domingo, 8 de janeiro de 2023

Gatos, tubarões e cães no caminho de papas, cineastas e presidentes

 Por Sérgio Augusto

Imagem 

 Bento XVI escrevendo mais um livro tendo seu gatinho de companhia. Maurício Ribeiro on Twitter:

Bichos viram protagonistas nas vidas de Bento 16, Spielberg e Lula

Bento 16 não tinha cara de elurófilo. Mas o papa Leão 12 tampouco tinha e no entanto também adorava gatos. Do seu xodó felino o escritor e ministro francês Chateaubriand passou a tomar conta. Os de Joseph Ratzinger ficarão sob custódia da Santa Sé ou mesmo da prefeitura romana, que entende do riscado.

Spielberg ganhou os tubos com Tubarão e seu avassalador êxito comercial (já foi a maior bilheteria de todos os tempos) contribuiu de forma decisiva para sufocar o cinema independente que a chamada “geração sexo, drogas e rock’n’roll” germinara em Hollywood, a partir de Sem Destino (1969). Spielberg simplesmente reinventou o blockbuster. Não de todo vassalo de sustos e horripilâncias; aqui e ali com brechas para algum tipo de “crítica social”. Um dos subtemas de Tubarão é a ganância capitalista. O maior predador do filme não é bem o tubarão, mas o prefeito e os hoteleiros da Ilha Amity, que, qual Pazuellos do turismo, se omitem e mentem para não prejudicar os negócios, fazendo jus à acepção metafórica que os dicionários dão às palavras tubarão e “shark”.

Roy Scheider no filme de Spielberg, ‘Tubarão’, que seu criador abjurou por incentivar caça aos bichos
Roy Scheider no filme de Spielberg, ‘Tubarão’, que seu criador abjurou por incentivar caça aos bichos Foto: Universal Pictures

Em seu extemporâneo mea culpa, o cineasta se ateve ao “danoso” estímulo que seu thriller deu à pesca do tubarão como atividade esportiva. Por sorte, o tubarão do filme era fake, um artefato mecânico, como a Moby Dick de John Huston, não um bicho de verdade, como os golfinhos Flipper e Winter. Do contrário, Spielberg teria de prestar contas aos órgãos que desde 1938 monitoram o tratamento dado a animais em produções cinematográficas.

Mea culpa mais consequente ficaram devendo vários diretores da velha guarda hollywoodiana, entre os quais Michael Curtiz, que nada fez para evitar o morticínio de dezenas de cavalos durante as filmagens de A Carga da Brigada Ligeira, em 1936. Contrariando as ameaças dos bozogolpistas, Lula não só logrou subir sem obstáculos a rampa do Planalto como ainda inovou, levando pela coleira a estopinha Resistência, mestiça até pouco tempo sem lar e agora primeira-cadela no Alvorada. Muita gente achou aquilo ridículo, mas logo entregou os pontos.

Os presidentes norte-americanos são mais publicamente apegados aos seus animais de estimação do que os nossos. E até mais dependentes deles politicamente. Graças a um discurso piegas sobre um cocker spaniel chamado Checkers, Richard Nixon escapou de perder a corrida presidencial de 1952, como vice de Eisenhower. Franklin Roosevelt só assegurou um quarto mandato presidencial após resgatar sua scottish terrier, dada como perdida numa das ilhas Aleutas, durante a Guerra do Pacífico. O que Resistência podia ter feito por Lula ela já o fez.. 

*Jornalista.

Fonte:  https://www.estadao.com.br/alias/gatos-tubaroes-e-caes-no-caminho-de-papas-cineastas-e-presidentes/

Nenhum comentário:

Postar um comentário