sexta-feira, 1 de junho de 2012

Hilda Hilst a poetisa transgressora

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A poesia doce e ácida, sagrada e profana de Hilda Hilst.

Hilda, sempre questionadora, em notas manuscritas, pergunta-se: “O que é obsceno? Obsceno? Ninguém sabe até hoje o que é obsceno. Obsceno para mim é a miséria, a fome, a crueldade, a nossa época é obscena.”

Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, formou-se em Direito pela USP e faleceu em 4 de fevereiro de 2004 na cidade de Campinas (SP), onde viveu o resto de seus dias em sua chácara chamada Casa do Sol. Foi poeta, ficcionista, cronista e dramaturga. É considerada pela crítica especializada como um dos maiores escritores em língua portuguesa do século XX. Filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso.

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Meus conhecimentos literários só me permitem me valer da emoção para falar de poesia, pois então posso dizer que a poesia de Hilda me emociona.
(Do amor)
Ama-me. Ainda é tempo. Interroga-me.
E eu te direi que nosso tempo é agora.
Esplêndida de avidez, vasta ternura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me. Embora eu te pareça
Demasiado intensa. E de aspereza.
É transitória se tu me repensas.
Se escrever é uma atividade viciante, escrever poesia é delirante e Hilda se alimentava das palavras, e com elas amava, brincava, protestava, morria e renascia, dizia tudo e não dizia nada. A mágica de transformar as palavras em puro lirismo, seus poemas têm ritmo de melodia e não por acaso Zeca Baleiro musicou alguns de seus versos, tendo sido ela também parceira de Adoniram Barbosa.
Hilda falava do amor, do amor físico, carnal, visceral e transcedente, porque não há como dissociar o corpo da alma, a vida da morte.
(Do desejo – 1992)
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

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E novamente citando Plutarco: “A pintura deve ser uma poesia muda e a poesia uma pintura que fale”. Os poemas de Hilda são como “pinturas falantes”.

O escritor e seus múltiplos vem vos dizer adeus.
Tentou na palavra o extremo-tudo
E esboçou-se santo, prostituto e corifeu.
A infância foi velada: obscura na teia da poesia e da loucura.
A juventude apenas uma lauda de lascívia, de frêmito
Tempo-Nada na página.
Depois, transgressor metalescente de percursos
Colou-se à compaixão, abismos e à sua própria sombra.
Poupem-no o desperdício de explicar o ato de brincar.
A dádiva de antes (a obra) excedeu-se no luxo.
O Caderno Rosa é apenas resíduo de um “Potlatch”
E hoje, repetindo Bataille:
“Sinto-me livre para fracassar”

Poesias
 Presságio - SP: Revista dos Tribunais, 1950.
 Balada de Alzira - SP: Edições Alarico, 1951.
 Balada do festival - RJ: Jornal de Letras, 1955.
 Roteiro do Silêncio - SP: Anhambi, 1959.
 Trovas de muito amor para um amado senhor - SP: Anhambi, 1959. SP: Massao Ohno, 1961.
 Ode Fragmentária - SP: Anhambi, 1961.
 Sete cantos do poeta para o anjo - SP: Massao Ohno, 1962. (Prêmio PEN Clube de São Paulo)
 Poesia (1959/1967) - SP: Editora Sal, 1967.
 Júbilo, memória, noviciado da paixão - SP: Massao Ohno, 1974.
 Poesia (1959/1979) - SP: Quíron/INL, 1980.
 Da Morte. Odes mínimas - SP: Massao Ohno, Roswitha Kempf, 1980.
 Da Morte. Odes mínimas - SP: Nankin/Montréal: Noroît, 1998. (Edição bilíngüe, francês-português.)
 Cantares de perda e predileção - SP: Massao Ohno/Lídia Pires e Albuquerque Editores, 1980. (Prêmio Jabuti/Câmara Brasileira do Livro. Prêmio Cassiano Ricardo/Clube de Poesia de São Paulo.)
 Poemas malditos, gozosos e devotos - SP: Massao Ohno/Ismael Guarnelli Editores, 1984.
 Sobre a tua grande face - SP: Massao Ohno, 1986.
 Alcoólicas - SP: Maison de vins, 1990.
 Amavisse - SP: Massao Ohno, 1989.
 Bufólicas - SP: Massao Ohno, 1992.
 Do Desejo - Campinas, Pontes, 1992.
 Cantares do Sem Nome e de Partidas - SP: Massao Ohno, 1995.
 Do Amor - SP: Massao Ohno, 1999.
Notas:
Bataille – escritor francês falecido em 1962.
Potlatch - antiga cerimônia religiosa celebrada entre tribos do noroeste do pacífico.
Fontes: http://www.angelfire.com/ri/casadosol/pdesejo.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/hilda.htm
http://www.revista.agulha.nom.br/ag41hilst.htm
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Reportagem por por
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/31/05/2012

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