Laurent Alexandre*
Algumas afirmações que parecem ser
de bom senso se tornarão
em
breve biologicamente falsas.
A tecnologia permitirá
que os homossexuais
tenham
filhos biológicos portadores
dos genes dos dois genitores,
como
os casais heterossexuais
Quais
são os limites para os homossexuais franceses? O debate é muito vivo.
Em poucas décadas, eles conquistaram reconhecimento e proteção;
reivindicam hoje diversas mudanças em nível legislativo em nome da
igualdade: casamento, direito à adoção, acesso às técnicas de procriação
medicamente assistida e recurso à gestação de "aluguel". O presidente
francês, François Hollande, prometeu o direito ao
casamento e à adoção para esses casais. Será que amanhã será dado aos
homossexuais o direito de se reproduzirem?
Por enquanto, os gays franceses vão para os Estados Unidos ou à Ásia, onde está organizado um verdadeiro mercado da fertilização in vitro e da gestação de "aluguel". Eles compram na internet um óvulo sob medida e alugam um útero por nove meses. As características físicas das mulheres envolvidas além do seu quociente intelectual estão particularmente bem documentados nesses sites.
Os felizes genitores voltam com um recém-nascido, e as autoridades fecham os olhos. Eles só têm alguns problemas administrativos para a transcrição do estado civil da criança no direito francês. No entanto, a criança é o fruto biológico de apenas um dos dois genitores, o que é fonte de frustração para o outro: as lésbicas utilizam o esperma de um terceiro, e o óvulo e o útero de uma das duas "cônjuges"; os gays se servem do esperma de um dos dois homens e do óvulo de uma mulher que pode ser a mesma da gestação, mas não obrigatoriamente.
Essas evoluções da sociedade são contestadas por alguns psicólogos, particularmente porque a adoção por homossexuais corre o risco de provocar problemas psicológicos às crianças as quais se impõe uma filiação impossível. "Um casal homossexual nunca será crível como 'gerador'", afirmou recentemente o doutor Pierre Lévy-Soussan, no jornal Le Point. No entanto, essa que hoje parece ser uma afirmação de bom senso se tornará biologicamente falsa. A tecnologia permitirá que os homossexuais tenham filhos biológicos portadores dos genes dos dois genitores, como os casais heterossexuais.
A técnica das células-tronco IPS (pluripotentes induzidas) – cujo inventor japonês, Shinya Yamanaka, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina 2012 – permite a fabricação dos espermatozoides e dos óvulos a partir de fibroblastos, células que se encontram sob a pele. Já é possível fabricar um camundongo a partir de dois genitores. A passagem dessas técnicas para a espécie humana é apenas uma questão de tempo, e as associações homossexuais militarão para que esse prazo seja breve.
Além disso, graças às células estaminais IPS, um mesmo indivíduo poderá produzir tanto óvulos quanto espermatozoides. O único limite, por enquanto, é que o filho de um casal de homossexuais poderá ser apenas uma filha.
Em algumas décadas, os casais de homens poderão se beneficiar ainda do útero artificial. O biólogo e filósofo Henri Atlan – grande especialista no assunto – defende a ideia de que não há diferença fundamental entre uma incubadora para recém-nascidos prematuros e o útero artificial.
Parece realmente muito distante o tempo em que Jeannette Vermeersch-Thorez, grande dirigente do Partido Comunista Francês, declarava o seguinte sobre a pílula anticoncepcional: "Quando as mulheres trabalhadoras exigiriam o direito de acesso aos vícios da burguesia? Nunca!".
A experiência mostra que a velocidade do deslocamento do "proibido" para o "tolerado", depois ao "permitido" ou até ao "obrigatório", depende, essencialmente, do ritmo das descobertas científicas, independentemente dos problemas éticos levantados.
Por enquanto, os gays franceses vão para os Estados Unidos ou à Ásia, onde está organizado um verdadeiro mercado da fertilização in vitro e da gestação de "aluguel". Eles compram na internet um óvulo sob medida e alugam um útero por nove meses. As características físicas das mulheres envolvidas além do seu quociente intelectual estão particularmente bem documentados nesses sites.
Os felizes genitores voltam com um recém-nascido, e as autoridades fecham os olhos. Eles só têm alguns problemas administrativos para a transcrição do estado civil da criança no direito francês. No entanto, a criança é o fruto biológico de apenas um dos dois genitores, o que é fonte de frustração para o outro: as lésbicas utilizam o esperma de um terceiro, e o óvulo e o útero de uma das duas "cônjuges"; os gays se servem do esperma de um dos dois homens e do óvulo de uma mulher que pode ser a mesma da gestação, mas não obrigatoriamente.
Essas evoluções da sociedade são contestadas por alguns psicólogos, particularmente porque a adoção por homossexuais corre o risco de provocar problemas psicológicos às crianças as quais se impõe uma filiação impossível. "Um casal homossexual nunca será crível como 'gerador'", afirmou recentemente o doutor Pierre Lévy-Soussan, no jornal Le Point. No entanto, essa que hoje parece ser uma afirmação de bom senso se tornará biologicamente falsa. A tecnologia permitirá que os homossexuais tenham filhos biológicos portadores dos genes dos dois genitores, como os casais heterossexuais.
A técnica das células-tronco IPS (pluripotentes induzidas) – cujo inventor japonês, Shinya Yamanaka, recebeu o Prêmio Nobel de Medicina 2012 – permite a fabricação dos espermatozoides e dos óvulos a partir de fibroblastos, células que se encontram sob a pele. Já é possível fabricar um camundongo a partir de dois genitores. A passagem dessas técnicas para a espécie humana é apenas uma questão de tempo, e as associações homossexuais militarão para que esse prazo seja breve.
Além disso, graças às células estaminais IPS, um mesmo indivíduo poderá produzir tanto óvulos quanto espermatozoides. O único limite, por enquanto, é que o filho de um casal de homossexuais poderá ser apenas uma filha.
Em algumas décadas, os casais de homens poderão se beneficiar ainda do útero artificial. O biólogo e filósofo Henri Atlan – grande especialista no assunto – defende a ideia de que não há diferença fundamental entre uma incubadora para recém-nascidos prematuros e o útero artificial.
Parece realmente muito distante o tempo em que Jeannette Vermeersch-Thorez, grande dirigente do Partido Comunista Francês, declarava o seguinte sobre a pílula anticoncepcional: "Quando as mulheres trabalhadoras exigiriam o direito de acesso aos vícios da burguesia? Nunca!".
A experiência mostra que a velocidade do deslocamento do "proibido" para o "tolerado", depois ao "permitido" ou até ao "obrigatório", depende, essencialmente, do ritmo das descobertas científicas, independentemente dos problemas éticos levantados.
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* A opinião é do cirurgião urologista francês Laurent Alexandre, em artigo publicado no caderno Science et Techno do jornal Le Monde, 27-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/03/11/2012
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