O socioeconomista franco-polonês Ignacy Sachs, aos 85 anos, é um
pensador em plena atividade. Sua longa e bela trajetória está marcada
por participações em eventos importantes. Esteve presente na organização
da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, em Estocolmo,
realizada em 1972, e na Cúpula da Terra – Eco-92, no Rio de Janeiro. E
já confirmou que deixará sua contribuição durante a Rio+20, participando
de eventos paralelos no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Com uma carreira acadêmica dedicada, em grande parte, ao Centro de
Pesquisas do Brasil Contemporâneo na Escola de Altos Estudos de Ciências
Sociais (Paris), do qual foi diretor, é reconhecido por ser um dos
criadores do conceito do ecodesenvolvimento, que propõe o crescimento
econômico no contexto do desenvolvimento social e proteção ambiental.
Em entrevista ao Mercado Ético, ele faz uma análise sobre economia
verde e governança global e propõe alternativas possíveis de negociações
para a Rio+20
Mercado Ético Após
uma experiência de mais de quatro décadas, quais são os caminhos da
governança global e da sustentabilidade que o senhor considera
necessários, tendo em vista o contexto da crise econômica?
Ignacy Sachs Os mercados deixados a si
mesmos têm a vista curta e a pele grossa. Por isso, devemos recolocar no
centro das nossas preocupações a volta ao planejamento em longo prazo,
visto que, os computadores tomaram o lugar dos "ábacos" (antigo
instrumento de cálculo). Dispomos hoje de um vasto conjunto de
experiências de planejamento, muitas delas fracassadas, assim mesmo,
suscetíveis de um exame crítico de maneira a propor para o futuro
paradigmas eficientes de planejamento democrático, baseado no diálogo
entre todos os atores sociais e estruturado ao redor do tripé: objetivos
de desenvolvimento sociais, condicionalidade ambiental e viabilidade
econômica, esta última por construir.
ME A ecossocioeconomia tem compatibilidade com o que está se propondo como economia verde? Por quê?
IS A ecossocioeconomia deve se esforçar
por utilizar, sempre que possível, recursos renováveis pertencentes à
"economia verde", tomando o cuidado de respeitar as condições de sua
renovabilidade e obedecendo a preceitos de justiça social na repartição
do produto. Por isso, a minha preferência vai à bandeira portuguesa:
"verde – vermelha". De qualquer modo, devemos evitar a criação de uma
economia verde ao serviço de uma minoria privilegiada.
ME Quais são suas propostas e perspectivas para a Rio+20, agora, em junho? Qual será sua participação no evento?
IS Idealmente, deveríamos completar os
fundos de desenvolvimento mobilizados internamente em cada país para a
criação de um grande fundo de desenvolvimento internacional, alimentado
por 1% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países ricos (um tema várias
vezes colocado no debate internacional e nunca implementado). Essa
iniciativa somada à taxa Tobin (tributo proposto pelo economista
norte-americano James Tobin, da Universidade de Yale) sobre as
especulações financeiras, além de um imposto sobre o carbono emitido com
o duplo propósito de frear as emissões e gerar recursos para o
desenvolvimento. Por fim, considero importante haver pedágios sobre ares
e mares sob a forma de um percentual acrescentado às passagens aéreas e
aos fretes marítimos.
Penso que poderíamos, assim, chegar facilmente a 2% do PIB mundial,
ou seja, aproximadamente um décimo de todos os investimentos, quantia
suficiente para reorientar o rumo da economia mundial.
Para que recursos tão volumosos não se percam em investimentos
duvidosos, as Nações Unidas deveriam reforçar simultaneamente os
programas de cooperação científica e técnica voltados ao melhor
aproveitamento dos recursos renováveis de cada bioma, privilegiando,
portanto, na cooperação internacional, os paralelos e, não, os
meridianos.
Quanto à minha participação na Rio+20,
deverei tomar parte em vários eventos paralelos no Rio e em São Paulo,
entre 13 e 23 de junho.
Reportagem por Sucena Shkrada Resk, do Mercado Ético 31/05/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário