segunda-feira, 19 de setembro de 2022

JAIR, ELIZABETH E PAULO

 Chico Alencar*

Pode ser arte
O presidente que "não é coveiro" foi ao sepultamento da rainha Elizabeth II. Estridente e aflito com as pesquisas eleitorais, aproveitou para fazer comício na sacada da embaixada brasileira em Londres (prédio público). 
 
Disse, entre outras impropriedades, que "vai ganhar a eleição no 1º turno". Num posto, louvou o preço da gasolina no Brasil, comparando-o com o da Grá-Bretanha. Só esqueceu de dizer que o salário mínimo lá é nove vezes maior que o nosso... 
 
Não guardou a discrição que é esperada de um chefe de Estado que, com recursos públicos, faz uma viagem de condolências... Condolências que, como sabemos, "esqueceu" de dar às 685 mil famílias do Brasil enlutadas pela Covid. Nenhum dos que se foi aqui era da nobreza, nem tinha os dotes milionários da família real inglesa.
 
O dia do sepultamento de Elizabeth II, com tanta pomba, depois de um longo velório entre palácios suntuosos, coincide com o do nascimento de Paulo Freire, educador brasileiro, que sempre viveu no chão da simplicidade. Paulo, pernambucano e republicano, veio ao mundo há exatos 101 anos, em 19 de setembro de 1921. 
 
Paulo não teve seu sepultamento, após a morte em 2 de maio de 1997, acompanhado por mais de 100 governantes. Nem foram tocadas trombetas e gaitas de fole abrindo longas cerimônias de despedida.
Mas Paulo está no dia a dia de quem, nas choupanas da realidade e nas precárias escolas onde se educa, sabe que ensinar é trocar, é humanizar, é libertar e libertar-se ("não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes").
 
Paulo, cuja fecunda vida de trabalho celebramos hoje, foi um semeador: "a gente tem que lutar para tornar possível o que ainda não é possível. Isto faz parte da tarefa histórica de redesenhar e reconstruir o mundo".
Paulo, nome que vem do latim "paulu", que significa "pequeno" - em contraposição às dinastias monárquicas dos "grandes", como os da Casa de Windsor - foi gigante.
 
Nosso Paulo - cuja memória e pedagogia alguns negacionistas querem eliminar (Bolsonaro, que nunca o leu, o xingou de "energúmeno") - viveu docentemente, animado pela utopia, pela "ilusão de ética" de uma sociedade igualitária e fraterna. "Estarei preparando a tua chegada/ como o jardineiro prepara o jardim/ para a rosa que se abrirá na primavera", versejou no exílio, em 1971, plena ditadura. 
 
Não por acaso, Paulo Freire inventou o verbo "esperançar"! CONJUGUEMOS, SEMPRE!
Diálogos do Sul/Opera Mundi
 
* Francisco Rodrigues de Alencar Filho, conhecido como Chico Alencar é um historiador, professor e político brasileiro, filiado ao Partido Socialismo e Liberdade.
Fonte:  https://www.facebook.com/chicoalencar/

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