicas de apoiadores. Eu coloco todas no picador de papéis. Conforme disse Samuel Johnson: quase todos os homens perdem uma parte de suas vidas tentando exibir qualidades que não possuem para ganhar aplausos que não conseguirão manter.
A verdade é que nenhuma outra companhia jamais cresceu como o Facebook. A ampla maioria das empresas iniciantes não capta formalmente capital de risco - elas financiam suas operações por meio das famílias e dos amigos, endividamento bancário, poupanças, investidores informais e crédito de fornecedores.
Esse é o mundo real das novas empresas e não a quase "ilha da fantasia" do Vale do Silício. Além disso, todo portfólio de venture capital está cheio de dezenas de fracassos e perdas totais - os clones do Twitter, LinkedIn e Zynga dos quais ninguém fala nada.
"A mitologia romântica do estudante
que começa uma empresa num laptop
precisa de ajustes."
Além disso, embora eu encoraje os mais jovens a se tornarem seus próprios chefes, a maioria dos vencedores está, na verdade, na casa dos 30 ou 40 anos quando finalmente conseguem chegar lá. A experiência é importante quando se trata de administração - até mesmo os capitalistas de risco sabem disso. Esperar um grande sucesso logo depois de sair da universidade é cortejar a decepção.
Essa ilusão de riqueza tecnológica instantânea é relativamente nova. Thomas Edison e outros inventores demoraram anos para fazer suas fortunas, e muitos como John Logie Baird e Charles Goodyear nunca conseguiram. Mas, primeira vez na história do capitalismo, a bolha de internet permitiu a companhias iniciantes sem ativos tangíveis levantar grandes volumes de capital com base em um plano, ainda que sem propriedades, franquias, receitas, patentes e lucros.
Vencedores incríveis como o Google e a Amazon distorceram o mundo financeiro ao demostrar que quantidades enormes de dinheiro podiam ser ganhas embora parecesse não haver um modelo de negócios comprovado. Mas eles não mudaram as regras e, sim, foram as exceções.
Pela experiência que tenho, sei que as companhias geralmente levam de cinco a dez anos para equilibrar seus resultados. As empresas destinadas a fracassar ficarão no meio desse caminho. Já os empreendimentos duradouros são autossustentáveis e têm potencial. Eles são liderados por fundadores determinados, persistentes e que, invariavelmente, amadureceram ao longo da existência de sua criação.
As melhores empresas não são construídas para serem rapidamente vendidas. Suspeito de empreendedores que se concentram desde o começo na busca de uma indecente saída rápida. Gosto de projetos que vão durar, que possam gerar dinheiro para pagar dividendos e onde os proprietários não são obcecados exclusivamente em ganhar dinheiro rápido para os financiadores. Eu prefiro administradores que se concentram nos clientes, competidores e em superar o orçamento deste ano. Esses são a base de um genuíno empreendimento comercial.
A mitologia romântica do estudante que começa uma empresa num laptop precisa de ajustes. A maioria das empresas atende a exigências mundanas, muito possivelmente aplicações de negócios, e não projetos excitantes para os consumidores como o Facebook. Muitos serão empreendimentos que irão apenas garantir o sustento de seus fundadores e poucos se transformam em sucessos estrondosos. Mas isso não os torna menos válidos ou dignos.
Empresas que ascendem em ritmo vertiginoso normalmente caem de maneira parecida. A internet encoraja muitos principiantes, mas também monopólios aparentemente inexpugnáveis - até que eles também não mais o sejam. A razão disso é que os usuários da internet são instáveis - é só olhar para o colapso do MySpace e do Bebo.
Mas, pelo menos, Zuckerberg é mais inspirador que os bombásticos gurus da televisão Lord Sugar ou Donald Trump.
-----------------------------------
*Luke Johnson é colunista do "Financial Times" e, excepcionalmente hoje, escreveu no lugar de Lucy Kellaway
Fonte: Valor Econômico on line, 05/09/2011
Imagem da Internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário