sexta-feira, 1 de junho de 2012

Ignacy Sachs - Décadas de contribuição para o debate do desenvolvimento sustentável

Ignacy Sachs
O socioeconomista franco-polonês Ignacy Sachs, aos 85 anos, é um pensador em plena atividade. Sua longa e bela trajetória está marcada por participações em eventos importantes. Esteve presente na organização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo, realizada em 1972, e na Cúpula da Terra – Eco-92, no Rio de Janeiro. E já confirmou que deixará sua contribuição durante a Rio+20, participando de eventos paralelos no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Com uma carreira acadêmica dedicada, em grande parte, ao Centro de Pesquisas do Brasil Contemporâneo na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais (Paris), do qual foi diretor, é reconhecido por ser um dos criadores do conceito do ecodesenvolvimento, que propõe o crescimento econômico no contexto do desenvolvimento social e proteção ambiental.
Em entrevista ao Mercado Ético, ele faz uma análise sobre economia verde e governança global e propõe alternativas possíveis de negociações para a Rio+20

Mercado Ético Após uma experiência de mais de quatro décadas, quais são os caminhos da governança global e da sustentabilidade que o senhor considera necessários, tendo em vista o contexto da crise econômica?
Ignacy Sachs Os mercados deixados a si mesmos têm a vista curta e a pele grossa. Por isso, devemos recolocar no centro das nossas preocupações a volta ao planejamento em longo prazo, visto que, os computadores tomaram o lugar dos "ábacos" (antigo instrumento de cálculo). Dispomos hoje de um vasto conjunto de experiências de planejamento, muitas delas fracassadas, assim mesmo, suscetíveis de um exame crítico de maneira a propor para o futuro paradigmas eficientes de planejamento democrático, baseado no diálogo entre todos os atores sociais e estruturado ao redor do tripé: objetivos de desenvolvimento sociais, condicionalidade ambiental e viabilidade econômica, esta última por construir.

ME A ecossocioeconomia tem compatibilidade com o que está se propondo como economia verde? Por quê?
IS A ecossocioeconomia deve se esforçar por utilizar, sempre que possível, recursos renováveis pertencentes à "economia verde", tomando o cuidado de respeitar as condições de sua renovabilidade e obedecendo a preceitos de justiça social na repartição do produto. Por isso, a minha preferência vai à bandeira portuguesa: "verde – vermelha". De qualquer modo, devemos evitar a criação de uma economia verde ao serviço de uma minoria privilegiada.

ME Quais são suas propostas e perspectivas para a Rio+20, agora, em junho? Qual será sua participação no evento?
IS Idealmente, deveríamos completar os fundos de desenvolvimento mobilizados internamente em cada país para a criação de um grande fundo de desenvolvimento internacional, alimentado por 1% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países ricos (um tema várias vezes colocado no debate internacional e nunca implementado). Essa iniciativa somada à taxa Tobin (tributo proposto pelo economista norte-americano James Tobin, da Universidade de Yale) sobre as especulações financeiras, além de um imposto sobre o carbono emitido com o duplo propósito de frear as emissões e gerar recursos para o desenvolvimento. Por fim, considero importante haver pedágios sobre ares e mares sob a forma de um percentual acrescentado às passagens aéreas e aos fretes marítimos.
Penso que poderíamos, assim, chegar facilmente a 2% do PIB mundial, ou seja, aproximadamente um décimo de todos os investimentos, quantia suficiente para reorientar o rumo da economia mundial.
Para que recursos tão volumosos não se percam em investimentos duvidosos, as Nações Unidas deveriam reforçar simultaneamente os programas de cooperação científica e técnica voltados ao melhor aproveitamento dos recursos renováveis de cada bioma, privilegiando, portanto, na cooperação internacional, os paralelos e, não, os meridianos.
Quanto à minha participação na Rio+20, deverei tomar parte em vários eventos paralelos no Rio e em São Paulo, entre 13 e 23 de junho.
Reportagem por Sucena Shkrada Resk, do Mercado Ético 31/05/2012

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