sexta-feira, 1 de junho de 2012

Celso Furtado - Evolução do pensamento

 Nelson Perez/Valor / Nelson Perez/Valor

 A evolução do pensamento de Furtado sobre economia e cultura, da década de 1970 até sua morte, em 2004, é explicitada no livro "Ensaios sobre Cultura e o Ministério da Cultura", editado por Rosa. O livro acompanha sua trajetória desde o exílio parisiense, passando pelo cargo no governo Sarney e a participação na Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento, da ONU (Organização das Nações Unidas), em 1994. Esse é o quinto volume de arquivos do economista lançado pela editora Contraponto, em parceria com o Centro Celso Furtado.

Trechos do livro

Além da economia
"Nunca pude compreender a existência de um problema estritamente econômico."

Política cultural
"Propiciar novos meios de acesso aos bens culturais melhora, sem dúvida, a qualidade de vida de uma coletividade. Mas se os encorajamos de modo indiscriminado, outras formas de criatividade correm o risco de desaparecer. É por isso que uma política cultural que se limita a estimular o consumo de bens culturais acaba por frear a criação, impondo obstáculos à inovação. O objetivo último de uma política cultural deve ser liberar todas as formas criativas da sociedade."

Criatividade
"A criatividade sendo, a um só tempo, um processo de ruptura e um processo que se alimenta de raízes do passado, é preciso tanto garantir os espaços para atividades de vanguarda e contestação quanto se preocupar com a defesa do patrimônio acumulado."

Literatura
"Queria inicialmente ser romancista, ficcionista. A minha grande leitura, até hoje, é literária. A descoberta que faço do homem é através da literatura, nunca pela ciência. As ciências sociais são métodos de reduzir, e o homem só se capta totalmente."

Década de 1980
"Nas fases históricas de robusto otimismo, o agir para pensar sobrepõe-se ao pensar para agir. (...) Hoje, vivemos uma fase que não é apenas de contestação, mas também de desilusão e ansiedade. A nova mansão construída na euforia da industrialização e da urbanização exibe gretas por todas as suas paredes. Já a ninguém escapa que nossa industrialização tardia foi conduzida no quadro de um desenvolvimento imitativo, que reforçou tendências atávicas de nossa sociedade ao elitismo e à opressão social."

Século XX
"A descoberta do país real pelas elites é certamente o traço mais saliente do processo cultural brasileiro no século atual. (...) Com a urbanização, a presença do povo faz-se mais visível, e sua criatividade cultural, mais difícil de ser escamoteada. A emergência, na segunda metade do século, de uma classe média de peso crescente introduz novos elementos na equação do processo cultural."
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Fonte: Valor Econômico on line, 31/05/2012

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