Por WENDY RUDERMAN
Dois detetives se aproximavam lentamente de um homem desesperado que
ameaçava saltar de uma borda de concreto da ponte George Washington, a
mais de 60 metros acima do rio Hudson. Se ele saltasse, a queda, que
deveria alcançar a velocidade de mais de 95 quilômetros por hora,
certamente seria fatal.
Os detetives Marc Nell e Everald Taylor, amarrados à ponte e à sua
caminhonete de resgate, souberam resistir ao impulso de puxar o homem
para a segurança. "Qual é o seu nome?", perguntou o detetive Nell. "Fale
comigo. Pense na sua família."
Nem sempre importa o que os detetives dizem. O que eles procuram é uma abertura. Um momento de dúvida.
"Quando você encontra esse momento, a expressão facial e a postura
corporal da pessoa muda. É quando você pensa: 'Ah, eu o peguei. Tudo
bem, ele não vai a lugar nenhum'", disse o detetive Nell.
Nesse caso, os oficiais fizeram o que chamam de "agarrão". Eles seguraram o homem e o puxaram da borda.
Todo ano, o Departamento de Polícia de Nova York recebe centenas de
ligações pelo número 911 sobre pessoas que ameaçam saltar de pontes e
telhados. Neste ano, o número já está quase superando o total do ano
passado, 519.
A Unidade de Serviço de Emergência responde a esses chamados. Seus 300
oficiais são especialmente treinados no resgate de suicidas. Eles sabem
exatamente o que dizer e, talvez o mais importante, o que não dizer.
"Será mais difícil salvar a pessoa se alguém disser 'Sim, as coisas
estão ruins, e não sabemos se elas irão melhorar'", disse o executivo da
unidade, o inspetor Robert Lukach. Ele continuou: "Se ela disser: 'Oh,
estou tendo problemas com minha mulher', diga: 'Sim, eu também tenho
problemas com minha mulher. Ela gritou comigo ontem porque não lavei os
pratos'".
A comunicação pode durar horas e nem sempre recompensa.
Em um dia frio no último inverno nos EUA, o detetive Taylor falou com um
paciente psiquiátrico que tinha passado pela janela de um banheiro do
sexto andar do Hospital Bellevue. O homem se segurava com os dedos na
borda da janela. Ele disse ao detetive que não podia mais viver com a
culpa de ter matado uma pessoa.
"Somos todos seres humanos. Nenhum de nós é perfeito", disse o detetive
Taylor para ele. "Por que você não me empurra?", provocou o homem.
Durante quase três horas, Taylor ficou inclinado por uma janela no
sétimo andar falando, ganhando tempo, enquanto oficiais cortavam o vidro
da janela para criar uma abertura suficiente para agarrar o homem. O
detetive Taylor sentiu que ele estava pronto para entrar. Estava sem
camisa, sentia frio e pediu um cobertor.
"Porém, a fadiga se instala", disse Taylor. "Ele estava estendendo seus
braços para mim, mas eu não conseguia alcançá-lo", lembrou. "Naquela
altura, ele teve um pouco de pânico. Foi quando gemeu e disse 'Está
bem'. Então ele foi embora... caiu."
O detetive, que trabalha no Serviço de Emergência há 12 anos, falou com a
voz baixa: "Esse foi o meu primeiro fracasso. Foi a única vez em que
perdi alguém com quem estava conversando".
Nos resgates em edifícios, a reação dos observadores é tão variada
quanto os bairros da cidade. No centro de Manhattan ou no distrito
financeiro, por exemplo, é maior a probabilidade de os pedestres
gritarem: "Pule!". Em áreas residenciais, como Harlem ou Brooklyn, onde o
possível suicida pode ser um rosto conhecido, os moradores dão à
polícia informações sobre a pessoa. Elas aplaudem os policiais que fazem
um "agarrão" com sucesso.
A Unidade de Serviço de Emergência não é uma das tarefas mais cobiçadas
no Departamento de Polícia. Os oficiais têm de passar em uma entrevista,
um teste de agilidade e um teste de natação. Os policiais escolhidos
treinam durante pelo menos seis meses. Eles também aprendem a apagar
incêndios, retirar vítimas de carros acidentados e resgatar pessoas de
águas agitadas.
Os oficiais da unidade também fazem um curso de três semanas para ser
técnicos médicos de emergência certificados e um curso de uma semana de
psicologia de emergência.
O sargento Anthony Lisi, supervisor do esquadrão, salienta para seus
oficiais que, caso uma pessoa salte durante um resgate, a culpa não será
deles. "Você não quer que a equipe leve isso para casa, que sinta que
foi a causa da morte de alguém, o que não foi", disse.
O detetive Nell disse que, às vezes,se pergunta o que aconteceu com
aqueles que ajudou: eles refizeram suas vidas? Tentaram se matar de
novo?
A oportunidade de ajudar as pessoas, dando-lhes uma segunda chance, parece um privilégio, disse o detetive Dennis Canale.
Mas algumas, mesmo depois de ter sido resgatadas, não parecem
agradecidas. O detetive Darren McNamara recentemente mergulhou no rio
Hudson para salvar uma mulher que queria se suicidar. Segundo o
detetive, quando a agarrou, ela o olhou com firmeza e disse: "Por que
você fez isso?".
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/76075-equipe-evita-suicidios-na-cidade-de-ny.shtml 05/11/2012
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