Hélio Schwartsman*
Todos os anos, o site Edge.org, mantido por uma
associação de cientistas e intelectuais dos EUA, faz uma pergunta
levemente provocativa a seus sócios e colaboradores, que a respondem
como quiserem. Os textos são depois reunidos num livro que é
invariavelmente instrutivo e surpreendente, já que reúne curtas
contribuições de pesos-pesados das mais diversas áreas da academia e do
mundo das artes.
"Qual é a sua explicação favorita que seja profunda, elegante ou
bonita?", foi a questão proposta em 2012. Vieram quase 200 respostas
reunidas no volume "This Explains Everything" (isso explica tudo),
lançado no início do ano.
Um dos textos que me chamaram especial atenção é o da filósofa e
romancista Rebecca Newberger Goldstein, em que ela lembra que não há em
princípio nenhuma relação entre o fato de uma teoria ser bonita e ela
ser verdadeira e, não obstante, tendemos a usar o critério estético para
decidir entre explicações rivais.
Uma possibilidade é que, a exemplo do que ocorre com a beleza física,
embaralhemos causas e efeitos. Julgamos belos corpos e rostos
harmoniosos porque a simetria é um bom indicador de saúde. Isso
significa que não desejamos fisicamente uma pessoa porque ela é bela,
mas sim que ela é bela precisamente porque nos inspira desejos físicos.
Analogamente, uma teoria não seria satisfatória porque é bela, mas nós a
consideramos bela porque oferece respostas satisfatórias.
O problema com essa explicação é que, apesar de bela e até elegante, ela
é incompleta. Ignora uma série de exemplos históricos em que o fato de a
teoria ter imposto simetria (beleza) aos fenômenos levou a
significativos progressos científicos.
Será que existe, afinal, algum vínculo metafísico entre beleza e
verdade? Meia dúzia de físicos que responderam a Edge lança ideias
bastante interessantes a respeito desse belíssimo problema.
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* Colunista da Folha
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