segunda-feira, 13 de maio de 2013

Centroavantes

 L. F. Veríssimo*
 
Os centroavantes são diferentes. Nenhuma outra posição num time de futebol se presta tanto à controvérsia como a do centroavante. Sua função específica é fazer gols. Ou seja, nenhum outro jogador vive tão perto do cerne, da razão depurada e da glória final do futebol, que é a bola dentro do gol, como ele. É o centroavante quem mais faz gols, e assim cumpre seu propósito sobre a Terra, mas também é quem mais perde gols, e, assim, trai o seu destino.

Nenhum outro jogador – bem, talvez o goleiro, que também vive ali onde o futebol se define – transita como o centroavante entre a santificação e o abismo, às vezes de um instante para o outro.

De um goleiro não se discute onde deve ficar (é o único dos 11 que tem seu lugar bem demarcado, com casinha e quintal), mas existe uma longa discussão sobre onde e como um centroavante joga melhor.

Ele deve ser uma “referência”, termo impreciso para quem fica lá na frente, de costas para o gol, levando botinadas no calcanhar, servindo de pivô como no basquete e garantindo uma certa simetria nos ataques, ou deve escapar da solidão da grande área, buscar o jogo e vir de trás e de frente para o gol?
Estou escrevendo tudo isto porque nesta semana vi jogar dois exemplos parecidos da espécie, o togolês Emmanuel Adebayor, do Tottenham Hotspurs, de Londres, e o Jô, do Atlético Mineiro. São dois negros altos com habilidade incomum para jogadores com seus biótipos, e os dois são da estirpe dos que vêm de trás, apesar da altura ideal para serem “referência”.

Adebayor atuou no empate do Tottenham com o Chelsea, Jô no chocolate mineiro que o Atlético deu no São Paulo, e foram os principais jogadores em campo. São dois que eu gostaria de ter no meu time.

Aliás, outra razão para estar escrevendo isto é que o Jô esteve no meu time, o Internacional. Ficou na reserva, entrou umas três ou quatro vezes – e não fez muita coisa. Espera-se tanto dos centroavantes que é difícil dizer quando eles simplesmente não estão correspondendo à exigência imediata de fazer gols, numa fase ruim passageira, ou não têm o futebol desejado e nunca terão. Vendo o Jô marcar seus gols contra o São Paulo, ficou a mágoa: ele precisava ter a sua temporada no abismo logo no Internacional?
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* Escritor. Cronista da ZH
Fonte:  http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4136088.xml&template=3916.dwt&edition=21952&section=70
Imagem: reprodução da Internet: Jô e Emmanuel Adebayor,

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