Marcelo Gleiser*
Impedir a exploração humana do espaço é ir contra a história; somos exploradores por natureza
Já que na semana passada escrevi sobre como alienígenas ultra-avançados
seriam indistinguíveis de deuses, hoje queria ir na direção oposta e
explorar o nosso papel como exploradores cósmicos. O assunto foi
inspirado pela missão sensacional do módulo Dragon, da empresa SpaceX, o
grupo privado que na semana passada acoplou pela primeira vez uma
cápsula à Estação Espacial Internacional, inaugurando uma nova era na
corrida espacial.
Existem duas escolas de pensamento no que tange a nosso papel na
exploração espacial. Membros da primeira argumentam que, do ponto de
vista de custos e rapidez de resultados, missões robóticas são de longe
melhores. Os sucessos até aqui são mesmo notáveis: por exemplo, a
exploração dos planetas gigantes do Sistema Solar (Júpiter, Saturno,
Urano e Netuno) pelas missões Voyager 1 e 2 e, mais recentemente, as
missões Galileu e Cassini; os veículos de exploração de Marte, guiados
por controle remoto daqui da Terra, e a nova missão que deve chegar lá
no dia 6 de agosto, com um veículo de exploração bem maior do que seus
antecessores. Exemplos não faltam, provando que podemos aprender
enviando máquinas ao espaço. É bem mais barato do que enviar humanos e
ninguém corre risco de morte.
A segunda escola defende que humanos precisam ir ao espaço. É nossa
prerrogativa enquanto espécie inteligente, nosso mandato cósmico. As
crianças adoram a ideia de explorar o espaço e muitos se interessam por
ciência por causa disso.
Na prática, ter humanos in situ é muito eficiente, pois não só
improvisamos como não somos bloqueados por pedras ou sofremos dano em
painéis solares e antenas. (Se bem que nosso equipamento pode sofrer
esses e outros danos.)
Existem muitas razões para enviar humanos ao espaço, algumas científicas
e outras mais românticas. Devemos agora adicionar "dinheiro" entre
elas, já que se pode ganhar muito com a exploração privada do espaço
-mineração, pesquisa, projetos governamentais, turismo e outros. O grupo
SpaceX, por exemplo, tem um contrato de US$ 1,6 bilhão com a Nasa para
entregar equipamentos à Estação Espacial Internacional.
Idealmente, a resposta deveria combinar as duas posições: robôs são
necessários, pois podem ir aonde não podemos, realizar tarefas para nós
impossíveis e nos poupar de riscos desnecessários. Por outro lado,
impedir a exploração humana do espaço é ir contra a história da nossa
espécie. Somos exploradores por natureza, muitas vezes sem nos importar
com os riscos.
Tenho certeza que, se um programa desenvolvesse uma viagem apenas de ida
a Marte, não faltariam voluntários dispostos a chegar lá para serem
imortalizados pela história da humanidade e para manter nosso
expansionismo vivo.
Difícil imaginar que nosso futuro não será no espaço e que, dentro de
alguns milhões de anos, não seremos nós os colonizadores de boa parte da
galáxia. Pode até ser que encontremos "outros" pelo caminho -se bem que
seu silêncio até aqui parece indicar sua raridade ou sua ausência (ou
falta de interesse na nossa espécie). Já que, com tecnologias atuais, a
viagem até a estrela mais próxima demora uns 100 mil anos, é bom
começarmos logo.
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