Cerca de 18% dos brasileiros são dependentes do celular. Falta do aparelho pode acarretar até verdadeiras crises de abstinência.
No início de abril correu o mundo uma história que parecia saída de
um desses sites de notícias falsas, esses que juntam assuntos e
personagens em destaque na mídia com elementos do imaginário popular
para criar as histórias mais mirabolantes que, não obstante, muitas
vezes soam reais, tendo em vista os tempos que correm de mitigação da
fronteira entre o razoável e o absurdo na circulação de informações.
A história em questão, entretanto, foi tragicamente real: um
adolescente chinês de 17 anos da província de Anhui, uma das mais pobres
da China, vendeu um dos seus rins por US$ 3,5 mil para comprar um
iPhone e um iPad. O garoto confessou para a mãe a bobagem que fez porque
não teve como explicar onde havia arranjado dinheiro para se equipar
com a parafernália da Apple. Cinco pessoas foram indiciadas pelo crime e
o jovem, identificado como Wang, arranjou uma insuficiência renal.
Mas não, a insuficiência renal fruto do extremo a que chegou o jovem
Wang não é uma doença da era digital. A nomofobia, sim. Nomofobia? Isso
mesmo. É um mal que pode afligir nada menos do que 18% dos brasileiros.
Você pode ser um portador.
Afinal, o que é nomofobia?
Nomofobia é uma “doença digital” que começa com a angústia ante a
ideia de perder o telefone celular ou de ser incapaz de ficar sem ele
por mais de um dia e termina com as pessoas se sentindo rejeitadas
quando o telefone toca pouco e passam mesmo por crises de abstinência
quando estão sem o aparelho.
É claro que a nomofobia (do inglês “no mobile phobia”) não tem origem
no celular propriamente dito, mas sim em outros transtornos mentais,
como ansiedade e depressão. Não obstante, os números que surgem a todo
dia dão conta de uma verdadeira epidemia global.
Segundo uma pesquisa realizada em março na França pela empresa
Mingle, aproximadamente 22% dos franceses dizem ser “impossível” ficar
por mais de um dia sem usar o celular. Entre jovens com idades entre 15 e
19 anos a proporção chega a 35%. E foi uma empresa francesa de
pesquisa, a Ipsos, que realizou uma pesquisa com mil brasileiros e
constatou que 18% de nós somos dependentes de celular.
Mas é no Reino Unido onde a situação parece mais alarmante. Uma
pesquisa realizada pela empresa de soluções de segurança SecurEnvoy
revelou que 66% dos britânicos se dizem “muito angustiados” com a ideia
de perder seu celular. A proporção chega a 76% nos jovens entre 18 e 24
anos de idade.
Da tecnofobia à tecnofilia
Outras “patologias” da era da iParafernália são dois opostos que definitivamente não se atraem: a tecnofobia e a tecnofilia.
A tecnofobia é algo que os acadêmicos definem como uma, digamos,
“vertente” que vê as inovações tecnológicas de toda sorte como algo
ruim, em um processo de desumanização da sociedade ante as máquinas cada
vez mais poderosas, menores e presentes em todos os aspectos e momentos
da vida humana.
Trocando em miúdos, a tecnofobia pode ser observada “em campo”
naqueles que não têm telefone celular ou que têm, a contragosto, mas
estão sempre prestes a atirá-los pela janela sempre que não conseguem
acessar uma de suas funções, ou mesmo em gente que sua frio diante de um
velho — sim, velho — caixa eletrônico.
Já a tecnofilia é, na melhor das hipóteses, a adesão acrítica aos
avanços tecnológicos e a crença de que estes avanços são a chave para
uma vida melhor; na pior, é uma espécie de atração tresloucada pela
tecnologia, ou melhor, pela tecnologia de última geração.
Novamente trocando em miúdos, trata-se daquele sujeito que acampa na
porta da loja da Apple para ser o primeiro a comprar as últimas versões
do iPhone e do iPad, ou mesmo em um jovem oriental de uma província
remota e miserável que está disposto a quase tudo para ter em mãos os
aparelhos da moda.
Caro leitor, você está mais para um tecnofóbico ou para um tecnófilo?----------------
Por Hugo Souza
Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/voce-tem-nomofobia-tem-certeza/
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