sábado, 5 de maio de 2012

Ciclos e ciclovias

Juremir Machado da Silva*

<br /><b>Crédito: </b> ARTE JOÃO LUIS XAVIER

Há estudiosos que acreditam na teoria dos ciclos. A América Latina viveu o ciclo populista, o ciclo das ditaduras, o ciclo nacionalista, o ciclo da redemocratização, o ciclo das privatizações, o ciclo das ferrovias, o ciclo das rodovias, etc. Estaríamos agora num novo ciclo de nacionalizações. O ciclo populista clássico teria sido ferroviário. O ciclo nacionalista neopopulista, estilo JK, teria sido rodoviário. O ciclo das privatizações dos anos 90 teria sido "pedagiário". E agora? Cristina Kirchner encampou a Repsol. Evo Morales nacionalizou a empresa espanhola de eletricidade. Barcelona e Real Madrid desabaram na Liga dos Campeões. Surge uma nova era: das ciclovias e das reestatizações.

O Rio Grande do Sul não poderia ficar para trás. Avança a ciclovia da Ipiranga. O governador Tarso Genro vai criar uma nova estatal, a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), para gerir os pedágios das estradas gaúchas. Faz bem. As privatizações, que eram engenhosas maneiras de pagar o aluguel da residência, vendendo os móveis da casa, já não rendem. Os contratos com as concessionárias de pedágios, por exemplo, devem ter sido redigidos por um especialista em caminhos de mulas: o usuário, que já paga impostos, desembolsa muito, as empresas beneficiadas investem pouco, mal cuidam da manutenção das estradas, enchem as burras com dinheiro dos muares e ainda reclamam que estão no prejuízo. Sempre que um ciclo começa, há fortes reações. Tem automobilista sem massa cinzenta querendo passar por cima de ciclista com massa crítica. Tarso Genro, com sua estatal, será chamado de Evo ou Cristina. Morales da história: o mundo dá muitas voltas.

O Estado voltou. Foi chamado às pressas pelos banqueiros e pelos executivos dos setores imobiliário e automobilístico no auge da crise americana de 2008. Apareceram todos de jatinho para evitar engarrafamentos. Estou com o governador Tarso Genro. Apoio a sua estatal. Vão dizer que será um cabide de empregos para a companheirada. Vão afirmar que será mais um elefante branco lento, burocrático e ineficiente. Vão alegar que o Estado não sabe gerir essas coisas e que faria melhor terceirizando. Conversa fiada. As terceirizações fracassaram. Nada impede que o Estado seja eficiente. Não existe o DNA estatal com o gene da ineficiência. Os lugares mais equilibrados do mundo, os países escandinavos, têm Estado forte e eficiente, altos impostos, baixa corrupção e elevado índice de desenvolvimento humano. Vão dizer que é uma questão de cultura. Claro. Muito bem. Mudemos a nossa cultura. Leva tempo? Melhor começar já. Não há tempo algum a perder.

O novo ciclo será de associação entre iniciativa privada e Estado consistente, ciclovias, metrô, energias limpas e renováveis, viveremos, cada vez mais, de vento, redistribuição de renda e equilíbrio em tudo. No caso gaúcho, para que a era do equilíbrio perfeito recomece só falta o Grêmio voltar a ganhar algum título importante, o que eu também apoio, por altruísmo, embora isso possa vir com a inauguração do metrô de Porto Alegre. Logo ali.
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* Sociólgo. Escritor. Prof. Universitário.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
 Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Fonte: Correio do Povo on line, 05/05/2012

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