Género con clase
Adital
Yayo Herrero,
activista social y ecofeminista
EcoPolítica: Quando se fala em ecofeminismo,
muitas mulheres feministas o rechaçam, pois, em certas correntes, volta a dar
às mulheres o papel de cuidadoras da vida. Como vês essas críticas? Acreditas
que o ecofeminismo poderia ser uma alternativa para o mundo feminista e
englobar as demais mulheres que não se definem como tal?
Yayo Herrero: O ecofeminismo, segundo nosso entendimento propõe o cuidado da vida humana e os
trabalhos que se encarregam da reprodução social são absolutamente
imprescindíveis e não podem deixar de ser feitos. Isso não quer dizer que
somente devam ser executados por mulheres. A necessidade imperiosa é que os
homens, além do Estado e dos mercados, assumam corresponsavelmente essas
tarefas que, muitas vezes, são penosas e duras.
É muito normal que
os diferentes feminismos alertem sobre o perigo de mistificar os cuidados ou
reivindicá-los sem questionar a atual divisão sexual do trabalho.
Não se trata
somente de dar valor aos trabalhos domésticos, coisa que, sem dúvida, ele tem;
mas, de reclamar uma repartição justa dessas tarefas entre homens e mulheres,
bem como ressaltar a necessidade de que a sociedade em seu conjunto e os
Estados se tornem responsáveis por eles.
EP: Ao lado de outras correntes, como o
ecopacifismo, o meioambientalismo, o ecossocialismo, entre outros, que papel teria
que jogar o ecofeminismo dentro da Ecologia política?
YH: O ecofeminismo e os diferentes feminismos
têm que jogar um papel muito importante nas propostas da ecologia política. A
economia feminista tem uma elaboração teórica e uma série de propostas ao redor
do modelo de trabalho ou da construção dos espaços públicos e da organização do
tempo, por exemplo, absolutamente sinérgicas com as do ecologismo social.
Desbancar aos mercados e seus benefícios como epicentro da sociedade requer
mudar o sistema de prioridades sociais e nesse tema o ecologismo necessita das
contribuições que, há décadas, os diferentes feminismos vêm realizando.
EP: Como ativista social e ecofeminista, qual
tua opinião sobre a dinâmica de Europe Ecologie, na França, e as propostas de
criação no Estado espanhol de uma "cooperativa política” para dar um novo
impulso à galáxia ecologista e verde?
YH: Nesses tempos, as iniciativas de cooperação
devem ser observadas com interesse. É necessário ver quais são as propostas de
transformação que impulsionam essas iniciativas. Para mim, se desenvolvem
dentro dos marcos do capitalismo suave e verde; não propõem mudanças
estruturais profundas; não apostam em mecanismos de repartição da riqueza
(renda, trabalho, terra etc.) que levem em consideração as relações
centro-periferia e não propõem reduções muito significativas da extração de
materiais e geração de resíduos... Serão iniciativas pouco críveis além das
etiquetas com as quais se apresentem. Creio que já levamos muito tempo
equivocando-nos e muitos dos principais problemas que afrontam a humanidade
(como mudança climática, crise energética, pico de diferentes materiais, perda
de biodiversidade etc.) em apenas uns poucos anos serão irreversíveis.
EP: A presença e a influência de mulheres
está ainda longe dos níveis desejados nos movimentos alternativos, sociais,
políticos etc. Em tua opinião, quais são os caminhos para que as mulheres se
incorporem e contribuam com teoria e prática ao movimento alternativo em geral
e ao movimento verde, em particular?
YH: Creio que precisamente a repartição de
tarefas de reprodução social e trabalho doméstico é essencial. Nos movimentos
sociais que eu conheço há muitas mulheres jovens ativas; porém, a partir de
certa idade, a participação é muito mais masculina.
Nos movimentos sociais e espaços de
participação política se reproduzem os mesmos esquemas de repartição desigual
dos diferentes tipos de trabalho, os mesmos esquemas de relações de poder que
na sociedade.
Além disso, em alguns coletivos, permanecem
formas de relação arcaicas que são agressivas e que valorizam o debate áspero
ou as intervenções intermináveis, como mostra de pensamento crítico. A
violência gratuita nas reuniões ou espaços de elaboração inibe a participação
de muitas pessoas e, especialmente, das mulheres.
EP: Em alguma conversa e Artigos comentaste
sobre a necessidade de desenvolver a teoria do Decrescimento e aplicá-la à vida
diária. Nesse sentido, quais são os desafios e as contribuições que podem ser
feitas a partir do mundo e da teoria feminista ao decrescimento?
YH: Em primeiro lugar, me parece essencial a
visibilização da ingente quantidade de trabalho oculto que se desenvolve no
espaço doméstico e que se torna imprescindível para a sociedade. Em segundo
lugar, é central a exigência de que esses trabalhos, muitos dos quais são
penosos e ninguém os realizaria, caso pudesse evitá-lo, devem ser repartidos e
os homens não podem fugir deles.
A dedicação dos tempos à realização de
trabalhos necessários socialmente e a escassez dos tempos dedicados a realizar
trabalhos destrutivos do meio ambiente e da própria sociedade (uma boa parte
dos setores atuais) pode ajudar a configurar um mundo articulado ao redor da
resolução das necessidades das pessoas e não da obtenção de benefícios.
A ideia de viver bem com menos se centra na
urgência de frear e de reduzir a extração de materiais e a geração de resíduos,
ao mesmo tempo em que melhoramos a qualidade relacional e comunitária dos
lugares em que vivemos.
Os feminismos contribuem com uma crítica ao
modelo urbano e uma série de propostas ao redor da geração de serviços públicos
que cubram parte das necessidades de cuidados, bem como uma denúncia do
componente de classe, além do sexual, que existe na atribuição dos trabalhos
domésticos.
Para mim, não é viável uma sociedade que
pretenda decrescer no aspecto material, porém, que não seja anticapitalista e
antipatriarcal.
-------------
Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=76162
Nenhum comentário:
Postar um comentário