terça-feira, 12 de abril de 2011

Opiniões

LUÍS AUGUSTO FISCHER*

Quando um escritor é jovem, ele sente de algum modo que o que ele vai dizer é muito bobo ou óbvio ou lugar-comum, e então tenta esconder isso com ornamentos barrocos; ou, se não, decide ser moderno, e então faz o contrário: está o tempo todo inventando palavras, ou aludindo a aviões, estradas de ferro, ou o telégrafo e o telefone, porque está dando o melhor de si para ser moderno.

O objetivo de todo artista é deter o movimento, que é vida, por meios artificiais, mantendo-o fixo, de modo que, cem anos depois, quando um estranho olhar para aquilo, ele se movimento de novo, por ser vida. Como o homem é mortal, a única imortalidade possível para ele é deixar algo atrás de si que seja imortal porque sempre vai se movimentar.

Nosso governo é fraco, pouco sólido; temos corrupção. Na minha opinião, nossos piores males são as escolas e a política de saúde, que é horrível. A profissão de professor é exercida por homens e mulheres na faixa dos quarenta anos que participaram das revoltas de 1968, e muitos deles não estudaram, não se especializaram em coisa alguma. Como podem ensinar sem ter aprendido? Essas pessoas abandonaram a cultura pelo ativismo, pela aventura, pelas lutas políticas, e assim por diante. Agora formam a maioria do magistério. Os alunos sofrem.

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O primeiro parágrafo é de Jorge Luis Borges, em entrevista concedida em 1966. O segundo é de William Faulkner, entrevistado em 1956. O terceiro é Primo Levi, falando em 1985. De minha parte, subscrevo as três opiniões, as três impressões, distantes entre si no tempo e no espaço (Argentina, EUA, Itália), três vozes díspares (irônico, frio, patético, pela ordem), que nada têm em comum a não ser estarem todas num livro magnífico, As entrevistas da Paris Review, vol. 1, com tradução certeira de Christian Schwartz e Sérgio Alcides (Cia. das Letras). Aulas de sabedoria metidas em meio a intensas reflexões sobre o ofício de escrever, sobre os diversos modos de viver.
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*Professor de literatura brasileira na UFRGS, doutor em Nélson Rodrigues, escritor, cronista e jornalista nas horas vagas.
Fonte: ZH online, 12/04/2011
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