CONSAGRADA
Hilary Mantel venceu dois prêmios Man Booker: em 2009, por Wolf Hall, e, agora, por Bring up the bodies, sobre a trajetória de Thomas Cromwell. O terceiro volume chegará no ano que vem
(Foto: Divulgação (2) e Colin McPherson/Corbis )
Segundo volume de uma saga do século XVI rendeu à escritora inglesa, pela segunda vez, o prêmio literário de maior prestígio da Comunidade Britânica
Em 1975, a jovem Hilary Mantel trabalhava numa loja de roupas em Manchester, norte da Inglaterra, quando começou a escrever livros
num gênero dado por morto: o romance histórico. Há duas semanas, aos 60
anos, ela se consagrou como inovadora desse tipo de ficção. Recebeu,
pela segunda vez, o Man Booker Prize, o prêmio literário de maior
prestígio da Comunidade Britânica, por Bring up the bodies (o título pode ser traduzido como Trazei os prisioneiros,
expressão usada nos tribunais ingleses no século XVI). Ganhara o mesmo
prêmio em 2009 pela primeira parte dessa história, intitulada Wolf Hall
(lançado no Brasil pela editora Record). Pela primeira vez nos 43 anos
do Man Booker, foi premiada uma continuação – e, ademais, de uma
trilogia ainda inconclusa. Antes de Mantel, dois autores haviam sido
agraciados duas vezes com o prêmio: o australiano Peter Carey e o
sul-africano J.M. Coetzee, vencedor também do Nobel de Literatura. “Você espera 20 anos por um Booker e então dois chegam quase de uma vez”, disse ela na cerimônia de premiação.
Esse prêmio costuma causar frisson e rompimentos entre os autores da
confraria literária londrina. Mantel não integra esse grupo. Ela mora no
interior da Inglaterra com o geólogo Gerald McEwen, com quem é casada
há 40 anos. Na juventude, adoeceu. Problemas psíquicos se agravaram com o
diagnóstico de endometriose, que a obrigou a extirpar o útero. Além de
ficar estéril, engordou a ponto de ficar desfigurada. Quando isso tudo
aconteceu, ela tinha pouco mais de 20 anos. Escrever tornou-se uma forma
de superação.
“Mantel é a maior prosadora inglesa moderna”, disse o presidente do
júri, Peter Stothard, no discurso de entrega do prêmio. “Ela reescreveu a
ficção histórica.” O termo “reescritora” define Mantel. Seus livros
narram com olhar contemporâneo episódios surrados do passado. Ela usa
frases curtas, cria diálogos cortantes e se vale de uma linguagem também
moderna. Com isso, renovou o gênero histórico. Seu primeiro romance, A sombra da guilhotina,
concluído em 1979, tratava do terror na Revolução Francesa, já abordado
por autores como Victor Hugo ou Charles Dickens. Em vez de inventar
enredos, Mantel, então uma balconista aspirante a literata, baseou-se em
pesquisas minuciosas em arquivos e bibliotecas. A partir de então,
transformou esse tipo de narrativa. Renunciou a tomar liberdades com o
passado e a idealizar personagens. Mostrou que era possível fazer boa
literatura sem ser infiel às fontes históricas.
“Não invento. Preencho as lacunas deixadas pelos documentos para tentar dar conta dos episódios”, disse a ÉPOCA em 2010, sobre Wolf Hall.
O romance aborda um período da era Tudor (1485-1613) particularmente
pródigo em lutas dinásticas, picuinhas sexuais, assassinatos e
conspirações. O livro relata a ascensão de Thomas Cromwell (1485-1540),
de menino de rua a primeiro-ministro de Henrique VIII. Como lorde
chanceler, ele trabalhou para o rompimento da Inglaterra com o papa
Clemente VII e para a fundação da Igreja Anglicana. O segundo volume, Bring up the bodies
(prevista para sair no Brasil em abril), acompanha os fatos que
convenceram Henrique VIII, aconselhado por Cromwell, a decapitar sua
mulher, Ana Bolena, em 1536, e assim evitar um golpe de Estado. “É um
livro mais interessante que Wolf Hall, porque sua trama transcorre em apenas nove meses”, disse Mantel. “O enredo prende a atenção dos leitores.”
Ela está escrevendo a terceira parte da saga de Cromwell, prevista para 2013, intitulada The mirror and the light (O espelho e a luz).
O volume contará a queda de Cromwell, levado ao patíbulo por Henrique
VIII como traidor corrupto. “Não será um romance tão interessante como
Bring up the bodies”, disse Mantel ao jornal The Guardian. “Mas é o epílogo real da fascinante desgraça de Cromwell.”
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Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Mente-aberta/noticia/2012/11/hilary-mantel-volta-receber-o-man-booker-prize.html
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