Danuza Leão*
Vivendo só, às vezes a pessoa está melhor do que jamais esteve, mas ninguém acredita
Do que mais se precisa na vida para ser feliz? De calor humano, dizem;
por calor humano entenda-se, para começar, de alguém com quem se
compartilha a vida, uma família bem estruturada e amigos, muitos amigos.
Trocando em miúdos: para não correr o risco de ficar só -nunca.
Mas, quanto mais gente em volta, mais problemas. Houve um tempo em que
se dizia que os casamentos seriam felizes para sempre; mais tarde, que
durariam sete anos. Mas o mundo mudou, a ciência moderna constata que o
amor dura no máximo dois anos e, como ninguém suporta ser infeliz por
mais de um fim de semana, o divórcio está em alta.
E a família, como vai? Ninguém conta, mas raras são as que se dão bem e,
quanto maiores elas são, mais brigas. Por ciúmes, inveja e, sobretudo,
por dinheiro. Aliás, dinheiro é o grande responsável por quase tudo;
ouso dizer (mas sem muita certeza) que existem mais brigas por dinheiro
do que por amor.
Quando se vê um homem ou uma mulher (sobretudo) com mais de 50 vivendo
só, tem sempre uma amiga que diz -com a melhor das intenções- "ah, você
precisa encontrar alguém". Às vezes a pessoa está bem, melhor do que
jamais esteve, mas, como existe essa certeza de que os seres humanos não
podem viver sós, ninguém acredita -ou não quer acreditar ou não
entende. Todos devem estar namorando, casando, ou qualquer outro nome
que se queira dar, e se estiverem com um parceiro, mesmo tristes,
infelizes, sem assunto, à beira de cometer suicídio ou um assassinato,
qual o problema? O importante é estar acompanhada, o que aliás nos tira a
felicidade de sermos as donas absolutas do controle remoto e poder
passar o fim de semana com a geladeira vazia e sem arrumar a cama.
Aliás, o que as pessoas fazem para que isso não aconteça? Elas se cercam
de pessoas com quem não têm quase nada em comum, das quais
frequentemente não gostam e até falam mal. Numa mesa de restaurante com
seis, oito pessoas, ninguém ouve o que o outro está dizendo, ninguém
consegue trocar uma ideia com quem está ao seu lado; mas essas são as
pessoas que falam mais alto, que mais dão gargalhadas, que mais parecem
estar felizes.
Quem está só parece -parece- ser a mais infeliz das criaturas, sem ter
um amigo para jantar e, em datas tipo Natal ou Ano Novo, dá até vontade
de chorar de pena.
Mas é curioso como nos relacionamos com nossos amigos -com a maioria
deles, digamos- estamos sempre tentando contar uma boa novidade ou sendo
inteligente ou falando coisas muito interessantes, para que nos
tornemos muito interessantes e assim possamos conservá-los. É bom ter um
amigo animado, que entra em nossa casa falando alto, perguntando o que
vamos beber e fazendo planos fantásticos para o próximo fim de semana
Mais curioso ainda é que não há amigo melhor neste mundo do que aquele
em cuja companhia você se sente tão bem, mas tão bem, que pode até ficar
calado pois parece que está só. Vai entender.
E aproveitando -e sendo bem incoerente, como é preciso ser às vezes-, um Feliz Natal para todos.
------------------
* Colunista da Folha
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/85413-estar-so.shtml
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário