Dois livros analisam o polêmico caso do Sofitel de Nova York, que arruinou as aspirações políticas de Dominique Strauss-Kahn
Há um ano, ele era o chefe do FMI, um herói da crise do euro, e o
favorito para ser o candidato socialista à presidência francesa,
conquistada no dia 6 de maio por François Hollande. Mas então veio o
incidente notório no Sofitel em Nova York, em 14 de maio de 2011, no
qual Dominique Strauss-Kahn foi acusado do abuso sexual e tentativa de
estupro de Nafi Diallo, uma camareira da Guiné. Embora os promotores
mais tarde tenham retirado as acusações por causa de dúvidas sobre a
credibilidade de Diallo, a carreira política de Strauss-Kahn acabou.
Dois novos livros contam a história a partir de ângulos muito
diferentes. Seu único ponto em comum é o que aconteceu na suíte 2806 do
Sofitel, quando um Dominique Strauss-Kahn nu saiu do chuveiro, encontrou
a empregada que se preparava para limpar o quarto, e a seduziu (sua
versão) ou a forçou (versão dela) a praticar uma felação.
Para Edward Epstein, autor de Three Days in May: Sex, Surveillance and DSK
(“Três Dias Em Maio: Sexo, Vigilância e DSK”), a história então se
transformou em uma série de especulações sobre a possibilidade de
Strauss-Kahn ter sido vítima de uma conspiração, provavelmente
organizada pelos serviços de inteligência franceses. Seu e-book (que vem
com uma prova em vídeo) expande um artigo que ele escreveu no New York Review of Books,
em dezembro, narrando uma série de esquisitices: chamadas estranhas
entre o hotel de donos franceses e Paris, o desaparecimento do
BlackBerry de Strauss-Kahn, um homem repetidamente o observando, e a
dança curiosa de dois homens de segurança após Diallo ser convencida a
chamar a polícia.
Ainda assim, em última análise, a teoria de Epstein não é
convincente, por uma razão simples. O suposto beneficiário da armação
seria o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Mas Strauss-Kahn reconheceu
em abril de 2011, antes do incidente no Sofitel, que tinha um potencial
problema político por conta de sua promiscuidade. Sarkozy teria um
dossiê pronto, que incluiria caso Carlton de prostituição em Lille,
atualmente sob investigação. Para ele, certamente teria sido melhor ter
Strauss-Kahn como adversário: ele poderia até tê-lo derrotado nas
eleições.
DSK: The Scandal That Brought Down Dominique Strauss-Kahn
(“DSK, o Escândalo que Derrubou Dominique Strauss-Kahn”), de John
Solomon, faz muito mais sentido. Ele também nasceu de um artigo, neste
caso, uma entrevista com Diallo, publicada na Newsweek em julho
do ano passado, pouco antes de os promotores abandonarem o caso. Seu
livro é, em essência, uma acusação dessa decisão. Ele é especialmente
devastador contra o promotor-geral de Nova York, Cyrus Vance Jr, que
havia recém sucedido o lendário Robert Morgenthau, no início de 2010.
Como Solomon resume, “Não havia como este caso, trazer o melhor da
jurisprudência ou do jornalismo norte-americano do século XXI”.
De fato, os promotores primeiro se apressaram para condenar
Strauss-Kahn, sujeitando-o a uma escolta algemada depois de ele ser
retirado de um avião com destino a Paris, negando-lhe fiança, e não
verificando suficientemente os detalhes da história de Diallo. Mas,
quando então descobriram que Diallo havia dito mentiras sobre seu
passado na Guiné para ganhar asilo e obter habitação subsidiada, eles
correram rápido demais na outra direção, concluindo que não poderiam
colocá-la no tribunal, de modo que o caso teve que ser descartado.
Solomon argumenta persuasivamente que o caso ainda poderia ter sido
ganho.
Nenhum dos autores capta a outra grande lição do caso DSK, que é uma
mudança bem-vinda nas percepções sobre como homens poderosos podem se
comportar contra mulheres jovens impotentes. Strauss-Kahn tem um
histórico de assédio sexual de mulheres, e claramente deduziu que as
denúncias não seriam feitas, ou seriam desacreditadas. Mesmo após o
incidente no Sofitel, um líder socialista francês comentou com desdém
que “ninguém morreu”. O fato da reputação de Strauss-Kahn estar tão
manchada e de Diallo estar agora buscando um processo civil por perdas e
danos, é uma prova de que, mesmo na França, tais atitudes estão
morrendo, e que os velhos lascivos não serão capazes de escapar impunes
como costumam fazer.
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Fontes:
The Economist - For shame
http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/o-homem-que-poderia-ter-sido-presidente/
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