sábado, 2 de março de 2024

Medo da solidão

Mara Tosato *

 

Foto Reprodução Web

 

É possível confundir a solidão com um vazio emocional, que é uma sensação de estar perdido diante do mundo

A psicanálise encara a solidão como afeto inato e até necessário ao processo de subjetivação do sujeito. Entretanto, isto não significa que o isolamento social seja saudável ou que não devemos buscar a melhoria no modo como nos relacionamos. É comum ouvirmos que a solidão é um "sintoma cultural da pós-modernidade", porém Lacan não concorda com esta afirmação, pois o sintoma psicanalítico é favorecedor de vínculo social e a solidão, por si só, faz um movimento contrário. Mas nem sempre quem experimenta a solidão está, de fato, sozinho. Algumas pessoas podem estar cercada de afeto, com seus familiares, amigos e mesmo assim não conseguir fazer a manutenção desses vínculos, e por muitas vezes é possível confundir a solidão com um vazio emocional, que é uma sensação de estar perdido diante do mundo, sem saber que direção deve seguir, sem perspectivas que fundamente a nossa existência.

O sujeito da psicanálise desde sua origem é interpretado por outras pessoas, por exemplo: Quando o bebê chora é sua mãe (ou sua cuidadora) quem interpreta: "ah, esse choro é de sono, esse choro é de fome". Antes mesmo de nascer já existíamos nas expectativas de nossos pais e familiares. E assim vamos existindo através do olhar das outras pessoas. 

Em um dos meus atendimentos, ouvi de uma viúva que ela "nunca mais seria a mesma pessoa, pois ninguém a olhava como o marido dela. E o que mais sentia falta era daquela versão dela mesma". Por isso a ideia de estar só nos apavora tanto? A ideia de que eu existo através do olhar do outro, me leva a um ponto crucial; pois se não tem quem me veja, como vou existir?

 *Psicanalista

Fonte: https://www.jornalfato.com.br/artigos/medo-da-solidao,437150.jhtml

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