segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Equipe evita suicídios na cidade de NY

Por WENDY RUDERMAN

Dois detetives se aproximavam lentamente de um homem desesperado que ameaçava saltar de uma borda de concreto da ponte George Washington, a mais de 60 metros acima do rio Hudson. Se ele saltasse, a queda, que deveria alcançar a velocidade de mais de 95 quilômetros por hora, certamente seria fatal.

Os detetives Marc Nell e Everald Taylor, amarrados à ponte e à sua caminhonete de resgate, souberam resistir ao impulso de puxar o homem para a segurança. "Qual é o seu nome?", perguntou o detetive Nell. "Fale comigo. Pense na sua família."

Nem sempre importa o que os detetives dizem. O que eles procuram é uma abertura. Um momento de dúvida.

"Quando você encontra esse momento, a expressão facial e a postura corporal da pessoa muda. É quando você pensa: 'Ah, eu o peguei. Tudo bem, ele não vai a lugar nenhum'", disse o detetive Nell.

Nesse caso, os oficiais fizeram o que chamam de "agarrão". Eles seguraram o homem e o puxaram da borda.

Todo ano, o Departamento de Polícia de Nova York recebe centenas de ligações pelo número 911 sobre pessoas que ameaçam saltar de pontes e telhados. Neste ano, o número já está quase superando o total do ano passado, 519.

A Unidade de Serviço de Emergência responde a esses chamados. Seus 300 oficiais são especialmente treinados no resgate de suicidas. Eles sabem exatamente o que dizer e, talvez o mais importante, o que não dizer.

"Será mais difícil salvar a pessoa se alguém disser 'Sim, as coisas estão ruins, e não sabemos se elas irão melhorar'", disse o executivo da unidade, o inspetor Robert Lukach. Ele continuou: "Se ela disser: 'Oh, estou tendo problemas com minha mulher', diga: 'Sim, eu também tenho problemas com minha mulher. Ela gritou comigo ontem porque não lavei os pratos'".

A comunicação pode durar horas e nem sempre recompensa.

Em um dia frio no último inverno nos EUA, o detetive Taylor falou com um paciente psiquiátrico que tinha passado pela janela de um banheiro do sexto andar do Hospital Bellevue. O homem se segurava com os dedos na borda da janela. Ele disse ao detetive que não podia mais viver com a culpa de ter matado uma pessoa.

"Somos todos seres humanos. Nenhum de nós é perfeito", disse o detetive Taylor para ele. "Por que você não me empurra?", provocou o homem. Durante quase três horas, Taylor ficou inclinado por uma janela no sétimo andar falando, ganhando tempo, enquanto oficiais cortavam o vidro da janela para criar uma abertura suficiente para agarrar o homem. O detetive Taylor sentiu que ele estava pronto para entrar. Estava sem camisa, sentia frio e pediu um cobertor.

"Porém, a fadiga se instala", disse Taylor. "Ele estava estendendo seus braços para mim, mas eu não conseguia alcançá-lo", lembrou. "Naquela altura, ele teve um pouco de pânico. Foi quando gemeu e disse 'Está bem'. Então ele foi embora... caiu."

O detetive, que trabalha no Serviço de Emergência há 12 anos, falou com a voz baixa: "Esse foi o meu primeiro fracasso. Foi a única vez em que perdi alguém com quem estava conversando".

Nos resgates em edifícios, a reação dos observadores é tão variada quanto os bairros da cidade. No centro de Manhattan ou no distrito financeiro, por exemplo, é maior a probabilidade de os pedestres gritarem: "Pule!". Em áreas residenciais, como Harlem ou Brooklyn, onde o possível suicida pode ser um rosto conhecido, os moradores dão à polícia informações sobre a pessoa. Elas aplaudem os policiais que fazem um "agarrão" com sucesso.

A Unidade de Serviço de Emergência não é uma das tarefas mais cobiçadas no Departamento de Polícia. Os oficiais têm de passar em uma entrevista, um teste de agilidade e um teste de natação. Os policiais escolhidos treinam durante pelo menos seis meses. Eles também aprendem a apagar incêndios, retirar vítimas de carros acidentados e resgatar pessoas de águas agitadas.

Os oficiais da unidade também fazem um curso de três semanas para ser técnicos médicos de emergência certificados e um curso de uma semana de psicologia de emergência.

O sargento Anthony Lisi, supervisor do esquadrão, salienta para seus oficiais que, caso uma pessoa salte durante um resgate, a culpa não será deles. "Você não quer que a equipe leve isso para casa, que sinta que foi a causa da morte de alguém, o que não foi", disse.

O detetive Nell disse que, às vezes,se pergunta o que aconteceu com aqueles que ajudou: eles refizeram suas vidas? Tentaram se matar de novo?

A oportunidade de ajudar as pessoas, dando-lhes uma segunda chance, parece um privilégio, disse o detetive Dennis Canale.
Mas algumas, mesmo depois de ter sido resgatadas, não parecem agradecidas. O detetive Darren McNamara recentemente mergulhou no rio Hudson para salvar uma mulher que queria se suicidar. Segundo o detetive, quando a agarrou, ela o olhou com firmeza e disse: "Por que você fez isso?". 
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Fonte:  http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/76075-equipe-evita-suicidios-na-cidade-de-ny.shtml 05/11/2012

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