Construir um estádio de futebol custa caro em qualquer lugar do
mundo. Mas o custo pode ser ainda mais alto por fragilidade técnica do
projeto descoberta durante a obra ou por excesso de otimismo - inspirado
pelo próprio projeto ou pela realização do evento. Afinal, Copa é Copa!
O direito do Brasil de ser, pela segunda vez, sede da Copa provocou
grande entusiasmo. Doze estádios foram programados para as partidas e
construídos do zero ou reformados de cabo a rabo. O orçamento previsto
para a arrumação foi cravado em US$ 3,25 bilhões em 2007 e parecia caber
na conta brasileira sem crise financeira global batendo à porta,
inflação se acomodando no centro da meta e Selic em queda. Em 2011, o
orçamento já havia progredido para US$ 6,42 bilhões. No início de 2013, a
US$ 6,99 bilhões. Seis anos depois da euforia, da posse de um novo
governo, de um controle discutível da inflação pela presidente Dilma
Rousseff e da clara percepção de queda do poder de compra da população,
estaria a Copa ficando menor aos olhos do brasileiro? Os protestos nas
ruas exibem indignação pela construção dos estádios e a baixa oferta de
serviços de saúde e educação. As suspeitas acerca dos custos dos
estádios, em supostas operações superfaturadas e atos de corrupção, têm
fundamento?
O custo de um estádio é avaliado internacionalmente pela relação
entre o custo total e sua capacidade (custo por assento). E esse
critério, da base de dados da ONG Play the Game, uma entidade da
Dinamarca, cujo objetivo é fortalecer a ética no esporte, mostra que o
custo de um estádio da Copa no Brasil custa US$ 5.886 por assento; na
Copa realizada na África do Sul, US$ 5.299; na Coreia/Japão, US$ 5.070; e
na Alemanha, US$ 3.442. O custo do estádio no Brasil ficou bem distante
basicamente do custo do estádio na Alemanha - 40% menor.
O Instituto Braudel de Economia trata do tema no estudo "Quanto custa
um estádio de futebol? Ou: ainda temos tempo de economizar 42
maracanãs", preparado por dois Consultores-Legislativos do Senado
Federal: o doutor em economia Marcos Mendes e o jornalista Alexandre
Guimarães, que consideram surpreendente o fato de o Brasil não ter gasto
muito mais que Japão e Coreia do Sul, que são países muito mais
produtivos e com processo de engenharia mais avançado que o Brasil.
"Todos aqueles que conhecem o Brasil esperariam preços muito acima da
média internacional, não só devido a uma percepção de alta corrupção e
ineficiência, como também pelo fato de que o custo de investir no Brasil
é elevado", escrevem.
A grande diferença entre a Alemanha e as outras sedes de Copas,
explicam, é decorrência de aquele país já dispor, antes da sua Copa, de
diversos estádios que atendiam ao padrão da Fifa, o que reduziu custos.
"Paira a dúvida se todos os estádios brasileiros realmente precisavam
ser totalmente reconstruídos, ou se faltou capacidade de negociação de
nossas autoridades junto à Fifa, no sentido de flexibilizar exigências.
Principalmente no caso do Maracanã, que passou por ampla reforma há
poucos anos", comentam os consultores.
No ranking de 19 estádios (Brasil, África do Sul, Coreia/Japão e
Alemanha) construídos ou reformados, o Mané Garrincha, em Brasília, tem o
custo por assento de US$ 8.830. É o quarto estádio de custo mais
elevado, sendo ultrapassado pelo Saporo Dome (Japão/US$ 10.373), o Cape
Town Stadium (África do Sul/US$ 10.041) e o Nissan Stadium (Japão/US$
8.846).
Os estádios brasileiros Fonte Nova (custo de US$ 5.639), Arena
Pernambuco (US$ 5.518) e Mineirão (US$ 5.512) estão abaixo da média
geral, de US$ 6.429 por assento das arenas construídas ou submetidas a
grandes reformas para as últimas quatro Copas do Mundo.
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