domingo, 2 de junho de 2013

Beleza e ciência

Hélio Schwartsman*

Todos os anos, o site Edge.org, mantido por uma associação de cientistas e intelectuais dos EUA, faz uma pergunta levemente provocativa a seus sócios e colaboradores, que a respondem como quiserem. Os textos são depois reunidos num livro que é invariavelmente instrutivo e surpreendente, já que reúne curtas contribuições de pesos-pesados das mais diversas áreas da academia e do mundo das artes. 

"Qual é a sua explicação favorita que seja profunda, elegante ou bonita?", foi a questão proposta em 2012. Vieram quase 200 respostas reunidas no volume "This Explains Everything" (isso explica tudo), lançado no início do ano. 

Um dos textos que me chamaram especial atenção é o da filósofa e romancista Rebecca Newberger Goldstein, em que ela lembra que não há em princípio nenhuma relação entre o fato de uma teoria ser bonita e ela ser verdadeira e, não obstante, tendemos a usar o critério estético para decidir entre explicações rivais. 

Uma possibilidade é que, a exemplo do que ocorre com a beleza física, embaralhemos causas e efeitos. Julgamos belos corpos e rostos harmoniosos porque a simetria é um bom indicador de saúde. Isso significa que não desejamos fisicamente uma pessoa porque ela é bela, mas sim que ela é bela precisamente porque nos inspira desejos físicos. 

Analogamente, uma teoria não seria satisfatória porque é bela, mas nós a consideramos bela porque oferece respostas satisfatórias. 

O problema com essa explicação é que, apesar de bela e até elegante, ela é incompleta. Ignora uma série de exemplos históricos em que o fato de a teoria ter imposto simetria (beleza) aos fenômenos levou a significativos progressos científicos. 

Será que existe, afinal, algum vínculo metafísico entre beleza e verdade? Meia dúzia de físicos que responderam a Edge lança ideias bastante interessantes a respeito desse belíssimo problema. 
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* Colunista da Folha

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